terça-feira, 2 de agosto de 2011

Coração de pedra



Estamos habituados ou mesmo condicionados a definir Igreja como simples instituição religiosa. Nada mais que isso. São raras as vezes que a aceitamos como povo e mais raro é defini-la como pessoa, gente, indivíduo... Pois bem: igreja somos nós, pessoas batizadas em nome de uma fé. Essa auto definição deveria penetrar mais a fundo o coração das pessoas cristãs. Ao fundar sua Igreja, Jesus não se dirigiu para um monte de pedras perfiladas artisticamente, nem para um grupo de pessoas simpáticas à sua doutrina, mas para uma única pessoa, Pedro. Escolheu-o como seu primeiro representante, para assim oficializar sua morada entre nós, sua nova casa, o templo vivo da fé, o coração humano. A “pedra” de Pedro pode representar, também, o coração fechado e insensível da pessoa humana, agora tocado pelo coração misericordioso do Cristo, que se abre a todos e se torna revelação, o segredo das chaves celestiais. A partir desse novo coração, essa maneira diferente de olhar o mundo, seus mistérios, suas misérias, mas também suas riquezas e alegrias, as maravilhas que rodeiam e constituem nossas vidas, é que nasce a Igreja de Cristo. Poucos conseguem penetrar na amplitude dessa visão de Igreja. Sua abrangência não é meramente humana, terrena que seja ou de poderes transcendentes, mas penetra também (e principalmente) nossos limites físicos, nossa interioridade. Esse é o mais amplo e precioso campo missionário do Cristo e de sua Igreja. A partir dele é que nasce a casa de Deus entre nós e em nós. Ela se torna visível através da vida comunitária. Quando entendermos essa dimensão pessoal de experiência com Deus estaremos dando início ao projeto de Cristo em nossas vidas: “Sobre esta pedra construirei a minha Igreja”. O primeiro passo é preparar o terreno, abrindo nossos corações para a serenidade e seriedade de sua doutrina, ou seja, precisamos penetrar um pouco mais na solidez do indiferentismo humano, aplainar os sentimentos de comodismo e descrença aos projetos de Deus sobre nossas vidas, romper os limites do existencialismo sem esperança e buscar com mais audácia os desafios que a fé nos apresenta. Enfim, abrir as portas do coração de carne para o cerne do coração de Deus; buscar as coisas do alto. Os rótulos dados à Igreja, nos dias de hoje, são nossos maiores desafios, o maior dos contra testemunhos cristãos. Ninguém é de Pedro, Paulo, André ou Tiago... Todos somos de Cristo. É nessa divisão de forças, nessa falta de unidade evangélica, que nos tornamos fracos, inaptos para o desafio de construir nossa fé sobre uma pedra consistente, como era a fé genuína do então discípulo incerto e impulsivo que Pedro representava. O coração humano, em sua anatomia, é o mais vulnerável dos órgãos, mas também o mais importante, a sede da nossa vitalidade. Da mesma forma, representa nossa capacidade de amar ou mesmo odiar... Enquanto nossas definições para a vida forem meramente atreladas ao biológico, teremos no peito apenas e tão somente uma bomba de drenagem que nos mantêm vivos, mas quando compreendermos que é nele que residem os mais nobres sentimentos da única criatura capaz de amar, entenderemos o sentido da pedra-viva da qual nos falou Jesus. É sobre essa pedra que nasce a Igreja de Cristo. Mas, para nossa vergonha, muitos cristãos continuam como meras e insignificantes pedras, insensíveis ao desafio de “vivificar” seus corações, de não continuarem a ser pedras de tropeço da obra redentora. Então, quando nos abrirmos para esse desafio de ser igreja, vencer o medo, a insegurança, os preconceitos e tudo mais, estaremos livres da condição de pedras, para nos tornarmos templos, moradas de Deus no mundo! Quer maior privilégio?
wagner@meac.com.br

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