Deus veio até sua casa, desdizendo-se de sua glória.
Pediu licença ao ventre de uma menina sacudido por um decreto de César e se tornou um de nós: um palestino entre tantos, em sua rua, em número, semi-artesão de toscas tarefas, que vê passar os romanos e as andorinhas, que morre depois, de morte ruim, matada, fora da cidade.
Já sei que faz muito que o sabeis, que vo-lo dizem, que o sabeis friamente porque vo-lo disseram com palavras frias... eu quero que o saibais de repente, hoje, quiça, pela primeira vez, absortos, desconcertados, livres de todo mito, livres de tantas mesquinhas liberdades.
Quero que vo-lo diga o Espírito, qual machadada em tronco vivo!
Quero que sintais como um esto de sangue no coração da rotina, em meio a esta carreira de rodas entrechocadas.
Quero que tropeceis com ele como se tropeça com a porta de casa, retornados da guerra, sob o olhar e o beijo impaciente do Pai.
Quero que o griteis como um alarido de vitórias pela guerra perdida, ou como o parto sangrante da esperança no leito de vosso tédio, noite adentro, apagada toda ciência.
Quero que o encontreis, em um total abraço, companheiro, amor, resposta.
Podereis duvidar de que haja vindo para casa, se esperais que vos mostre a patente dos prodígios, se quereis que vos sancione a desídia da vida.
Mas não podeis negar que seu nome é Jesus, com patente de pobre.
E não podeis negar-me que o estais esperando com a louca carência de vossa vida rejeitada como se espera o sopro para sair da asfixia quando a morte já se enroscava ao pescoço, como uma serpente de perguntas.
S eu nome é Jesus.
Seu nome é como seria nosso nome se fôssemos de verdade, nós mesmos.
Pedro Casaldáliga
Referência: Mensagens para o ano todo - Vol 02
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