O Amor perfeito de
Deus
Mateus 5,43-48
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:43 Vós ouvistes o que foi dito:
'Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!'44 Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos
e rezai por aqueles que vos perseguem!45 Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus,
porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons,
e faz cair a chuva sobre justos e injustos.46 Porque, se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis?
Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa?47 E se saudais somente os vossos irmãos, o que fazeis de extraordinário?
Os pagãos não fazem a mesma coisa?48 Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito.'
Reflexão
No evangelho de hoje alcançamos o topo da Montanha
das Bem-aventuranças, onde Jesus proclamou a Lei do Reino de Deus, cujo ideal se
resume nesta frase lapidar: “Sede perfeitos como vosso Pai do céu
é perfeito” (Mt 5,48). Jesus estava corrigindo a Lei de Deus!
Cinco vezes em seguida ele já tinha afirmado: “Antigamente foi
dito, mas eu digo!” (Mt 5,21.27,31.33.38). Era sinal de muita coragem da
parte dele de corrigir, publicamente, diante de todo o povo reunido, o tesouro
mais sagrado do povo, a raiz da sua identidade, que era a Lei de Deus. Jesus
quer comunicar um novo olhar para entender e praticar a Lei de Deus. A chave
para poder atingir este novo olhar é a afirmação: “Sede perfeitos
como vosso Pai do céu é perfeito”. Nunca ninguém
poderá chegar a dizer: “Hoje fui perfeito como o Pai do céu é perfeito!”
Estaremos sempre abaixo da medida que Jesus colocou diante de nós. Por que será
que ele colocou diante de nós um ideal impossível a ser atingido por nós
mortais?
Mateus 5,43-45: Ouvistes o que foi
dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Nesta frase Jesus
explicita a mentalidade com que os escribas explicavam a lei; mentalidade que
nascia das divisões entre judeu e não-Judeu, entre próximo e não-próximo, entre
santo e pecador, entre puro o impuro, etc. Jesus manda subverter esta pretensa
ordem nascida de divisões interesseiras. Ele manda ultrapassar as divisões. “Eu, porém, lhes digo: amem os seus inimigos, e rezem por aqueles que
perseguem vocês! Assim vocês se tornarão filhos do Pai que está no céu, porque
ele faz o sol nascer sobre maus e bons, e a chuva cair sobre justos e injustos”
.E aqui atingimos a fonte, de onde brota a novidade do Reino. Esta
fonte é o próprio Deus, reconhecido como Pai, que faz
nascer o sol sobre maus e bons. Jesus manda que imitemos este Deus: "Sede perfeitos como vosso Pai celeste é
perfeito"
(5,48). E' imitando este Deus que criamos uma sociedade justa,
radicalmente nova:
Mateus 5,46-48: Ser perfeito como o
Pai celeste é perfeito. Tudo se resume em
imitar Deus: "Pois, se vocês amam somente aqueles que os amam, que
recompensa vocês terão? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa? E se
vocês cumprimentam somente seus irmãos, o que é que vocês fazem de
extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? Portanto, sejam perfeitos
como é perfeito o Pai de vocês que está no céu" (Mt 5,43-48). O
amor é o princípio e o fim de tudo. Prova de amor maior não há que doar a vida
pelo irmão (Jo 15,13). Jesus imitou o Pai e revelou o seu amor. Cada gesto, cada
palavra de Jesus, desde o nascimento até à hora de morrer na cruz, era uma
expressão deste amor criador que não depende do presente que recebe, nem
descrimina o outro por motivo de raça, sexo, sexo, religião ou classe social,
mas que nasce de um bem querer totalmente gratuito. Foi um crescendo contínuo,
desde o nascimento até à morte na Cruz.
A manifestação plena do amor criador em
Jesus. Foi quando na Cruz ele ofereceu o perdão ao soldado
que o torturava e matava. O soldado, empregado do império, prendeu o pulso de
Jesus no braço da cruz, colocou um prego e começou a bater. Deu várias pancadas.
O sangue espirrava. O corpo de Jesus se contorcia de dor. O soldado, mercenário
ignorante, alheio ao que estava fazendo e ao que estava acontecendo ao redor,
continuava batendo como se fosse um prego na parede da casa para pendurar um
quadro. Neste momento Jesus dirige ao Pai esta prece: “Pai,
perdoa! Eles não sabem o que estão fazendo!” (Lc 23,34). Por
mais que os homens quisessem, a desumanidade não conseguiu apagar em Jesus a
humanidade. Eles o prenderam, xingaram, cuspiram no rosto dele, deram soco na
cara, fizeram dele um rei palhaço com coroa de espinhos na cabeça, flagelaram,
torturaram, fizeram-no andar pelas ruas como um criminoso, teve de ouvir os
insultos das autoridades religiosas, no calvário deixaram-no totalmente nu à
vista de todos e de todas. Mas o veneno da desumanidade não conseguiu alcançar a
fonte da humanidade que brotava de dentro de Jesus. A água que jorrava de dentro
era mais forte que o veneno que vinha de fora, querendo de novo contaminar tudo.
Olhando aquele soldado ignorante e bruto, Jesus teve dó do rapaz e rezou por ele
e por todos: “Pai, perdoa!” E ainda arrumou
uma desculpa: “São ignorantes. Não sabem o que estão fazendo!” Diante do Pai,
Jesus se fez solidário daqueles que o torturavam e maltratavam. Era como o irmão
que vem com seus irmãos assassinos diante do juiz e ele, vítima dos próprios
irmãos, diz ao juiz: “São meus irmãos, sabe. São uns ignorantes. Perdoa. Eles
vão melhorar!” Era como se Jesus estivesse com medo que o mínimo de raiva contra
o rapaz pudesse apagar nele o restinho de humanidade que ainda sobrava. Este
gesto incrível de humanidade e de fé na possibilidade de recuperação daquele
soldado foi a maior revelação do amor de Deus. Jesus pôde morrer: “Está tudo
consumado!” E inclinando a cabeça, entregou o espírito (Jo 19,30). Realizou a
profecia do Servo Sofredor (Is 53).
Para um confronto pessoal
1) Qual a motivação mais profunda do esforço que você
faz para observar a Lei de Deus: merecer a salvação ou agradecer a bondade
imensa de Deus que te criou, te mantém em vida e te salva?
2) Como você entende a frase “ser perfeito como o Pai
do céu é perfeito”?
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