A leitora Ranny pediu que esclarecêssemos uma questão muito pertinente:
“Uma dúvida: Maria foi concebida sem pecado. Certo, eu creio nisso, amo minha Mãe Maria Santíssima. Porém, em Lc 2,22-24, houve a purificação de Maria, como isso se explica? Gostaria de sua explicação a respeito disso, pois se alguém me perguntar não saberei responder.”
Pois não, Ranny!
Em primeiro lugar, precisamos ter em mente que Nossa Senhora, como boa judia, cumpria todas as prescrições de sua religião. Nesse caso, a lei de Moisés dizia que toda mulher que tivesse parido deveria ir ao templo para se purificar. Não porque tivesse cometido qualquer pecado, mas somente porque derramou sangue.
Repare a seguir no texto da lei; fica claro que a mulher será purificada “do seu fluxo de sangue”.
“Quando uma mulher conceber e der à luz um menino, ficará impura durante sete dias e também durante a sua menstruação.
No oitavo dia, o prepúcio do menino será circuncidado; e, durante trinta e três dias, ela ainda se deverá purificar do seu sangue. Não poderá tocar nenhuma coisa consagrada, nem ir ao santuário, enquanto não terminar o tempo da sua purificação. (…)
Quando a mulher tiver terminado o período da sua purificação, seja por um menino, seja por uma menina, levará ao sacerdote, à entrada da tenda da reunião, um cordeiro de um ano para o holocausto, e um pombinho ou rola para o sacrifício pelo pecado. O sacerdote oferecê-los-á diante de Javé, realizará por ela o rito pelo pecado, e ela ficará purificada do seu fluxo de sangue.” (Lev 12,2-7)
Quando a mulher judia derramava sangue – devido ao parto ou à menstruação – ela ficava em estado de “impureza ritual”. Esse tipo de impureza também ocorria quando um homem tocava em um cadáver (óbvio que não há pecado nisso, afinal, é preciso dar digna sepultura aos mortos) ou quando se comia sem lavar as mãos. Então, nesse texto de Levítico, quando se diz “pecado”, é no sentido de impureza ritual, e não de ofensa a Deus.
Ainda que Nossa Senhora seja totalmente pura e não necessite de qualquer purificação ritual, ela dava o exemplo, sendo humilde e cumprindo o que a lei manda, como qualquer mulher do povo de Israel. A Virgem Maria e São José não levaram para o templo um cordeiro, mas sim um par de pombos. Isso indica claramente que eram pessoas pobres.
Há um episódio da vida de Jesus que é comparável a esse, da purificação de Sua Mãe, quando Ele pediu ao Seu primo para ser batizado… absurdo! O batismo de João requeria o arrependimento dos pecados, implicando no nascimento para uma nova vida em Deus. Ora, e acaso Jesus tinha pecado? Acaso não é Ele mesmo Deus, estando em plena comunhão com o Pai desde sempre? Batizá-lo parecia mesmo algo descabido, a princípio.
Tanto isso é verdade que João Batista ficou perplexo, e não queria batizá-lo de jeito nenhum. Entretanto, o bom Mestre desejava submeter-se ao batismo, do qual não precisava de modo algum, para nos ensinar um dos primeiros passos da Salvação. Ele estava nos dando o exemplo.
E pensar que tem muita gente por aí que se acha tão boa, mas tão boa, que diz que não precisa de religião… Legal! Enquanto isso, a Virgem judia e o próprio Deus feito Homem cumpriam humildemente os ritos, ainda que esses não lhe fossem necessários.
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