terça-feira, 4 de junho de 2013

3ª-feira da 9ª Semana Tempo Comum



Dêem a Deus o que é de Deus

Marcos 12,13-17

Naquele tempo:13 As autoridades mandaram alguns fariseuse alguns partidários de Herodes, para apanharem Jesus em alguma palavra.14 Quando chegaram, disseram a Jesus:'Mestre, sabemos que tu és verdadeiro, e não dás preferência a ninguém.Com efeito, tu não olhas para as aparências do homem,mas ensinas, com verdade, o caminho de Deus.Dize-nos: É lícito ou não pagar o imposto a César? Devemos pagar ou não?'15 Jesus percebeu a hipocrisia deles, e respondeu:'Por que me tentais? Trazei-me uma moeda para que eu a veja.'
16 Eles levaram a moeda, e Jesus perguntou:'De quem é a figura e a inscrição que está nessa moeda?'
Eles responderam: 'É de César.'17 Então Jesus disse:'Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.'
E eles ficaram admirados com Jesus.
Reflexão

No evangelho de hoje continua o confronto entre Jesus e as autoridades. Os sacerdotes, anciãos e escribas tinham sido criticados e denunciados por Jesus na parábola da vinha (Mc 12,1-12). Agora, os mesmos pedem aos fariseus e herodianos para armar uma cilada contra Jesus, a fim de poder apanhá-lo e condená-lo. Estes perguntam a Jesus sobre o imposto a ser pago aos romanos. Era um assunto polêmico que dividia a opinião pública. Os adversários de Jesus querem a todo custo acusá-lo e, assim, diminuir a sua influência junto do povo. Grupos, que antes eram inimigos entre si, agora se unem para combater Jesus que pisava no calo de todos eles. Isto acontece também hoje. Muitas vezes, pessoas ou grupos, inimigos entre si, se unem para defender seus privilégios contra aqueles que os incomodam com o anúncio da verdade e da justiça.

Marcos 12,13-14. A pergunta dos fariseus e herodianos. Fariseus e herodianos eram as lideranças locais nos povoados da Galiléia. Bem antes, eles já tinham decidido matar Jesus (Mc 3,6). Agora, a mando dos Sacerdotes e Anciãos, eles querem saber de Jesus se ele é a favor ou contra o pagamento do imposto aos romanos, a César. Pergunta esperta, cheia de malícia! Sob a aparência de fidelidade à lei de Deus, buscam motivos para poder acusá-lo. Se Jesus dissesse: “Deve pagar!”, poderiam acusá-lo junto ao povo como amigo dos romanos. Se ele dissesse: “Não deve pagar!”, poderiam acusá-lo junto às autoridades romanas como subversivo. Parecia uma sinuca sem saída!

Marcos 12, 15-17: A resposta de Jesus. Jesus percebe a hipocrisia. Na sua resposta, ele não perde tempo em discussões inúteis, e vai direto ao centro da questão. Em vez de responder e de discutir o assunto do tributo a César, ele pede que lhe mostrem a moeda, e pergunta: "De quem é esta imagem e inscrição?" Eles respondem: "De César!" Resposta de Jesus: "Então, dêem a César o que é de César, mas a Deus o que é de Deus!”. Na prática, eles já reconheciam a autoridade de César. Já estavam dando a César o que era de César, pois usavam as moedas dele para comprar e vender e até para pagar o imposto ao Templo! O que interessa a Jesus é que “dêem a Deus o que é de Deus!”, isto é, que devolvam a Deus o povo, por eles desviado, pois com os seus ensinamentos bloqueavam a entrada do Reino para o povo (Mt 23,13). Outros explicam esta frase de Jesus de outra maneira: “Dêem a Deus o que é de Deus!”, isto é, pratiquem a justiça e a honestidade conforme o exige a Lei de Deus, pois pela hipocrisia vocês estão negando a Deus o que lhe é devido. Os discípulos e as discípulas devem tomar consciência! Pois era o fermento destes fariseus e herodianos que estava cegando os olhos deles! (Mc 8,15).

Impostos, tributos, taxas e dízimos.
No tempo de Jesus, o povo da Palestina pagava muitos impostos, taxas, tributos e dízimos, tanto aos romanos como ao Templo. O império romano invadiu a Palestina no ano 63 aC e passou a exigir muitos impostos e tributos. Pelos cálculos feitos, metade ou mais do orçamento familiar era para os impostos, tributos, taxas e dízimos. Os impostos exigidos pelos romanos eram de dois tipos: direto e indireto:
1. O imposto Direto era sobre as propriedades e sobre as pessoas. Imposto sobre as propriedades (tributum soli): os fiscais do governo verificavam o tamanho da propriedade, da produção e do número de escravos e fixavam a quantia a ser paga. Periodicamente, havia nova fiscalização através dos censos. Imposto sobre as pessoas (tributum capitis): era para as classes pobres sem terra. Incluía tanto homens como mulheres entre 12 e 65 anos. Era sobre a força do trabalho: 20% da renda de cada pessoa era para o imposto.
2. O imposto Indireto era sobre transações variadas. Coroa de ouro: Originalmente, era um presente ao imperador, mas tornou-se um imposto obrigatório. Era cobrado em ocasiões especiais como festas e visitas do imperador. Imposto sobre o sal: o sal era o monopólio do imperador. Só era tributado o sal para uso comercial. Por exemplo, o sal usado pelos pescadores para comercializar o peixe. Daqui vem a nossa palavra “salário”. Imposto na compra e venda: Em cada transação comercial pagava-se 1%. A cobrança era feita pelos fiscais na feira. Na compra de um escravo exigiam-se 4%. Em cada contrato comercial registrado, exigiam-se 2%. Imposto para exercer a profissão: Para tudo se precisava de licença. Por exemplo, um sapateiro na cidade de Palmira pagava um denário por mês. Um denário era o equivalente ao salário de um dia. Até as prostitutas tinham que pagar. Imposto sobre o uso de coisas de utilidade pública: O imperador Vespasiano introduziu o imposto para se poder usar as privadas públicas em Roma. Ele dizia “Dinheiro não fede!”
3. Outras Taxas e obrigações: Pedágio ou alfândega; Trabalho forçado; Despesa especial para o exército (dar hospedagem aos soldados; fornecer pagar comida para o sustento das tropas); Imposto para o Templo e o Culto.

Para um confronto pessoal
1. Você conhece algum caso de grupos ou de pessoas que eram inimigos entre si, mas que se juntaram para perseguir a pessoa honesta que os incomodava e denunciava? Isto já aconteceu alguma vez com você?
2. Qual é hoje o sentido da frase: “Dai a César o que é do César, e a Deus o que é de Deus”?
Reflexão 2:

Não é fácil ter o sentido verdadeiro das coisas da vida. As opiniões e interpretações, a respeito de cada coisa, são sempre muitas, divergentes tantas vezes. Esta é uma característica deste mundo tão plural. Nesta pluralidade, no entanto, está a garantia de autonomias e liberdades. Contudo, não é uma novidade deste tempo.

No tempo de Jesus também foi assim. E ele entrou na roda destes confrontos, exercendo sua cidadania e sendo fiel aos princípios insubstituíveis de sua religiosidade. Grande, pois, é o desafio na busca da verdade. As razões são muitas; os interesses são bem diferenciados. Os sentimentos que presidem mentalidades têm suas metas próprias. Nem sempre são transparentes aqueles que perguntam. Há interesses obscuros e até mesquinhos.

Não era outra a intenção dos interlocutores de Jesus quando dele se aproximaram. Eles dialogaram com o intuito de encontrar nele alguma palavra para incriminação. Assim é a pequenez da condição humana, e os estreitamentos comuns do coração de todos. Há sempre algum interesse para justificar a própria condição. Eram assim os herodianos, aliados da força de ocupação da pátria dos seus conterrâneos. Necessitavam justificar sua posição indevida de submissão aos estrangeiros dominantes. Estes interesses geram os comportamentos insidiosos, O bem não é de todos. Vale só o próprio bem.

Por cerca de três anos Jesus exerceu seu ministério na Galiléia e nas regiões gentílicas vizinhas. Agora, em Jerusalém dá-se o confronto fatal com o sistema religioso do Templo. O imposto de César era exigido dos judeus sob o domínio romano. Os Judeus tinham verdadeiro horror de pagar impostos aos Romanos. Tal pergunta era uma armadilha. Mas Jesus conhecendo a sua hipocrisia contornou a dificuldade, dando-lhes um lição de justiça, dizendo que a cada um deve-se dar aquilo a que tem direito.

Agora o assunto é com os fariseus e herodianos. Estes assumem uma atitude cínica diante de Jesus. Querem colocá-lo numa armadilha para acusá-lo de rebelde se rechaçar o imposto pago a Roma, ou de colaboracionista se aceitar pagar o mesmo imposto. Para confundir Jesus, alguns fariseus e herodianos, procurando provocar em Jesus alguma palavra que o condenasse, propuseram-lhe uma pergunta capciosa a respeito da liceidade de pagar o tributo ao imperador romano. Se dissesse que não, incorreria na condenação dos romanos.

Os interlocutores de Jesus dialogaram com ele a respeito de uma moeda. Ela se torna a razão de todos os interesses. Com ela se justifica tudo. Seu poder chega à perversidade. A moeda é capaz de dividir; justifica perseguições; alimenta as submissões e até o comprometimento da própria liberdade.

Há, no entanto, um caminho inverso àquele que perpassa o campo do culto idolátrico. Na verdade, é o resultado da liberdade que se tem pode facilmente se perder, e quem não a tem deve esforçar-se muito para poder conquistá-la. As garras da idolatria são terríveis. Estas alimentam ilusões, criam necessidades e justificam tudo. Até mesmo o injustificável. Ainda, causa o indiferentismo e impede ver para além e conseguir deixar-se seduzir pela liberdade de não defender nada e ninguém por interesses espúrios ou simplesmente egoístas. Assim, ao apresentarem a moeda a Jesus, perguntando-lhe a liceidade de pagar ou não o tributo a césar, o imperador, Jesus remete os seus tentadores ao verdadeiro sentido de sua condição idolátrica.

A idolatria aparece nesta opção de considerar contrária a César a atitude do não pagamento do imposto. Devolvendo aos embusteiros a moeda e dizendo, ‘a césar o que é de césar e a Deus o que é de Deus’, Jesus pontua a diferença da autoridade divina em relação àquela do imperador. O respeito à autoridade divina é insubstituível. Não é possível, como muitos, contemporizações.

O pano de fundo desta questão era complexo. Sob o aspecto político, tratava-se de saber se Jesus era contra ou a favor da dominação estrangeira. Sob o aspecto religioso, a resposta de Jesus revelaria que imagem ele fazia de Deus, que escolhera Israel para ser o povo de sua predileção, e não se contentava em vê-lo oprimido. Afinal, o Deus de Jesus era um Deus libertador? Sob o aspecto econômico, a questão levava Jesus a posicionar-se diante da penúria do povo, do qual se exigia pagamento de tributo. Sob o aspecto social, Jesus deveria dizer se concordava com a situação de opressão a que estava reduzido o povo de Israel.

A resposta do Mestre, aparentemente evasiva, revela sua visão da história, centrada no Reino de Deus. Não existe contraposição entre César e Deus, uma vez que estão situados em níveis diferentes. O pagamento do tributo ao imperador é irrelevante, quando este não cede à tentação de usurpar o lugar de Deus, tiranizando as pessoas. Deus é o Senhor absoluto da História. E César deve submeter-se a ele. Importa que todos, inclusive o imperador, acolham a vontade divina.

Conseqüentemente, a resposta de Jesus revela que ele se opunha a todo tipo de opressão e exploração, pois o Pai é um Deus libertador. É preciso ser perspicaz para compreender o sentido da posição de Jesus.

Jesus, porém, sabe muito bem distinguir entre os projetos do Reino e os projetos humanos, carregados de interesses mesquinhos. Não é que Jesus queira evitar a questão dos impostos que angustiavam os pobres de seu tempo. O que ele não quer é deixar-se manipular por aqueles que buscam legitimar suas práticas pecaminosas a partir dos valores mais profundos do Evangelho.

Se dissesse que sim, ficaria desacreditado perante o povo. Diante da moeda cunhada com a cabeça de César, que se intitulava "Filho Augusto e Divino", Jesus devolve a pergunta: "De quem é esta figura e a inscrição?". E, depois da resposta, conclui: "Devolvei a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus".

Esta máxima, prescreve os direitos de cada um, assim como cada qual deseja que o seu seja respeitado. Estende-se isto ao cumprimento dos deveres contraídos para com a família, a sociedade, a autoridade, do mesmo modo que para com os indivíduos.

César é diferente de Deus. César é a ambição do dinheiro e do poder. Deus é misericórdia, amor e vida. Libertar-se do dinheiro e comprometer-se com Deus, é o projeto de Jesus. César não é Deus. A César, a moeda na sua materialidade; a Deus, o seu povo com a sua vitalidade. Quem sinceramente busca a Deus abre mão do dinheiro injusto e coloca-se a serviço da libertação e vivificação do povo de Deus.

Esta passagem pertence ao relato das “tentações” a que os escribas, fariseus e saduceus submetem Jesus, A pergunta é clássica no mundo dos sábios, encarregados de interpretar a Lei: “É permitido...? Deve-se pagar o imposto (considerado pelos judeus como uma obrigação religiosa) a César, príncipe estrangeiro que não era da raça de Davi e não tinha, portanto, nenhum direito divino para reinar sobre o povo?

Jesus responde com um argumento prático: vocês já não aceitam a autoridade e os favores do império romano? Aceitem também agora suas prescrições e submetam-se a suas exigências.

Não se pronuncia, pois, a respeito da legitimidade do poder; limita-se a constatar que é aceito por eles e como tal, exige obediência. Ao agir assim, Jesus dessacraliza o conceito de imposto, que não é já (como o era para os judeus), um ato religioso em benefício do Templo e um reconhecimento da teocracia, mas um ato profano regulado pelo bem comum.

Dessa maneira, ficam os inquisidores reduzidos a seu lugar e ao mesmo tempo confirmados em seu zelo pró-romanos. Por isso, Jesus acrescenta: “Dar a Deus o que é de Deus”. Ou seja, proceder de tal modo que sua obediência cívica não esteja em contradição com os deveres para com Deus.

Quantas vezes na vida tentamos misturar as coisas. Pretendemos encaixar o Reino de Deus em nossos esquemas mentais saturados de egoísmo, cobiça e ambições desmedidos. Mas Jesus é contundente: o que é de Deus deve ser dado a Deus e o que dos Césares deste mundo deve ser dado a eles. Não pode haver confusão. Jesus solicita para Deus um coração limpo, transparente, justo e disposto à conversão sincera. É uma bela oportunidade para que revisemos a fundo nossas atitudes tendo como ponto referencial o evangelho do reino.

Todos entendemos que é bom e necessário pagar impostos, desde que justos, e que eles deveriam ser revertidos em serviços públicos adequados e bons, colocados à nossa disposição, já¡ que deles necessitamos, e a noção do justo deve atender ao princípio da legalidade. Entretanto a fome de César é insaciável e ao mesmo tempo legal, mas alguma coisa precisa ser feita, especialmente na reflexão sobre onde e como evitar que haja a evasão financeira de forma indevida (não a sonegação) especialmente sobre o bolso do contribuinte religioso, que presta seu culto em amor a Deus e ao próximo, e sem perceber, vê que César invade a seara indevida.

Como costumeiramente se faz nas Igrejas, campanhas de arrecadação das ofertas, de fidelidade ao dízimo e de atendimento aos necessitados não é simples tradição, mas atos litúrgicos legítimos, mas precisamos pensar no dinheiro pago a César(governo) indevidamente, pela ignorância à matéria, e pelo temor de arriscar-se um pouco junto ao Judiciário, na tentativa de ver retornado o que indevida e injustamente vem sendo recolhido de tributos. Parece-nos uma contradição: o justo pelo injusto.

Quem fizer um levantamento na sua Igreja local e/ou obra social, ficará surpreso, e perceberá¡ que ao longo do tempo, Deus deve ter respondido a muitas orações, mas as respostas: ou não foram compreendidas, ou não foram ouvidas, ou não foram reclamadas ou não foram conquistadas... Outras surpresas: quanto dinheiro abençoado deixou de ser encaminhado às missões... Quanto se deixou de investir em coisas importantes por falta de dinheiro, e quantos apelos foram inoportunos... Quantas vezes faltou dinheiro para honrar compromissos...

Esta passagem, também pode ser vista sob outro aspecto: O político. Isto, nos leva a perguntar e a responder em seguida: A fé tem alguma coisa a ver com a política? Se olhamos o Evangelho, podemos logo dizer que tem tudo a ver!

Muitos de nós cristãos questionamos o papel da Igreja no atual cenário eleitoral brasileiro. Os argumento são vários, mas o que mais me chama a atenção é aquele que faz menção ao Evangelho onde Jesus diz: "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". Uma análise superficial pode nos conduzir a um equívoco terrível em achar que essa passagem demonstra claramente que a Igreja deve se afastar por completo de seu papel transformador da realidade injusta e perversa da nossa sociedade utilizando alguns instrumentos, como por exemplo, a Política.

"Dai a Deus o que é de Deus" mostra claramente que o mais importante é o Reino de Deus. As palavras de Cristo iluminam e servem de guia para a conduta do Cristão no mundo atual. A fé não pede que se fuja das realidades temporais; muito pelo contrário, torna-se instrumento da transformação do indivíduo e, por conseqüência, da sociedade. Esse é o elemento fundamental da instauração do Reino de Deus: "Dar a Deus o que é de Deus".

A recusa de obediência às autoridades civis, quando suas exigências são contrárias às da reta consciência, tem sua justificação na distinção entre o serviço de Deus e o serviço da comunidade política. “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. “Deve-se obedecer a Deus antes que obedecer aos homens”.

Quando analisamos o objetivo fundamental da mensagem Cristã, percebemos claramente a sua finalidade: Deus. E, como chegar até Ele? Diversos caminhos são exemplificados. E, num Continente profundamente mergulhado na exclusão social como o nosso, a Política é a que mais carece de ação pastoral. Porém, vale destacar que ela é Meio. E como tal, se demonstra como ferramenta da ação transformadora para a vinda do Reino. Porém, jamais será Fim. Ela não se basta em si mesma. Ela conduz a uma nova realidade necessária para que o homem chegue até Deus e conseqüentemente ao seu Reino de paz e justiça!

Tão equivocado quanto se alienar dos processos políticos de nossa sociedade achando que a busca pelo Reino de Deus passa apenas pela oração e pelo espírito, é acreditar que a Política é, por si só, o mecanismo de estabelecimento da verdade plena do Evangelho. Ela é meio de chegar à justiça, mas não é Fim. A meta principal e alimentadora da Verdade plena é o próprio Cristo.

Outro equívoco freqüentemente cometido pelos nossos irmãos e membros de nossa sociedade é a busca incessante pela Paz sem se preocupar com a sua causa. Não. Não estou pregando que buscar a Paz é um equívoco ou fazendo qualquer alusão pela Violência. Apenas questionando as formas de lutar pela Paz, convidando o leitor amigo a refletir sobre os caminhos que conduzem até ela. O principal deles é a justiça. Não existe paz sem justiça. Ela sempre será a via principal para se chegar a Paz. Da mesma forma como a Política é uma das vias para se chegar ao Reino de Deus.

O segredo de uma política eficiente não está na forma de governo (monarquia, democracia, etc) e nem no regime político (parlamentarismo, presidencialismo), mas na aplicação prática dos princípios morais e civis da lei de Deus.

Em suma a Bíblia valoriza a Política e os políticos. A primeira porque faz parte da própria essência administrativa de Deus. Os segundos porque são agentes de Deus (quer estejam conscientes ou não disso; quer acreditem ou não nisso) a fim de governarem com seriedade para que Deus seja glorificado e o povo respeitado.

Pois bem, aí todos concordam que existe um vínculo indissociável entre Deus e o próximo. Também entre César e Deus é preciso operacionalizar a correta relação, que o Evangelho decreta e também ensina a fazer.

Advertido do perigo que representava Herodes, o mesmo que já tinha decepado a cabeça de João Batista, Jesus não teve receio de mandar o recado conveniente: “Digam a esta raposa... que eu prossigo o meu caminho hoje e amanhã e também depois de amanhã”. Se todo bispo, todo padre, todo pastor tivesse a mesma lucidez, coragem e altivez de Cristo, muitas raposas que ainda estão empoleiradas em cargos públicos já teriam sido banidas da política.

Se os cristãos tivessem a clarividência da pequena Maria, que cedo enxergou como Deus “derruba do trono os poderosos, e eleva os humildes”, muitos corruptos que andam comprando o voto dos humildes já teriam sido derrubados dos seus tronos, feitos da prepotência do dinheiro e das trapaças do poder.

É de particular importância, hoje em dia, que os esposos e pais conheçam o ensinamento da Igreja sobre o matrimônio e a família a fim de dar sua legítima contribuição à vida política da sociedade na qual vivem. Faz parte da família cristã contribuir efetivamente para a criação de uma sociedade com leis justas.

Na criação do mundo e do ser humano, Deus ofereceu o primeiro e universal testemunho de seu amor todo poderoso e de sua sabedoria, o primeiro anúncio de seu desígnio benevolente que encontra seu fim na nova criação em Cristo. Assim a família, como realidade criada, encontra seu pleno significado somente como família cristã, como comunidade para a qual Jesus Cristo é o único salvador. Jesus faz desta comunidade um instrumento de sua obra salvífica em favor da humanidade.

Apesar das evidências desta intrincada vinculação do Evangelho com a política, muitos cristãos têm dificuldade de perceber a relação do seu voto com sua fé. Na verdade, é um desafio estabelecer a adequada correlação entre fé e política. Votar bem é um compromisso de todo cidadão. Para o cristão é, além disto, um desafio de coerência com sua fé.

A propósito, esta reflexão nos faz lembrar o discurso de Paulo Freire, quando recebeu em 1986 o Prêmio Educação para a Paz, da UNESCO. Disse ele: "De anônimas gentes, sofridas gentes, exploradas gentes aprendi sobretudo que a paz é fundamental, indispensável, mas que a paz implica lutar por ela. A paz se cria, se constrói na e pela superação de realidades sociais perversas. A paz se cria, se constrói na construção incessante da justiça social. Por isso, não creio em nenhum esforço chamado de educação para a paz que, em lugar de desvelar o mundo das injustiças, o torna opaco e tenta miopisar as suas vítimas".

Assim, buscar a Paz através da justiça é, sobretudo, um dos grandes e belos caminhos para se chegar ao Reino, ou melhor, para se trazer o Reino até nós. Assim, tanto a fé quanto a política serão agentes transformadores da nossa sociedade. Porém, isso será uma etapa. Uma etapa da implantação do Reino de Deus. Que Deus nos abençoe neste difícil caminho: Trazer o Seu Reino até nós!

A vida desafia porque é construída sobre as opções feitas a cada momento. Há opções que são geradoras dos caminhos falsos, nos seus interesses e no seu sentido último. Ao mostrar a moeda a Jesus, seus conterrâneos revelam a sua real opção. Uma opção que chega ao desatino de substituir o insubstituível, sob o risco de perdas irreparáveis, de rumos não encontrados. O risco é a opção audaciosa de substituir Deus. As conseqüências são trágicas. O tempero é a indiferença com a incapacidade de escutar as indicações do coração de Deus que sempre são favoráveis aos que precisam mais e sofrem o peso da discriminação e de toda exclusão.

O risco de substituir Deus é aquele de perder a direção certa para a misericórdia e para luta em favor dos outros. Jamais se compreenderá que a verdadeira vida é oferta. Impossível será compreender-se na condição de ofertar a própria vida pelos outros. O absurdo chega ao fato de considerar loucura a decisão de entregar a própria vida pela vida dos outros. Esta condição é longe de Deus e longe dos princípios norteadores do caminho verdadeiro da vida. Os caminhos serão sempre falsos quando se preferir a outros no lugar de Deus.

Não é fácil admitir esta verdade, Deus está acima de tudo. A dificuldade não é teórica. Ela expressa o coração humano soberbo e interesseiro. Jesus sinaliza aos seus discípulos o quanto é perigoso usurpar o lugar único de Deus. É arriscado e não é justa esta usurpação. As conseqüências são terríveis quando ela acontece. Nasce com força toda pretensão. As pretensões são perigosas demais. De modo especial é perigosa a pretensão de querer para si aquilo que pertence aos outros. A condição do discípulo é o exercício permanente para não admitir o escândalo de querer para si o que é próprio dos outros.

Particularmente, é escandaloso quando escolhas e dinâmicas de vida se tornam substitutivas de Deus. Eis a fonte de onde nascem os abusos. Deus não abusa. A terra e o povo a ele pertencem. Não se pode abrir mão destas significações ético-religiosas. Aí está a explicação para este caos vivido no mundo, encontrando apenas na capacidade de oferta a chance de uma reversão do quadro horrendo que vai dizimando grupos e pessoas.

Aqueles, pois, que não reconhecem este lugar, primeiro e insubstituível, de Deus se tornam agentes de rapinagens e se põem longe da lógica do coração de Deus. Sua paternidade empenha a vida do próprio Filho que se faz oferta, tornando-se o grande sacramento da reconciliação. Não há reconciliação sem oferta. Não se é capaz de ofertas significativas sem reconhecer que Deus está acima de tudo.

Este não reconhecimento é a porta aberta para a idolatria que alimenta o gosto pelos próprios interesses, a incapacidade para a solidariedade e não assimilação do hábito de ofertar. Só o que é de Deus é capaz de gerar vida pela oferta. Uma oferta que inclui a audácia corajosa de dispor da própria vida para o bem de todos. Este o mistério! O segredo!

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