EU CONHEÇO AS MINHAS OVELHAS
João
10,22-30As obras que eu faço em nome do meu Pai dão testemunho de mim;26 vós, porém, não acreditais, porque não sois das minhas ovelhas.27 As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem.28 Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão.E ninguém vai arrancá-las de minha mão.29 Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos,e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai.30 Eu e o Pai somos um.'
Reflexão:
Os capítulos 1 a 12 do evangelho de João são chamados “O Livro dos
Sinais”. Neles acontece a revelação progressiva do Mistério de Deus em Jesus. Na
mesma medida em que Jesus vai fazendo a revelação, crescem a adesão e a oposição
a ele de acordo com a visão com que cada um espera a chegada do Messias. Esta
maneira de descrever a atividade de Jesus não é só para informar como a adesão a
Jesus acontecia naquele tempo, mas também e sobretudo como ela deve acontecer
hoje em nós, seus leitores e suas leitoras. Naquele tempo, todos esperavam a
chegada do Messias e tinham os seus critérios para poder reconhecê-lo. Queriam
que ele fosse do jeito que eles o imaginavam. Mas Jesus não se submete a esta
exigência. Ele revela o Pai do jeito que o Pai é e não do jeito que o auditório
o gostaria. Ele pede conversão no modo de pensar e de agir. Hoje também, cada um
de nós tem os seus gostos e preferências. Às vezes, lemos o evangelho para ver
se encontramos nele a confirmação dos nossos desejos. O evangelho de hoje traz
uma luz a este respeito.
João 10,22-24: Os Judeus
interpelam Jesus. Era frio. Mês de outubro. Festa da dedicação que celebrava a
purificação do templo feita por Judas Macabeu (2Mc 4,36.59). Era uma festa bem
popular de muitas luzes. Jesus anda na esplanada do Templo, no Pórtico de
Salomão. Os judeus o questionam: "Até quando nos irás deixar em dúvida? Se tu és
o Messias, dize-nos abertamente". Eles querem que Jesus se defina e que eles
possam verificar, a partir dos critérios deles, se Jesus é ou não é o Messias.
Querem provas. É a atitude de quem se sente dono da situação. Os novatos devem
apresentar suas credenciais. Do contrário não terão direito de falar e de
atuar.
João 10,25-26: Resposta
de Jesus: as obras que faço dão testemunho de mim. A resposta de Jesus é sempre a mesma: "Eu já disse, mas vocês não
acreditam em mim. As obras que eu faço em nome do meu Pai, dão testemunho de
mim; vocês, porém, não querem acreditar, porque vocês não são minhas
ovelhas”. Não se trata de dar provas. Nem
adiantaria. Quando uma pessoa não quer aceitar o testemunho de alguém, não há
prova que o leve a pensar diferente. O problema de fundo é a abertura
desinteressada da pessoa para Deus e para a verdade. Onde houver esta abertura,
Jesus é reconhecido pelas suas ovelhas. “Quem é pela verdade escuta minha
voz” dirá Jesus mais adiante a Pilatos (Jo 18,37).
Esta abertura estava faltando nos
fariseus.
João 10,27-28: As
minhas ovelhas conhecem minha voz. Jesus retoma a parábola do Bom Pastor que conhece suas ovelhas e é
conhecido por elas. Este mútuo entendimento - entre Jesus que vem em nome do Pai
e as pessoas que se abrem para a verdade - é fonte de vida eterna. Esta união
entre o criador e a criatura através de Jesus supera a ameaça da morte: “Elas
jamais perecerão e ninguém as arrebatará de minha mão!” Estão seguras e salvas e, por isso mesmo, em paz e com plena
liberdade.
João 10,29-30: Eu e o
Pai somos um. Estes
dois versículos abordam o mistério da unidade entre Jesus e o Pai: “Meu Pai,
que tudo entregou a mim, é maior do que todos. Ninguém pode arrancar coisa
alguma da mão do Pai. O Pai e eu somos um”. Esta e
várias outras frases nos deixam entrever algo deste mistério maior: “Quem vê a
mim vê o Pai” (Jo 14,9). “Eu estou no Pai e o Pai está em mim” (Jo 10,38). Esta
unidade entre Jesus e o Pai não é automática, mas é fruto da obediência: “Eu
sempre faço o que o Pai me mostra que é para fazer” (Jo 8,29; 6,38; 17,4). “Meu
alimento é fazer a vontade do Pai (Jo 4,34; 5,30). A carta aos hebreus diz que
Jesus teve que aprender, através do sofrimento, o que é ser obediente (Hb 5,8).
“Ele foi obediente até à morte, e morte de Cruz” (Fl 2,8). A obediência de Jesus
não é disciplinar, mas é profética. Ele obedece para ser total transparência e,
assim, ser revelação do Pai. Por isso, ele podia dizer: “Eu e o pai somos um!”
Foi um longo processo de obediência e de encarnação que durou 33 anos. Começou
com o Sim de Maria (Lc 1,38) e terminou com “Tudo está consumado!” (Jo
19,30).
Para um confronto
pessoal
1) Minha
obediência a Deus é disciplinar ou profética? Revelo algo de Deus ou só me
preocupa com a minha própria salvação?
2)
Jesus não se submeteu às exigências dos que queriam verificar se ele era mesmo o
messias. Existe em mim algo desta atitude dominadora e inquisidora dos
adversários de Jesus?
“Era inverno. Jesus passeava pelo Templo…”
Comumente nós passamos pelas ruas e observamos,
mesmo que seja sem muita atenção, o movimento de ir e vir das pessoas. São
transeuntes sem rosto, anônimos, que simplesmente passam por nós… Não conhecemos
seus nomes, seus rostos, suas histórias, suas vidas. São todos
desconhecidos!
Isso nos remete a um sentimento frio, onde
talvez estejamos vivendo um tempo de inverno neste mundo cheio de atividades que
escondem a indiferença ao que existe lá fora.
Jesus passeava pelo Templo. Era inverno! Por
que será que está escrito que é inverno? Por que o evangelista se preocupou com
este detalhe? Porque as pessoas estavam distantes, frias e esquecidas, em busca
do calor interior que aquece o coração. E Jesus vem para que elas possam
encontrá-Lo, Ele se desloca e vai ao encontro delas porque quer oferecer o seu
amor.
A exemplo de Jesus,
precisamos também nos deslocar ao encontro do outro. Não é possível somente
passar por perto e observar. É preciso fazer algo que transforme a vida do
outro, nem que seja um simples, mas verdadeiro olhar nos olhos e desejar bom dia
todos os dias. Cada um sabe o que pode fazer. Comece por você uma corrente de
afeto que pode transformar e aquecer muitas vidas.
Que tal?
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