quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Aprender com outras Igrejas

  Pe. Zezinho, scj


Mesmo com diferenças abissais na doutrina, podemos e devemos aprender com a comunicação de outras igrejas. É o caso de algumas igrejas dos últimos 40 anos. Acompanhei algumas delas desde seus inícios porque alguns dos pregadores me procuravam por admirarem meu caminho como sacerdote e compositor de canções. Desde cedo usaram de uma linguagem que atraia os jovens. Tornaram-se intencionalmente Igrejas-espetáculo.

A maneira como seus lideres pregam, sempre de forma dramática, emotivos, até com lágrimas, tudo na hora certa mostra que quiseram seguir este caminho de atores pregadores e de mexer com o sentimento do fiel. Se há pregadores cantores, médicos, advogados, porque não pregadores atores? E eles atuam! É um espetáculo vê-los atuando no palco diante das câmeras. Sabem usá-las.

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Seus shows são cuidadosamente produzidos. Em alguns deles há mais de 100 jovens no palco, liderados pela fundadora daquela igreja que domina o mundo da canção e as câmeras. Há outros e outras nos Estados Unidos e em outros continentes. Há grupos de dança detalhadamente preparados, músicos da melhor qualidade, ritmos envolventes, letras convidativas e melodias fáceis de cantar. Estamos falando de arte. Não hesitam em gastar fortunas na produção. Trajes, bem cuidados, luzes, instrumentos, tudo aponta para um louvor riquíssimo para Deus.

A Bíblia mostra que no tempo de Davi, rei, os louvores eram coisa estrondosa e extraordinária. Cantores moravam em tendas perto do templo onde se revezavam. Davi pessoalmente distribuía os turnos. Ele também fora músico e cantor. Hoje algumas igrejas investem ricamente nessa pastoral porque ela atrai, principalmente os jovens.

Podemos e devemos aprender com a arte deles, como alguns deles dizem que aprenderam comigo e outros compositores católicos. Mas a verdade é que eu nunca produzi um show com a força de comunicação dos shows deles. Se eles, os evangélicos tiveram Bach e Haendel e outros, nós tivemos Santo Efrém, Palestrina, Vivaldi e outros. No passado, as igrejas investiam muito mais em música. Hoje, a preocupação com a formação dos cantores e músicos é grande. Os documentos são muitos, mas os investimentos, não!

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Discordo da doutrina, das idéias e da teologia deles, mas devo admitir que acharam a linguagem. Em toda a Igreja Católica no Brasil, com raras exceções, não há como produzir um show como eles produzem. Mesmo tendo nós capacidade, não produzimos porque não se investe nessa linguagem. Nossos shows são mais modestos e, em muitos casos, amadores demais. Eles trabalham com maestros, coreógrafos e músicos de primeira linha. O resultado é que encantam os jovens. Não foram poucos os que migraram para igrejas pentecostais por conta da arte e da música. Parecem-lhes Igrejas que se mexem. Tomemos por exemplo a Canção YMCA( Associação Cristã de Jovens Rapazes) catada pelo Village People. Melodia forte, palavras fortes, coreografia forte, mensagem envolvente.

A um casal de jovens que me perguntou porque nossa Igreja, com tantos autores, cantores, músicos de qualidade não investe no espetáculo, respondi que não temos o dinheiro e não parece ser prioridade entre nós. A meu ver não deve mesmo ser prioridade. Mas poderia ter mais espaço. Os empresários não investem, as dioceses não têm dinheiro e não temos a cultura do dízimo. Se a tivéssemos, pelo número de fiéis que caminham conosco, teríamos dinheiro de sobra para tentar esta via. Este tipo de linguagem custa caro. Nosso dinheiro, porém, é muito mais investido em hospitais, creches, asilos, seminários, orfanatos, escolas e obras sociais.

Não é que eles não o façam, mas entre eles o dinheiro vai maciçamente para erguer novos templos e, em algumas igrejas, para produzir estes espetáculos-mensagens que conquistam mais fiéis. Suas obras sociais são bem mais modestas. Apostam no louvor e na conquista de novos prosélitos. Como eu disse, discordo de muitas coisas deles, mas admito que este deveria ser um caminho mais comum entre nós. Afinal, somos cerca de 130 milhões de católicos e investimos muito pouco nesse tipo de mensagens. Nosso canto, mesmo quando rico de conteúdo, tem orçamento mais modesto. Se vai mudar não sei. Mas penso que traria maiores resultados pastorais.

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