terça-feira, 6 de março de 2012

Maria, Esposa do Espírito Santo

Excelente texto retirado do site do Opus Angelorum:
"O Espírito e a Esposa dizem "Vem!" E aquele que ouve diga: "Vem!" Aquele que o deseja, receba gratuitamente a água da vida!" (Ap. 22, 17)

Todo o Tempo Pascal é coroado pelo Pentecostes e esta vida é precedida por nove dias de expectativa, a contar da Quinta Feira da Ascensão. Aquela novena preparatória foi uma vivência cada vez mais intensa do "Vem!", do cumprimento das palavras do Mestre: "Tenho-vos dito isto, enquanto estou convosco. Mas o Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu Nome, Esse ensinar-vos-á todas as coisas e vos recor- dará tudo o que vos tenho dito" (Jo. 14,26).
Mas será que o dia de Pentecostes foi a primeira vinda do Paráclito? Não teria já anteriormente havido outros Pentecostes", isto é, outras descidas do Espírito Santo na criação?

NO ALVOR DA CRIAÇÃO

"Deus é Amor" (Jo. 4,8. 16) no Seu modo de Ser e de Existir, mas o Amor em Pessoa no seio Trinitário é o Espírito Santo. Ele é a expressão pessoal do doar-Se, desse Ser-Amor (S. Th. I a, pp 37-38). O Espírito enquanto consubstancial ao Pai e ao Filho na Divindade é Amor e Dom incriado do Qual deriva como de uma fonte, toda a dádiva em relação às criaturas, que são dom criado: mediante a criação Ele doa a existência a todas as coisas.

O princípio do dar-se Divino, que se identifica com o próprio mistério da criação, lemos: "No princípio, Deus criou os céus e a terra, e o Espírito de Deus pairava sobre as águas" (Gn. 1,1-2). Isto significa, não só o chamamento à existência das criaturas espirituais (criou os céus), mas também das materiais (criou a terra: o ser humano e todo o universo). Noutras palavras: o dom da existência inclui também a presença do Espírito de Deus na criação e, isto é o início da comunicação salvífica de Deus às coisas que cria.

Contudo São Paulo ensina-nos: "N'Ele (no Filho) foram criadas todas as coisas nos Céus e na Terra, as visíveis e as invisíveis... Tudo foi criado por ele e para Ele" (Col. 1,16). Com estas palavras paulinas fica claro que tudo existe directamente por causa do Filho. Opina o Doutor da Igreja João Duns Scoto que, mesmo que não houvesse pecado para redimir (cfr. Lectura paris, III, d. 7, q. 4), o Verbo sempre se uniria à nossa carne e habitaria entre nós, sendo o "Emanuel" (Is.7,14), que quer dizer "Deus está connosco" conforme explicaria o Anjo (cfr. Mt.1,23). Mas não podemos separar esta realidade da palavra Mariana: "Faça-se em Mim segundo a tua palavra!" (Lc. 1,37).

Por isso Deus ao "pensar" na criação e ao saber no Seu eterno presente da existência do pecado dum terço dos anjos (cfr. Ap. 12,4) e dos homens, também pensou na única resposta válida da criatura ao Criador: "Eu sou a serva do Senhor" (Lc. 1,37). Deste modo quando Ele "estendia os Céus" (Prov. 8,27) para o Seu Filho, Maria já estava no Seu eterno presente. "Quando sujeitava os abismos ao curso de leis invioláveis, quando estabelecia a abóbada dos Céus e punha as fontes das águas em equilíbrio; quando punha ao mar o seu termo e lhe impunha como lei que não violasse os seus limites; quando lançava os fundamentos da Terra, Eu já estava com Ele dispondo todas as coisas" (Prov. 8,27-30a).

Por conseguinte podemos afirmar: por Maria nos veio a criação e com ela a presença do Espírito, pois também por Seu intermédio nos foi dado o Criador conforme nos ensina o Evangelista: "Tudo foi feito por meio do Verbo e sem Ele nada foi feito" (Jo. 1,3).


NO MISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO

Com o pecado original o homem perdeu a sua dignidade original e com ele foi quebrada toda a ordem do universo (cfr. Rom.8,19-22).

Mas o Pai une a maldição da serpente à Redenção: "Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta esmagar-te-á a cabeça, ao tentares mordê-la no calcanhar" (Gn.3,15). Com estas palavras o Pai exprimiu o Seu consentimento à Encarnação de Seu Filho. Por isso Ele "quis ser, por meio de Seu amado Filho, não só Criador da humanidade mas também o autor generoso da nova Criação" (Prefácio Comum III). E na "plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei" (Gal. 4,4).

São Gabriel ao explicar como se daria a Encarnação afirma: "O Espírito Santo virá sobre Ti e a força do Altíssimo estenderá sobre Ti a Sua sombra" (Lc. 1,35).

Aí o Espírito faz n'Ela o Seu Pentecostes no começo da "nova criação". Diz-nos São Luís Maria G. Montfort que "sendo o Espírito Santo estéril em Deus, isto é, não produzindo nenhuma outra Pessoa Divina, tornou-Se fecundo por Maria, que desposou. Foi com Ela e n'Ela que formou a Sua obra-prima: um Deus feito homem. Não se quer dizer com isto que a SSma. Virgem de ao Espírito Santo a fecundidade, como se Ele a não tivesse... O que se quer dizer é que o Espírito Santo pôs em acção a Sua fecundidade por intermédio da Virgem, de quem Se quer servir, embora disso não tenha necessidade absoluta, para produzir n'Ele e por Ela Jesus Cristo" (TVD nº 21).

NO JORDÃO

"Por aqueles dias, aconteceu que Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi baptizado por João no rio Jordão, e, logo ao subir da água, ele viu os céus se rasgando e o Espírito, como uma pomba, descer até Ele, e uma voz veio dos céus: "Tu és o Meu Filho amado, em Ti Me comprazo" (Mc. 1,9-11).

Desta forma o Espírito Santo ungiu e consagrou a SSma. Humanidade do Filho de Deus. Noutras palavras: aquela carne e aquele sangue imaculado que Maria Lhe deu na Encarnação e alimentou durante 30 anos na Sua vida oculta, agora está preparada pelo Espírito para começar o Seu ministério público.

No Jordão o Consolador fez a Sua terceira vinda e ao mesmo tempo cumpre o que Isaías anunciara: "Eis o Meu servo, que Eu amparo, o Meu eleito, no Qual a Minha alma põe a Sua complacência; fiz repousar sobre Ele o Meu Espírito, para que leve às nações a verdadeira justiça" (Is. 42,1).

Este "Pentecostes" sobre Jesus no Seu Baptismo foi ao mesmo tempo o sinal que o Pai tinha dado a João para reconhecer o Messias (cfr. Jo. 1,32-34).

Desde essa hora a direcção do Espírito Santo na humanidade de Jesus, na qual reside, começa a manifestar-se. Ele parecia estar circunscrito aos limites normais da Sua actividade humano e de Seu raio de acção. É por isso que tudo o que Jesus faz é movido pelo Espírito desde a primeira coisa após o Seu Baptismo. "Em seguida, o Espírito conduziu Jesus ao deserto, a fim de ser tentado pelo demónio" (Mt. 4,1).


NO CALVÁRIO

Nas horas que a Mãe das Dores passou junto à Cruz de Seu Filho, realizou-se a plenitude do mistério do Espírito do Amor em relação a Ela.

Em Nazaré o Consolador gerou n'Ela a "Cabeça da Igreja" (Col. 1,18). Ora na ordem da criação, "a mesma mãe não pode dar à luz a cabeça sem os membros, nem os membros sem a cabeça. Do mesmo modo na ordem da graça, a Cabeça e os membros nascem duma mesma Mãe" (TVD nº 32).

Para essa geração dos membros do Seu Filho, o Paráclito baixa sobre Ela como num Pentecostes, quando estava sob a Cruz. Aqui não é mais um Anjo que Lhe anuncia a Sua nova maternidade, é o próprio Deus Humanado que da Cruz diz-Lhe: "Mulher, eis aí o teu filho!" (Jo. 19,26). Em Nazaré Maria tinha dito o Seu "SIM" em palavras; no Calvário repetiu-o silenciosamente ao aceitar ser recebida em casa do discípulo (cfr. Jo. 19,27).

Aqui deu-se a "Anunciação" da Maternidade Eclesial da Mãe, mas para que Ela concebesse, a morada do Espírito teve que ser rasgada: "Chegando a Jesus e vendo-o já morto, não Lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados transpassou-Lhe o lado com uma lança e logo saiu sangue e água" (Jo. 19,34). O sangue (cfr. Lv. 1,5ss; Ex. 24,8ss) testemunha a realidade do sacrifício do cordeiro imolado para a salvação do mundo (cfr. Jo. 6,51). A água, é símbolo do Espírito e da Sua fecundidade (cfr. nota "E" da Bíblia de Jerusalém sobre Jo. 19,34).

Esta fecundidade pousou sobre a Mãe do novo Povo de Deus, que daria à luz 50 dias após a Páscoa.

NO CENÁCULO DE JERUSALÉM

M. Join Lambert e P. Grelot ("Temps" in VTB, 1053/4), afirmam: "Entre a Ascensão e o fim dos tempos, em que sedará a segunda vinda de Cristo, situa-se o tempo da Igreja".

Por isso no momento da Ascensão Maria estava presente quando Jesus fez a promessa: "O Espírito Santo descerá sobre vós e d'Ele recebereis a força. Sereis, então, Minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da terra" (Act. 1,8). Continua São Lucas a narrativa: "Então, do monte que se chama das Oliveiras, voltaram a Jerusalém... Tendo entrado na cidade subiram à sala superior, onde habitualmente ficavam. Todos unânimes, eram assíduos à oração com algumas mulheres, entre as quais Maria, Mãe de Jesus" (Act. 1,12-14).

Se pela força das Suas súplicas Ela abriu o Coração do Pai para a Encarnação do Verbo, e conseguiu o que os desejos dos Patriarcas, os suspiros dos Reis ou as ânsias dos Profetas se mostraram ineficazes, também foi pela beleza do Seu ser e preces que o Espírito Santo Se deixou novamente atrair, e desce por Ela à Igreja, que dá à luz de manhã cedo ao chegar o décimo dia depois da Ascensão (cfr. Act. 2, 1-4a).

EM CADA CRISTÃO

"Este derramar o Espírito sobre a comunidade - afirma Schenackenburg - é um equivalente comparável à unção pessoal do Messias no Baptismo para a Sua actividade terrestre" (KNT, 60). Assim o Espírito desce sobre os membros da comunidade, como desceu sobre Cristo e toma posse deles, enquanto toma posse dos Doze.

A estes é comunicado o Espírito Santo e tornam-se os portadores e transmissores originários do Espírito e como tais testemunhas da Ressurreição e era com grande poder que davam esse testemunho (cfr. Act. 4,33). Os "Doze", cheios do Espírito Santo, enchem o mundo com este Espírito.., sempre em novos Pentecostes (cfr. Act. 8.14-17; 10,44-47; 19,1-7; Rom. 15,16).

Afirma São Luís Maria G. Montfort: "O procedimento que a SSma. Trindade teve na primeira vinda de Jesus Cristo, tem-no ainda todos os dias, duma maneira invisível, na Santa Igreja, tê-lo-ão até à consumação dos séculos" (TVD n. 22).

Assim Deus Espírito Santo quer formar em Maria e por Maria os eleitos e diz-Lhe: "Lança raízes entre os Meus eleitos" (Ecli. 24, 13). Lança raízes com os Meus Dons em Ti nos Meus ungidos, a fim de que cresçam de virtude em virtude e de graça em graça!
Que o Entendimento produza novas almas virgens e consagradas que,
entendendo o chamamento divino digam o SIM e inflamem o mundo!

Que a Sabedoria dê novos teólogos e doutores da Igreja que,
penetrando rectamente nos divinos Mistérios, renovem a Igreja!

Que o Conselho suscite novos Sacerdotes e Ministros Sagrados que,
com a sua palavra sarem tantas chagas nos corações!

Que a Ciência produza novos pais e mães que,
iluminados pela ciência divina, transformem os seus lares em santuários!

Que a Fortaleza gere novos mártires e confessores que,
com o seu heroísmo sejam semente de novos cristãos.

Que o Santo Temor conceba novos jovens puros e renovados,
de modo a serem suave incenso que sobe ao céu!

Que a Piedade conceda novos templos que,
com a sua piedade aqueçam todos os recantos do mundo!

"Depois de Maria lançar as Suas raízes numa alma, opera nela maravilhas de graça... Maria produziu com o Espírito Santo a maior maravilha: o Homem-Deus! E produzirá, consequentemente as coisas mais admiráveis que hão-de existir nos últimos tempos: a formação e educação de grandes santos" (TVD n. 35).

"Tendo-A encontrado numa alma, o Espírito Santo Seu Esposo, voa para lá, entra plenamente e comunica-Se a essa alma abundantemente e na mesma medida em que a alma dá lugar à Sua Esposa; e uma das grandes razões por que o Espírito Santo não opera agora maravilhas retumbantes nas almas é porque não encontra nelas uma união bastante íntima com a Sua fiel e indissolúvel Esposa... E indissolúvel Esposa, porque desde que o Amor Incriado A desposou para Jesus Cristo, a Cabeça dos eleitos, e Jesus Cristo nos eleitos, nunca mais A repudiou, porque ela foi sempre fiel e fecunda" (TVD n. 36).



NA CONSUMAÇÃO

O sétimo e definitivo Pentecostes se dará no momento da realização da visão joanina: "Vi, então, um novo céu e uma nova Terra, porque o primeiro céu e a primeira Terra haviam desaparecido, e o mar já não existia" (Ap. 21,1).

Das cinzas do primeiro céu e da primeira terra que foram corrompidos pelo pecado, mas abertos pela Redenção ao retorno à Casa do Pai pela acção santificadora do Espírito em Maria, surgirá o novo e definitivo Céu e Terra "liberta enfim, da corrupção do pecado e da morte" (Or. Euc. IV). E surgirá como "a cidade santa, a nova Jerusalém... bela como uma esposa que se ataviou pare o seu esposo. E ouvi outra grande voz, que dizia: "Eis aqui o tabernáculo de Deus entre os homens! Habitará com eles, serão o Seu povo e o próprio Deus estará com eles" (Ap. 21,3).

Pensando EM Maria o Pai pronunciou o "Faça-se!" no alvor da criação. COM a cooperação de Maria o Filho operou a Redenção na plenitude dos tempos; POR Maria o Espírito realizará a entrada nesta Cidade Santa dos que estiverem à direita do Rei da Glória, juntamente com os Anjos fiéis e a criação santificada.

Não é por acaso que a Igreja na sua liturgia nas Missas Marianas apresenta a Nova Jerusalém como imagem d'Aquela que invocamos como "Porta do Céu".

Por Maria todos entrarão na Casa do Pai, a Cidade de Deus e aí "Ele enxugará as lágrimas dos seus olhos; não haverá mais morte, nem pranto, nem gritos, nem dor, porque as primeiras coisas passaram" (Ap. 21,4).

Esta definitiva maravilha se realizará graças à palavra "d'Aquele que estava sentado no trono, que disse: "Eis que renovo todas as coisas!... E acrescentou:

"Está feito! Eu sou o Alfa e o Ómega, o princípio e o fim. Aquele que tiver sede dar-lhe-ei a beber gratuitamente da fonte da água da vida. O que vencer, possuirá estas coisas; Eu serei Seu Deus e ele será Meu filho!" (Ap. 21 ,5-6)

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