quinta-feira, 29 de setembro de 2011

PREGADORES PREPARADOS - Pe Zezinho scj

 Pe Zezinho scj

Embora o Documento de Aparecida não tenha tocado no assunto "expressar-se", ao falar da absoluta necessidade de preparar pregadores e catequistas para a o uso da mídia para missionários subentendeu nos números 484 a 498, principalmente no 492 que precisamos formar pensadores. Sabemos que alguém é um pensador a partir do que ele diz ou escreve.

Não vai aqui nenhum desrespeito aos jovens que hoje, nas mais diversas igrejas, estudam em cursos de filosofia e de teologia para serem pregadores da fé. São sinceros, levam vida digna e seu zelo chega a ser admirável. Certamente merecem uma chance. Mas merecem também a chance de melhor preparo para o ministério da Palavra.

É muito grande, tristemente grande o número de estudantes leigos e seminaristas que, numa redação de 30 linhas ou numa fala de 3 minutos cometem mais de 30 erros de dicção, de concordância, de acentuação, de precisão, de uso inadequado de termos. Falhou a família, falhou a escola, falharam as escolas de filosofia e de teologia. É triste ver numa entrevista coletiva como em empresários, dirigentes, secretários, políticos, jornalistas às vezes dominam a linguagem e expressam-se melhor e com maior conteúdo do que os sacerdotes ali presentes. Há, é claro, os sacerdotes bem preparados, mas é desoladoramente grande o número do que não sabem falar português.

Uma professora de redação que, sem conhecer os alunos, corrigiu 200 provas, deu nota 0, nota 1 e nota 3 para 93 deles. Notas de 8 a 10, apenas 15 deles mereceram. A conclusão dela foi dura: eles não sabem falar, nem escrever e demonstram dificuldade de raciocinar.

E pensar que serão sacerdotes dentro de três ou quatro anos! Não é culpa deles. Mas deveria haver em todas estas faculdades ou seminários um curso intensivo de lógica, de leitura e de gramática. Talvez se ofendam ao ouvir isso. Leciono e pesquiso comunicação há mais de 35 anos e assino em baixo do que disse. O que pensar? Alguém, que em três anos será sacerdote, sobre o tema "violência, justiça e paz" escreveu numa revista da escola:

-Sendo que estamos ficando um povo cada dia mais violento, com essa alcatéia toda no Congresso e nas ruas, que, diga-se de passagem, excusados é dizer que jamais parou para pensar quem somos e o que estamos sendo, importante é educar a geração futura na nobreza de pensamentos nobre e fraternos!

Encontraremos tais redações em testes ou até publicações de alunos e alunas de pedagogia, de engenharia, de direito, de filosofia e de teologia. Alguém, em dado momento, não se deu conta de que seus alunos não tinham aprendido a expressar-se. Não interagiu. Não fez por eles! É uma das razões pelas quais nos últimos 40 anos tenho insistido na importância de ler. Professores que ajudam e livros que empolgam podem fazer a diferença. Lia Luft, Machado de Assis, Mia Couto, Clarice Lispector, Ariano Suassuna e colunas de revistas e jornais já transformaram jovens,que escreviam e falavam mal,em excelentes comunicadores. Decidiram mudar, anotaram, sublinharam, corrigiram-se e deram a volta por cima.

Cinco jovens seminaristas que sonhavam ser formadores de opinião deram a volta por cima. Fui categórico. Disse-lhes que não chegariam lá se, primeiro, não aprendessem a ser bons construtores de frases. Tinham um pensamento, mas não sabiam vesti-lo de palavras adequadas. Pessoas mal vestidas em algumas situações parecem ridículas... Pensamentos também! Todos eles falam e escrevem, hoje, de maneira que impressiona. Corrigiam as falhas da escola e do seminário. Tornaram-se leitores e aprendizes de pregação.

http://www.padrezezinhoscj.com/
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