Naquele tempo:
1 Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão,
e, no deserto, ele era guiado pelo Espírito.
2 Ali foi tentado pelo diabo durante quarenta dias.
Não comeu nada naqueles dias e depois disso, sentiu fome.
3 O diabo disse, então, a Jesus:
'Se és Filho de Deus, manda que esta pedra se mude em pão.'
4 Jesus respondeu: 'A Escritura diz: 'Não só de pão vive o homem'.'
5 O diabo levou Jesus para o alto, mostrou-lhe por um instante todos os reinos do mundo
6 e lhe disse: 'Eu te darei todo este poder e toda a sua glória,
porque tudo isso foi entregue a mim e posso dá-lo a quem eu quiser.
7 Portanto, se te prostrares diante de mim em adoração, tudo isso será teu.'
8 Jesus respondeu: 'A Escritura diz: 'Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás'.'
9 Depois o diabo levou Jesus a Jerusalém, colocou-o sobre a parte mais alta do Templo,
e lhe disse: 'Se és Filho de Deus, atira-te daqui abaixo!
10 Porque a Escritura diz: Deus ordenará aos seus anjos a teu respeito,
que te guardem com cuidado!'
11 E mais ainda: 'Eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra'.'
12 Jesus, porém, respondeu: 'A Escritura diz: 'Não tentarás o Senhor teu Deus'.'
13 Terminada toda a tentação, o diabo afastou-se de Jesus,
para retornar no tempo oportuno.
Reflexão
No Evangelho deste I Domingo da Quaresma, a Palavra de Deus nos convida a refletir sobre as tentações de Jesus, a ver como se comporta Jesus perante às armadilhas do diabo, este que aparece sempre como afastamento e oposição a Deus. E, ao mesmo tempo, vemos a relação que Jesus tem com Deus e que é essencial para esse enfrentamento. E, por sinal, uma relação sólida que faz Jesus rejeitar a tentação, a prova com determinação, firmeza, certeza, segurança, tranquilidade, coragem.
A cada proposta do tentador, Jesus dá uma resposta segura, demonstrando assim a certeza e a clareza de sua relação com o seu Pai. E, justamente, por ter sido posto à prova e ter sofrido pessoalmente, é que ele está em grau de ajudar àqueles que estão na provação (2,17s). E aqui o relato das tentações tem tudo a ver com o Batismo, onde Jesus sem mancha alguma é solidário com a humanidade sendo lavado dos pecados desta e que atingirá o seu cume na cruz, término também das tentações que não aparecem só aqui, mas ao longo de todo o Evangelho, quando lemos que os fariseus em muitos momentos querem pô-lo a prova como os soldados romanos .
Tudo aquilo que o Pai havia dito dele é confirmado aqui pelo seu comportamento. De fato, precedente a este texto, separado apenas pela genealogia, está o momento em que ao ser batizado, o Pai declara: “Tu és o meu Filho predileto, em quem me comprazo”; onde ele é revestido como o Ungido pelo Espírito, o qual conduz Jesus ao deserto e permite que ele seja tentado pelo diabo. E, logo, após estas tentações, Lucas inaugura o ministério público de Jesus em seu Evangelho.
O deserto é o lugar da reconciliação e da salvação; foi atravessando o deserto com muitas dificuldades e provações que o povo de Israel depois do êxodo finalmente chegou a terra prometida. Lucas narra as três tentações mostrando a luta interior de Jesus para se manter fiel a sua missão, mas ao mesmo tempo, joga a pergunta sobre o que afinal de contas, tem mais valor para o homem. De modo que o núcleo de cada tentação é o tirar Deus, que diante de tudo aquilo que na nossa vida parece ser mais urgente, pareça em segundo lugar, quando não supérfluo ou cansativo.
Viver a vida sem contar com Deus, mas só com as próprias forças, deixando Deus de lado, é a tentação que nos aparece sob várias formas: as tentações do diabo querem a todo instante nos mostrar que o que vale nessa vida é ter dinheiro, ter poder e aparecer; mostrando assim que Deus é irreal e que suas palavras não cabem.
Bom, mas vamos as tentações que aconteceram num prazo de 40 dias (tempo de transformação e que recordam os 40 anos que Israel passou no deserto, tempo de provação, mas de especial contato com Deus). Assim, Jesus faminto, o diabo diz: “Se és Filho de Deus, manda que esta pedra se mude em pão”.
Na primeira tentação, Jesus é tentado a fazer uso de seus poderes já que é Filho de Deus em seu próprio benefício para ser acreditado, mas sem que isto tenha nada a ver com a missão que lhe foi confiada; a tentação, portanto, consiste em buscar alimento para sua própria sobrevivência, prescindindo da vontade do Pai.
A prova da existência de Deus que o tentador propõe consiste em transformar pedra em pão. E, Jesus responde ao diabo, citando Dt 8,3: “Não só de pão vive o homem”. A citação de Dt remete à experiência vivida por Israel durante o êxodo, quando no deserto, faminto, lembrava o Egito, o que levou a reclamarem de Moisés e Aarão; mas, apesar desse desejo de procurar alimento fora dos planos de Deus, Israel foi nutrido com o “maná” do céu. E aí, teve que passar pela humilhação de reconhecer sua falta de fé em Deus.
Ainda hoje somos tentados algumas vezes a dirigir a Deus a frase: “se és mesmo Deus, mostre seu poder”. O problema da fome no mundo pode nos tentar a desacreditar da figura do Salvador. Mas, mais adiante vemos que Jesus multiplica pães para milhares de pessoas no deserto. E aí faz sentido, porque aquele povo não foi atrás do alimento físico, mas de alimento espiritual, da palavra de Jesus. De fato, Mateus adiciona a não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus (Mt 4,4). E esta palavra quando acolhida com amor leva a descobrir a necessidade do próximo. Daí, a gente chega à conclusão que a fome no mundo é justamente porque Deus é colocado em segundo lugar, enquanto o dinheiro se torna um deus.
A segunda tentação não se dirige ao homem que luta para ter o mínimo necessário para sobreviver, mas ao homem que mira além da própria pessoa humana e aspira ao domínio do mundo. Aqui entra em jogo o fascínio do poder, do domínio. Jesus do alto do Templo de Jerusalém, é tentado a aceitar o domínio sobre todos os reinos do mundo com todo o seu esplendor oferecido por um tal que não é o seu Deus. O desafio não põe diretamente à prova sua qualidade de filho, mas o fato de reconhecer como dom e senhor a alguém diferente de seu Pai. Mas, Jesus responde que há um só Deus. A busca exclusiva do poder não combina com o reconhecimento da senhoria de Deus. Jesus reconhece a autoridade no âmbito humano: porém, que não deve ser exercitada como domínio sobre os outros, mas vivida como serviço. De fato, ele responde ao diabo, citando Dt 6,13: “Adorarás o Senhor teu Deus e só a ele servirás”. Esta resposta de Jesus se refere novamente a uma das diretrizes dadas por Moisés ao povo, que o Deuteronômio recapitula. No que se trata de Moisés pede que o povo se policie sobre a sedução que exercerá sobre ele os cultos cananeus (Dt 12,30-31) e o intima que não se deixe levar por deuses estranhos ou ponha sua confiança em poderes estrangeiros. Assim, Jesus rejeita a tentação de se submeter a outro que não seja seu Deus e seu Pai, e deixa definitivamente claro que a sua missão consiste unicamente em esforçar-se para que o reino de Deus se estabeleça definitivamente em todo o mundo. Portanto, o único rei de toda a terra é o Senhor, e só a ele há que render serviço.
Só o poder que está sob a autoridade de Deus é confiável. O reino de Cristo não é de caráter político, aliás, ele deixou tudo. Quando a nossa fé se coloca sob o comando do poder, fica sufocada e obrigada a obedecer a critérios injustos. Desta segunda tentação, sempre surgira a nós uma pergunta: o que Jesus trouxe verdadeiramente, se não trouxe paz no mundo, um mundo melhor? Trouxe Deus. Governos vivem em guerra.
Finalmente, a terceira tentação é a de um Messias mirabolante: atira-te daqui abaixo! Um gesto que teria assegurado fama e espetáculo. Porém, Jesus não tem necessidade de uma prova de que Deus o ama, ele confia no Pai. Jesus supera as tentações: escolhe respeitar o senhorio de Deus, confia no Pai e no seu plano salvífico pelo mundo. Renuncia instrumentalizar egoisticamente as coisas materiais para o próprio proveito (não muda as pedras em pão para si; mais tarde multiplicará para a multidão faminta); rejeita dominar as pessoas e prefere servir: mantém sempre uma relação filial com Deus, confiando na sua fidelidade. Aceita a cruz por amor e morre perdoando: somente assim, quebra o espiral da violência e tira da morte o seu veneno. Enfim, vale lembrar que Jesus supera as tentações porque está cheio da força do Espírito Santo. Nós também somos convidados a pedir auxílio ao Espírito Santo para que nos ajude a vencer as tentações, pois o tentador sempre está prestes a retornar no momento oportuno.
Jesus quis ser em tudo igual ao ser humano, menos no pecado. Por isso, permitiu ser tentado. Mas deixou-nos as dicas para vencer o tentador.
PRIMEIRA: NÃO ALONGAR A CONVERSA COM O TENTADOR. Jesus retrucou de maneira firme e decidida. Não devemos, portanto, deixar-nos envolver pelo engodo que nos enlaça. O mau pensamento deve ser interrompido no meio.
SEGUNDA: PÔR-SE SEMPRE AO AMPARO DA PALAVRA DE DEUS. Jesus confronta o tentador sempre com um trecho da Sagrada Escritura.
TERCEIRA: Deixar-se guiar pelo Espírito Santo ou pedir a ajuda do Alto.
Compromisso pessoal:
1. A que situações da tua vida chamarias “deserto”? Tens consciência de que Jesus te acompanha nesses momentos?
2. As tentações às quais Jesus foi submetido no deserto têm alguma coisa de parecido com o que hoje as nossas comunidades cristãs têm de enfrentar? Como podemos vencê-las com a ajuda de Jesus?
2. As tentações às quais Jesus foi submetido no deserto têm alguma coisa de parecido com o que hoje as nossas comunidades cristãs têm de enfrentar? Como podemos vencê-las com a ajuda de Jesus?
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