segunda-feira, 1 de abril de 2019

POR QUE ME TIRARAM O DESERTO NA QUARESMA



Mestre a tua igreja não prega mais o sentido da quaresma, deixaram as coisas do Céu e se apegaram as coisas do mundo, hoje, elas só vivem de campanha, ano, após anos, por isso vim para o deserto, para tentar entender porque a Igreja não convida mais os seus fiéis a fazerem deste tempo como que um retiro espiritual em que o esforço de meditação e de oração deveria ser sustentado por um esforço de mortificação pessoal cuja medida deveria ser deixada à livre generosidade de cada um.
Se bem vivida, a Quaresma conduziria a uma conversão pessoal autêntica e profunda, a fim de participar na festa maior do ano: o Domingo da Ressurreição do Senhor.

Porque “todos os anos, pelos quarenta dias da Grande Quaresma, a Igreja deveria une-se ao mistério de Jesus no deserto"(Catecismo da Igreja Católica, 540). Ao propor aos seus fiéis o exemplo de Cristo que se retira para o deserto, prepara-se para a celebração das solenidades pascais, com a purificação do coração, uma prática perfeita da vida cristã e uma atitude penitencial.

Completo o meu raciocínio com essa passagem do Universo Católico, pois essas campanhas poderia esperá, ser em outro tempo, mas durante a QUARESMA, NÃO!!!

Jesus no deserto
Jesus no deserto! Poderia fazer lembrar o tempo de hoje quando, em todo o mundo, vive-se ainda ou no desconhecimento do Filho de Deus que se fez Homem, salvador e redentor de todo homem, ou mesmo, tendo-o conhecido, voltou-lhe as costas por não querer se comprometer com a verdade, a justiça e o amor autêntico.
         Justamente o tempo da quaresma é um convite para estar com Jesus no deserto.

         O evangelho de Marcos 1, 12-15, lido no primeiro domingo da quaresma, assim diz: “Naquele tempo, O Espírito levou Jesus para o deserto, onde ficou  durante quarenta dias, e  foi tentado por satanás.”

         Jesus tinha apenas acabado de ser batizado no rio Jordão por João Batista, recebeu a investidura messiânica quando se ouviu a voz do Pai: “Este é o meu Filho muito amado, escutai-o”. Foi enviado para anunciar a boa nova aos pobres, curar os corações feridos, pregar o Reino. Antes porém Jesus jejuou, rezou, meditou, lutou, em profunda solidão e silêncio.

         Muitos homens e mulheres, desde a antiguidade cristã, escolheram imitar Jesus, nos desertos do Egito, da Palestina, em lugares solitários, montes e vales remotos. Assim surgiram mosteiros, ordens contemplativas e tantas casas de retiros em toda a parte até na atualidade.

         O deserto que a quaresma recorda é um convite para todos os que crêem, para todos os que buscam a verdade absoluta, Deus.

Há uma exortação feita por Santo Anselmo de Aosta a nós dirigida para celebrar com proveito a quaresma: “Pobre mortal, foge  por breve tempo de tuas ocupações, deixa um pouco os teus pensamentos tumultuados. Deixa para traz,  nesse momento, graves preocupações e põe de lado tuas fadigosas atividades. Sê,  um pouco, atento a Deus e nele repousa. Entra no íntimo de tua alma. Exclui tudo, menos Deus e aquele que te ajuda a procurá-lo. Fecha a porta e diz a Deus: Procuro o teu rosto. O teu rosto eu procuro, Senhor.”

         Deserto tornou-se o modo de viver a quaresma: fazer um pouco de vazio e de silêncio em torno de nós, reencontrar o caminho do nosso coração, subtrair-nos ao barulho  e às solicitudes externas, para entrar em contato com as profundezas do nosso ser. Estamos intoxicados por excesso de rumores e luzes de vídeos, gravações e cartazes. Tornamo-nos insensíveis e sem capacidade de reflexão. Vivemos de ficções, do irreal.

         O deserto próprio da Quaresma não é lugar árido, sem vida e sem comunicação. Vale lembrar a palavra de Deus dirigida a seu povo, segundo o profeta Oséias 2, 16: “Eu o conduzirei ao deserto e falarei ao seu coração”.

         A palavra de Deus é abundante para nos propor o caminho para fazer o bem e evitar o mal, para nos levar à revisão de vida, à conversão, ao encontro com Ele através de seu Filho que nos revela todo o amor do Pai para conosco. O evangelho nos diz que o Espírito, do qual está repleto, o impele para o deserto; o Filho de Deus se deixa levar pelo Espírito. Vale lembrar a carta de Paulo aos Romanos: “Todos os que se deixam levar pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.”

         O deserto é lugar de encontro com Deus, como para os israelitas (Êxodo 19 e Deuteronômio 8), quarenta dias passaram no deserto Moisés e Elias e são tomados como base de nossa quaresma litúrgica. Satanás é o rival, que procura frustrar ou desvirtuar o projeto de Deus. Jesus supera a prova. Antes de começar sua atividade messiânica, tem de ser provado e comprovado. Convive, pacificamente, com animais selvagens, os anjos estão a seu serviço: como se dissesse que os anjos de Deus estão a serviço do filho de Deus (Hebreus 1, 4.14). Do deserto Jesus volta à Galiléia para começar aí o seu ministério de proclamar a boa notícia. Está próximo o reinado efetivo de Deus, o exercício do seu poder real na história. Em Jesus já está atuando e por ele se oferece. Só pede a ruptura do arrependimento e a fé, elementos que perduram na pregação posterior do evangelho.

         O evangelho de Marcos dá início à descrição da atividade de Cristo, com esta página, onde é colocado em realce como nele teve início uma nova criação. No caos primordial, a criação foi plasmada pela força criadora do Espírito, como agora mesma força leva Jesus ao deserto, para dar início, no reino do mal e da morte, à obra da salvação. O Espírito é o amor criador de Jesus o único capaz de restaurar a obra da criação e a regeneração do ser humano. Só o amor pode criar, só o amor pode refazer o coração do homem.

         Durante toda a quaresma a liturgia nos recordará: “Hoje, não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz do Senhor.”

Dom Geraldo M. Agnelo - Cardeal Arcebispo de Salvador

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