Saber tirar do tesouro coisas novas e
velhas
Naquele tempo, disse Jesus à multidão:
47 'O Reino dos Céus é ainda como uma rede lançada ao mar
e que apanha peixes de todo tipo.
48 Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia,
sentam-se e recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os que não prestam.
49 Assim acontecerá no fim dos tempos:
os anjos virão para separar os homens maus dos que são justos,
50 e lançarão os maus na fornalha de fogo.
E ai, haverá choro e ranger de dentes.
51 Compreendestes tudo isso?'
Eles responderam: 'Sim.'
52 Então Jesus acrescentou:
'Assim, pois, todo mestre da Lei,
que se torna discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família
que tira do seu tesouro coisas novas e velhas.'
53 Quando Jesus terminou de contar essas parábolas, partiu dali.
Reflexão
O evangelho de hoje nos apresenta a última
parábola do Discurso das Parábolas. A história da rede lançada ao mar. Esta
parábola se encontra só no evangelho de Mateus, sem nenhum paralelo com os
outros três.
Mateus 13,47-48: A parábola da
rede lançada ao mar. “O Reino dos Céus é ainda como uma rede lançada ao
mar e que apanha peixes de todo tipo. Quando está cheia, os pescadores puxam a
rede para a praia, sentam-se e recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os
que não prestam”. A comparação narrada era bem conhecida pelas pessoas da
Galileia que viviam ao redor do lago. Era o trabalho delas. A história espelha o
final de um dia de trabalho. Os pescadores saem para pescar com um único
objetivo: lançar a rede e apanhar muitos peixes, arrastar a rede até à praia,
escolher os peixes bons para levar para casa e jogar fora os que nos servem.
Descreve a satisfação do pescador, no final de um dia de trabalho cansativo e
massacrante. Esta história deve ter iluminado o rosto dos pescadores que ouviam
Jesus com um sorriso de satisfação. O pior era chegar para a praia no final de
um dia de trabalho e não ter pescado nada (Jo 21,3).
Mateus 13,49-50: A aplicação da
parábola. Jesus aplica a parábola, ou melhor dá uma sugestão para que
as pessoas possam discutir e aplicar a parábola em suas vidas: “Assim acontecerá
no fim dos tempos: os anjos virão para separar os homens maus dos que são
justos, e lançarão os maus na fornalha de fogo. E ai, haverá choro e ranger de
dentes”. Como entender esta fornalha de fogo? São imagens fortes para descrever
o destino daqueles que se separam de Deus ou não querem saber nada de Deus. Em
cada cidade existe o lixão, onde se lançam os detritos e a sujeira. Aí existe um
fogo permanente que queima a sujeira. O lixão de Jerusalém estava localizado num
vale chamado Geena, onde, na época dos reis, havia uma fornalha até para queimar
os falsos deuses. Por isso, a fornalha da Geena tornou-se o símbolo da exclusão
e da condenação. Não é Deus quem exclui. Deus não quer a exclusão e a condenação
de ninguém, quer que todos tenham vida e vida em abundância. Cada um de nós
exclui a si mesmo.
Mateus 13,51-53: O final do
Discurso das Parábolas. No fim do Discurso das Parábolas, Jesus conclui
com a seguinte pergunta: “Compreendestes tudo isso?' Eles responderam: 'Sim.'” E
Jesus termina a explicação com outra comparação que descreve o resultado que
quer obter com as parábolas: “Por isso todo mestre da Lei, que se torna
discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família que tira do seu tesouro
coisas novas e velhas”.
Dois pontos para
esclarecer:
(a) Jesus compara o doutros
da lei ao pai de família. O que faz o pai de família? “Tira de seu tesouro
coisas novas e coisas velhas”. A educação em casa se dá através da transmissão
aos filhos e às filhas daquilo que os pais receberam e aprenderam com o tempo. É
o tesouro da sabedoria familiar onde está guardada a riqueza da fé, os usos da
vida e muitas outras coisas que os filhos aprendem com o passar do tempo. Jesus
quer agora que na comunidade as pessoas responsáveis pela transmissão da fé
sejam como o pai de família. Assim como os pais são responsáveis pela vida em
família, assim estas pessoas responsáveis pelo ensino devem entender as coisas
do Reino e transmiti-las aos irmãos e às irmãs na comunidade.
(b) Trata-se de um doutor da
Lei que se torna discípulo do Reino. Havia, portanto, doutores da lei que
aceitavam Jesus, e nele viam aquele que revelava o Reino. Assim acontece com um
doutor quando descobre em Jesus o Messias, o filho de Deus? Tudo o que ele
estudou para poder ser doutor da lei continua a ser válido, mas recebe uma
dimensão mais profunda e uma finalidade mais ampla. Uma comparação pode
esclarecer o que acabamos de afirmar. Num grupo de amigos um apresenta uma foto,
onde se vê um homem de rosto severo, com o dedo levantado, quase agredindo o
público. Todos pensam que se trate se uma pessoa inflexível, exigente, que não
permite intimidade. Naquele momento, chega um jovem, vê a foro e exclama: “É meu
pai!” Os outros os olham e comentam: “Pai severo, verdade?” Ele responde: “Não,
não! É muito afetuoso. Meu pai é advogado. Essa foto foi tirada no tribuna,
enquanto denunciava o crime de um latifundiário que queria expulsar uma família
pobre da casa onde morava há muitos anos! Meu pai ganhou a causa. E aquela
família ficou na casa!” Todos o olham e dizem: “Bacana! Simpático!” Quase por
milagre, a foto iluminou aquele rosto e ele assumiu outra luz. Aquele rosto, tão
severo, adquiriu os traços de uma grande ternura! As palavras do filho, nascidas
de sua experiência de filho, mudaram tudo, sem mudar nada! As palavras e os
gestos de Jesus, nascidas de sua experiência de filho, sem mudar uma letra ou
uma vírgula, iluminaram a partir de dentre a sabedoria acumulada pelo doutor da
Lei. E assim Deus que parecia tão distante e severo, adquiriu os traços de um
Pai de bondade e de enorme ternura!
Para uma avaliação pessoal
1. A experiência do Filho
penetrou em ti e mudou teu olhar, ajudando-te a descobrir as coisas de Deus de
outro modo?
2. O que te revelou o
Discurso das Parábolas sobre o Reino?
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