quarta-feira, 7 de setembro de 2011

NEM LIXO NEM LUXO - Pe Zezinho scj


 Pe Zezinho scj


Parecia humildade, mas não era. A humilde moça, diante das câmeras, dizia: -Eu não sou nada, eu não valho nada, não sou ninguém. Estava dizendo uma coisa muito bonita e encantadora, mas não era catequese correta. Também o rapaz que cantou que nada era diante de Jesus foi longe demais. Pedi licença para corrigi-los. Se foram batizados e serviam o seu povo, então eram alguém. E mesmo que não o fizessem, ainda o eram. Para Deus e para a Igreja sempre somos alguém. Foram humildes, mas errados!

Um culto sacerdote italiano, já falecido, usou uma vez em missa que com ele concelebrei, a expressão "alcunizzare" para lembrar que Jesus veio nos tornar alguém e tirar-nos da sensação de que nada somos. Um pôster que eu trouxe dos Estados Unidos, que me encantava e que, para minha tristeza me foi roubado após uma palestra por algum fiel pouco fiel, mostrava um menino de cerca de oito anos, roupa puída, cabelo desgrenhado, rostinho sujo e queixo posado sobre uma mureta dizia: I know I am somebody, cause God don´t make no junk! Sei que sou alguém porque Deus não fabrica lixo!

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Está aí uma espiritualidade que muitos cantores e pregadores deveriam assimilar e ensinar. Nem luxo, nem lixo.... Nem igrejas do desmazelo, nem igrejas da prosperidade: igrejas do desprendimento, da riqueza simples e da pobreza honrada... Mas isso dependerá dos pregadores, dos quais alguns parecem idolatrar a pobreza como um bem em si mesmo e outros o dinheiro como um objetivo irrenunciável.

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Um desses pregadores dizia, provocando o riso dos seus ouvintes que ele não era bobo. Ele queria muito dinheiro e muito conforto, porque era filho de Deus. Querer mais riquezas era a fonte de progresso para o mundo... E fazia carretas imitando os pobres e humildes demais. Pensei em Max Weber, William James, John Dewey, no utilitarismo inglês e no pragmatismo americano, no estoicismo grego e romano, no liberalismo e nos documentos da Igreja sobre pobreza, riqueza e poder. Não imaginei nos meus anos de estudo que ouviria na televisão um pregador exaltar os que buscam riqueza e ridicularizar os que buscam uma vida sóbria, como Paulo propõe na 1Tm 6,17 e na 2 Tm 3,1-10; Tito 2,12. Soou como se dissesse que bem-aventurados são os que buscam ter mais porque deles vem o progresso na terra. Aliás, foi o que disse. Foi na direção contrária ao que se afirma em Mateus: Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus ( Mt 5,3) São os novos cristãos utilitaristas.
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Têm os cristãos o direito de se expressar dessa forma? Valemos, sim, alguma coisa, somos alguém apesar de nossos defeitos e pecados, Deus nos deu valor e não nos teria criado para sermos como as pedras. Até a elas, às vezes, se acrescentam valores. Por isso se chamam preciosas. Nada errado, pois em querer sucesso e gozar de algum conforto. Mas exaltar a riqueza como um bem que vem da prática do evangelho e rir de quem escolheu a pobreza como se fosse um coitado e um fracassado é rir de São Francisco, de Santa Clara, e de milhares de santos que fizeram o caminho inverso deles. (Continua).

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