segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Em busca da linguagem certa


 Pe. Zezinho, scj

A comunicação humana é feita de linguagens. E linguagem é mais do que vocábulos enfileirados. Não se prega apenas com a linguagem falada: existe a escrita, a dos sinais, a dos gestos, a de palco, a de rádio e a de televisão, existem o teatro e a música... Assumir uma linguagem equivale a viajar em veículo especial ao encontro dos outros. No veículo, quem vai precisa saber conduzir. Não se pode dirigir bicicleta como se fosse moto, nem moto como se fosse carro, nem carro como de fosse avião. Todos os veículos têm as suas vantagens e os seus limites.

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Falemos das linguagens religiosas. Há religiosos pregadores não se importam muito com essa distinção e até se ofendem quando alguém lhes diz que usam de maneira errada um veículo certo. Na verdade, embrulham conteúdo bom em pacote errado. Fica pior quando o conteúdo é ralo e repetitivo, por falta de mais cultura e mais leitura, e, ainda por cima, a linguagem é exagerada.

Falar em linguagem de púlpito, com voz de púlpito para ressoar em abóbada que não existe é emitir o som errado no microfone e no lugar errado. O pregador teria que achar o tom e a altura do seu discurso sem gritar ou falar ao microfone perto demais. Quando a voz sai empolada e impostada, quando o povo mal ouve o que ele grita ou murmura, é sinal de que, embora o pregador use de vocábulos e termos teologicamente corretos, adota a linguagem errada. Ignorou a linguagem do microfone, onde o som mal utilizado prejudica o conteúdo.

Uma coisa é o idioma, outra, a linguagem pela qual o idioma passa. Microfone raramente é para gritar, exceto em estádios ou praças públicas e, mesmo assim, devidamente controlado.

Luzes e câmeras, lugar, posição dos pregadores ou cantores no palco, postura, trajes, uso de pequenos recursos e das cores adequadas, tudo isso requer engenharia e parceria. Se é para ser visto, que o pregador se mova, mova os olhos, mova a cabeça, os braços e as mãos como quem conta uma história ou leva à reflexão milhares de pessoas que estão em casa confortavelmente instaladas num sofá e facilmente sujeitos à distração.

A linguagem que vem pelas câmeras precisa ser mais envolvente, menos estática e muito mais cheia de detalhes que não ofusquem a fala nem o canto. Pregadores que não se mexem, ou que mal conseguem mover os dedos, tal a exiguidade dos gestos, parecerão estátuas.

Pregadores que pulam saltam, reviram os olhos, mexem-se demais, parecerão bonequinhos de desenho animado. O exagero dos gestos, bocas e olhos desmesuradamente abertos, exuberância estudada, já que no cotidiano não são assim, podem chamar demais a atenção do telespectador para a pessoa do pregador e não para a sua mensagem, que talvez seja boa.

Deitar e rolar no chão enquanto prega, engatinhar, agachar-se, pular pelos corredores do templo o diante das crianças pode dar certo com o grupo de dança, ou com a catequista a ilustrar o sermão ou a mensagem antes da missa. Mas, se o pregador fizer isso, terá usado as câmeras com gestos errados. O decoro da liturgia exige moderação do seu presidente. Boa intenção requer, no mínimo, boa reflexão e boa direção. Quem ainda não estudou a linguagem dos gestos e do visual e o impacto dessa linguagem sobre o telespectador precisa aconselhar-se com quem a conhece. Para isso, existem diretores de palco e professores de dança ou de cerimonial. É só convidá-los!

Quem vai conjugar duas ou três linguagens numa cerimônia precisa saber como usá-las. Gesto é uma coisa, dança é outra, som é outra. Além disso, existe o conteúdo que é também uma linguagem. Será de libertação? Será de louvor? Será carismática?

www.padrezezinhoscj.com
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