quarta-feira, 4 de abril de 2012

O jardineiro da nova criação


Foi morto
Como se faz com os revolucionários:
E, por fim, assassinado,
Com morte cruel e humilhante.

Mas o eliminaram
Porque não conseguiram vencê-lo
(A desordem que ele trazia
era a única ordem verdadeira!)
Por isso, ao pregá-lo na cruz,
Assinaram sua própria derrota.

Foi entregue
De volta à terra,
Como se faz com os pobres:
Com uma flor vermelha e branca -Sangue e água-
À altura do coração,
Perpassando o lençol do sudário.

E chumbaram a pedra do sepulcro,
Como senhores (medrosos) da morte,
Declarando-se sem poder
Diante de vida.

Foi sepultado
Na véspera da festa da antiga páscoa
-Passagem para a liberdade-
Foi como lhe abrir o caminho
No mar vermelho do seu próprio sangue
Para ele passar os vagalhões da morte.

Aconteceu na madrugada.
A terra mãe
Sentiu chegar a hora
Esperada ao longo de milhões de anos.

Contraiu o ventre em terremoto
E, das entranhas, deu à luz
O primogênito dos viventes.
(Pedro e João, em seguida,
Tiraram do útero vazio o sudário,
Placenta usada, relíquia do passado.)
Fogem os guardas da velha ordem.

Os poderosos
Teimam no sistema da mentira.
O povo continua chorando o justo.
Mas ele -jardineiro da criação nova-
Sol que rechaça as trevas,
Vai ao encontro de Madalena
E se deixa abraçar os pés.

Vê estrelas nas chagas saradas,
-Ela- em outro tempo sarada do seu pecado.
Os apóstolos ganham, de repente,
A transparência da fé:
Cristo ressuscitou, aleluia!

E Maria canta de novo, mais alto,
Com voz clara, o seu cântico,
Com o "amém" da promessa cumprida.


Arnaldo de Vidi

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