PAI NOSSO
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:7 Quando orardes, não useis muitas palavras, como fazem os pagãos.
Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras.
8 Não sejais como eles,
pois vosso Pai sabe do que precisais, muito antes que vós o peçais.
9 Vós deveis rezar assim:
Pai Nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome;10 venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus.11 O pão nosso de cada dia dá-nos hoje.12 Perdoa as nossas ofensas,
assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.13 E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal.14 De fato, se vós perdoardes aos homens as faltas que eles cometeram,
vosso Pai que está nos céus também vos perdoará.15 Mas, se vós não perdoardes aos homens,vosso Pai também não perdoará as faltas que vós cometestes.
Reflexão
O evangelho de hoje traz a oração do Pai Nosso, o Salmo que Jesus nos deixou. Há duas redações do Pai Nosso:
de Lucas (Lc 11,1-4) e de Mateus (Mt 6,7-13). A redação de Lucas é mais curta.
Lucas escreve para comunidades que vieram do paganismo. Ele busca ajudar pessoas
que estão se iniciando no caminho da oração. No Evangelho de Mateus, o Pai Nosso
está situado naquela parte do Sermão da Montanha, onde Jesus orienta os
discípulos e as discípulas na prática das três obras de piedade: esmola (Mt
6,1-4), oração (Mt 6,5-15) e jejum (Mt 6,16-18). O Pai Nosso faz parte de uma
catequese para judeus convertidos. Eles já estavam habituados a rezar, mas
tinham certos vícios que Mateus tenta corrigir. No Pai Nosso Jesus resume todo o
seu ensinamento em sete preces dirigidas ao Pai. Nestes sete pedidos, ele retoma
as promessas do Antigo Testamento e mandar pedir ao Pai que Ele nos ajude a
realizá-las. Os primeiros três dizem respeito ao relacionamento nosso com Deus.
Os outros quatro dizem respeito ao nosso relacionamento comunitário com os
outros.
Mateus 6,7-8: A introdução ao
Pai-nosso. Jesus critica as pessoas para as quais a oração era
uma repetição de fórmulas mágicas, de palavras fortes, dirigidas a Deus para
obrigá-lo a atender a seus pedidos e necessidades. Quem reza deve buscar em
primeiro lugar o Reino, muito mais que os interesses pessoais. A acolhida da
oração por parte de Deus não depende da repetição das palavras, mas sim da
bondade de Deus que é Amor e Misericórdia. Ele quer o nosso bem e conhece as
nossas necessidades, antes mesmo das nossas preces.
Mateus 6,9a: As primeiras palavras:
“Pai Nosso que estás no céu!” Abba, Pai, é o nome que Jesus usa para dirigir-se a Deus.
Expressa a intimidade que ele tinha com Deus e manifesta a nova relação com Deus
que deve caracterizar a vida do povo nas comunidades cristãs (Gl 4,6; Rm 8,15).
Mateus acrescenta ao nome do Pai o adjetivo nosso e a expressão que estais no
Céu. A oração verdadeira é uma relação que nos une ao Pai, aos irmãos e
irmãs e à natureza. A familiaridade com Deus não é intimista, mas expressa a
consciência de pertencermos à grande família humana, da qual participam todas as
pessoas, de todas as raças e credos: Pai
Nosso. Rezar ao Pai e
entrar em intimidade com ele, é também colocar-se em sintonia com os gritos de
todos os irmãos e irmãs. É buscar o Reino de Deus em primeiro lugar. A
experiência de Deus como Pai é o fundamento da fraternidade
universal.
Mateus 6,9b-10: Os três pedidos pela
causa de Deus: o Nome, o Reino, a Vontade. Na primeira parte
do Pai-nosso, pedimos para que seja restaurado o nosso relacionamento com Deus.
Para restaurar o relacionamento com Deus, Jesus pede (1) a santificação do Nome revelado no Êxodo por ocasião da libertação do
Egito; (2) pede a vinda do Reino, esperado pelo
povo depois do fracasso da monarquia; (3) pede o cumprimento da Vontade de Deus, revelada na Lei que estava no centro da
Aliança. O Nome, o Reino, a Lei: são os três eixos tirados do Antigo Testamento
que expressam como deve ser o novo relacionamento com Deus. Os três pedidos
mostram que é preciso viver na intimidade com o Pai, fazendo com que o seu Nome
seja conhecido e amado, que o seu Reino de amor e de comunhão se torne uma
realidade, e que a sua Vontade seja feita assim na terra como no
céu. No céu, o sol e as estrelas obedecem à lei de Deus e criam a ordem
do universo. A observância da lei Deus"assim na terra
como no céu" deve ser a fonte e o espelho de harmonia e de bem-estar para toda a
criação. Este relacionamento renovado com Deus, porém, só se torna visível no
relacionamento renovado entra nós que, por sua vez, é objeto de mais quatro
pedidos: o pão de cada dia, o perdão das dívidas, o não cair em tentação e a
libertação do Mal.
Mateus 6,11-13: Os quatro pedidos
pela causa dos irmãos: Pão, Perdão, Vitória, Liberdade.
Na segunda parte do Pai-nosso pedimos que seja restaurado e renovado o
relacionamento entre as pessoas. Os quatro pedidos mostram como devem ser
transformadas as estruturas da comunidade e da sociedade para que todos os
filhos e filhas de Deus vivam com igual dignidade. Pão de cada
dia: O pedida do "Pão de cada dia" (Mt 6,11) lembra o maná de cada dia no
deserto (Ex 16,1-36), O maná era uma “prova" para ver se o povo era capaz de
andar na Lei do Senhor (Ex 16,4), isto é, se era capaz de acumular comida apenas
para um único dia como sinal da fé de que a providência divina passa pela
organização fraterna. Jesus convida para realizar um novo êxodo, uma nova
convivência fraterna que garante o pão para todos. Perdão das
dívidas: O pedido, do "perdão das dívidas" (6,12) lembra o ano sabático que
obrigava os credores a perdoar todas as dívidas aos irmãos (Dt 15,1-2). O
objetivo do ano sabático e do ano jubilar (Lev 25,1-22) era desfazer as
desigualdades e recomeçar tudo de novo. Como rezar hoje: “Perdoai as nossas
dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores”? E' pela dívida externa
dos países pobres que os países ricos, todos cristãos, se enriquecem. Não cair na Tentação: O pedido de "não cair em tentação" (6,13)
lembra os erros cometidos no deserto, onde o povo caiu na tentação (Ex 18,1-7;
Núm 20,1-13; Dt 9,7-29). É para imitar Jesus que foi tentado e venceu (Mt
4,1-17). No deserto, a tentação levava o povo a seguir por outros caminhos, a
voltar atrás, a não assumir a caminhada da libertação e reclamar de Moisés que o
conduzia. Libertação do Mal: O mal é o
Maligno, o Satanás, que tenta desviar e que, de muitas maneiras, procura levar
as pessoas a não seguir o rumo do Reino, indicado por Jesus. Tentou Jesus para
abandonar o Projeto do Pai e ser o Messias conforme as idéias dos fariseus,
escribas ou de outros grupos. O Maligno afasta de Deus e é motivo de escândalo.
Chegou a entrar em Pedro (Mt 16,23) e tentou Jesus no deserto. Jesus o venceu
(Mt 4,1-11).
Para um confronto
pessoal
1) Jesus falou "perdoai as nossas dívidas", mas hoje
nós rezamos "perdoai as nossas ofensas" O que é mais fácil: perdoar ofensas ou
perdoar dívidas?
2) Como você costuma rezar o Pai Nosso: mecanicamente
ou colocando toda a sua vida e o seu compromisso?
Nenhum comentário:
Postar um comentário