quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Bem-aventurados os pobres

O ex-presidente da República Luís Inácio Lula da Silva  interpretou, dia 27 de julho último, em Salvador na Bahia esta  passagem bíblica, dizendo  que é “bobagem” o que Jesus apregoa sobre a promessa de que no reino dos céus é que os pobres serão fartos.  Tolice, disse ele,  essa coisa que inventaram que os pobres na outra vida é que serão bem-aventurados. Com suma petulância, acrescentou: “Nós queremos o reino agora, aqui na Terra. Para nós inventaram um slogan que tudo está no futuro. É mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha do que um rico ir para o céu. O rico já está no céu, aqui”. Ele insistiu: “Queremos que todo mundo vá para céu, agora. Queremos ir para o céu vivos. Não venha pedir para a gente morrer para ir pro céu que a gente quer ficar aqui mesmo” (sic). Causou profundo pesar a quantos respeitam a Palavra de Deus contida na Bíblia, estas lamentáveis  declarações de quem já foi Presidente da República. Um de seus pronunciamentos  mais infelizes entre outros não menos desastrosos. A imprensa registrou as palavras acima referidas as quais  revelam um profundo desconhecimento da mensagem bíblica sobre os pobres e a pobreza. Cumpre em primeiro lugar ressaltar que o Mestre Divino  pregou foi o desapego dos bens terrenos e não o menoscabo por tudo que é necessário para a subsistência humana. Além disto, é de se observar que os pobres têm um lugar privilegiado no texto do Evangelho de São Lucas A parábola de Lázaro e do mau rico é expressiva (Lc 16,19-31). Este endeusa seu bem-estar, enquanto que ao pobre nem é dado apanhar as migalhas que são lançadas fora da mesa. O Papa Bento XVI no seu extraordinário livro intitulado “Jesus de Nazaré” mostra que “esta parábola, à medida que nos desperta, é ao mesmo tempo um apelo para o amor e para a responsabilidade que precisamos agora ter para com os nossos irmãos pobres, quer no plano da sociedade mundial quer na pequenez do nosso cotidiano”. Multiplicam-se no Evangelho de São Lucas  as passagens nas quais a pobreza de espírito, o desprendimento dos valores do que é transitório  é sabiamente inculcado por Cristo. Este, de fato,  ensinou: “Não andeis muito preocupados em relação à vossa vida, com o que tereis para comer, nem relação ao vosso corpo com o que tereis para vestir” (Lc 12,22) [...]  “Vendei o que possuís e dai-o de esmola. Fazei para vós bolsas que não se gastem, um tesouro nos céus que não se esvaziará, do qual o ladrão não aproxima e a traça nada destrói. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração” (Lc 12,34). É deste modo que os batizados se tornam uma verdadeira comunidade dos pobres de Deus, na qual não deve haver ricos de coração vazio, nem pobres que nada possuem mas que podem estar contaminados pela cobiça da posse das coisas terrenas. Alerta, ainda, Bento XVI, na obra acima referida, que a verdadeira pobreza evangélica “não é um fenômeno simplesmente material. A simples pobreza material não redime, ainda que certamente os preteridos deste mundo possam contar, de um modo muito especial, com a bondade de Deus”. O que muitos cristãos esquecem é que o visível dura pouco tempo, ao passo que o invisível é eterno. Neste mundo tudo passa, tudo acaba! Árvores, animais, o homem, tudo vem a ter fim, tudo se resolve em pó e cinza. Passaram os grandes homens, que assombraram o mundo com o seu poder, ciência e virtude! Passaram os capitães famosos da Grécia e Roma! Passaram os filósofos de Atenas e os oradores do Lácio! Passaram os grandes Santos, luminares da Igreja! Entretanto, para quem tem fé tudo passa, e nada passa. Tudo passa para a vida e nada passa para a eternidade. Tal foi o conselho de Jesus: “Entesourai tesouros no céu onde nem a traça nem a ferrugem destroem” (Mt 6,29). A verdade é que o desengano de que tudo passa neste mundo,  posto que seja por uma parte tão evidente, que parece não há mister prova, é por outro tão dificultoso, que nenhuma evidência basta para o persuadir. Os Filósofos, os Profetas, os Apóstolos,  os Santos Padres, os grandes místicos  todos falaram e escreveram, e não uma, senão muitas vezes, e com todas as forças da eloqüência, na declaração deste desengano, posto por si mesmo tão claro, para alertar sobre o desapego das coisas terrenas. Estas  são breves e efêmeras  e nenhum lugar ocupam na eternidade, a não ser o bom uso que delas se tenha feito na realização da vontade divina.  Jesus pregou o despojamento,  ou seja, o empenho ascético na abnegação e na renúncia. Ele quis tirar seu seguidor  progressivamente das influências das criaturas a fim de torná-lo  cada vez mais disponível ao influxo de Deus, à voz do Espírito Santo.  É este o motivo pelo qual o caminho do despojamento estende-se à purificação das faculdades sensíveis e espirituais. Trata-se do estado perfeito da alma unida aos desígnios do Ser Supremo. Despojar-se de todos os bens significa  entregar tudo a Deus para que disponha deles como quiser. Isto não por desprezo, mas por abnegação e pelo puro amor de Deus. Foi  isto que Jesus ensinou.

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos
Fonte: Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Local:Mariana (MG)

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