Ser rico diante de
Deus
Lucas 12,13-21
Naquele tempo:
13 Alguém, do meio da multidão, disse a Jesus:
'Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo.'
14 Jesus respondeu:
'Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?'
15 E disse-lhes:
'Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância,
porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas,
a vida de um homem não consiste na abundância de bens.'
16 E contou-lhes uma parábola: 'A terra de um homem rico deu uma grande colheita.
17 Ele pensava consigo mesmo: 'O que vou fazer?
Não tenho onde guardar minha colheita'.
18 Então resolveu: 'Já sei o que fazer!
Vou derrubar meus celeiros e construir maiores;
neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens.
19 Então poderei dizer a mim mesmo:
- Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos.
Descansa, come, bebe, aproveita!'
20 Mas Deus lhe disse: 'Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida
.E para quem ficará o que tu acumulaste?'
21 Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo,
mas não é rico diante de Deus.'
Reflexão
O episódio narrado no
evangelho de hoje é relatado só pelo Evangelho de Lucas e não possui outro
semelhante nos outros evangelhos. Faz parte da longa descrição da viagem de
Jesus, da Galileia até Jerusalém (Lc 9,51 a 19,28), em que Lucas insere a
maioria das informações que conseguiu reunir sobre Jesus e que não se encontra
nos outros três evangelhos (cfr. Lc 1,2-3). O evangelho de hoje traz a resposta
de Jesus à pessoa que lhe pede para ser mediador na partilha de uma
herança.
Lucas 12,13: Um
pedido para distribuir a herança. “Alguém, do meio da multidão, disse a
Jesus: ‘Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo’”. Ainda hoje, a
distribuição da herança entre os familiares é uma questão delicada e, muitas
vezes, ocasião de disputas e de tensão sem fim. Naquele tempo, a herança tinha a
que ver com a identidade das pessoas (1 Re 21,1-3) e com sobrevivência (Nm
27,1-11; 36,1-12). O maior problema era a distribuição das terras entre os
filhos do falecido pai. Sendo a família grande, havia o perigo que a herança se
dividisse em pequenos pedaços de terra que não teria mais conseguido garantir a
sobrevivência de todos. Por isto, para evitar a pulverização da herança e manter
vivo o nome da família, o primogênito recebia o dobro dos outros filhos (Dt
21,17. cfr. 2Rs 2,11).
Lucas 12,14-15:
Resposta de Jesus: atenção à ganância. Jesus responde:
“Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?” Na resposta de
Jesus aparece a consciência que ele tem da missão. Jesus não se sente enviado
por Deus a responder aos pedidos de ser juiz entre parentes que brigam entre si
pela distribuição da herança. Mas o pedido daquele homem o leva à missão de
orientar as pessoas, porque “Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de
ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não
consiste na abundância de bens”. Fazia parte de sua missão iluminar as pessoas
sobre o sentido da vida. O valor de uma vida não consiste em possuir muitas
coisas, mas em ser rico para deus (Lc 12,21). Porque, quando o lucro ocupa o
coração, o homem não sabe como distribuir a herança com equidade e com a
paz.
Lucas 12,16-19: A
parábola que faz pensar ao sentido da vida. Em seguida Jesus narra uma
parábola para ajudar as pessoas para refletir sobre o sentido da vida: “A terra
de um homem rico deu uma grande colheita. Ele pensava consigo mesmo: ‘O que foi
fazer? Não tenho onde guardar minha colheita’”. O homem rico era mesmo fixado
com a preocupação pelos seus bens que aumentavam improvisamente por causa de uma
colheita abundante. Pensa só em acumular para garantir para si uma vida sem
preocupações. Ele pensa comigo mesmo: “Já sei o que vou fazer! Vou derrubar meus
celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os
meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tu tens uma boa reserva
para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!’”
Lucas 12,20:
Primeira conclusão da parábola. “Mas Deus lhe disse: ‘Louco! Ainda
nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu
acumulaste?’” A morte é uma chave importante para descobrir o verdadeiro sentido
da vida. Torna tudo relativo, porque faz ver tudo o que passa e o que fica. Quem
busca só ter e esquece ser, perde tudo na hora da morte. Aqui é evidente uma
referência aos livros sapienciais: porque acumular os bens nesta vida, se não
sabem onde acabarão os bens que acumulaste, se não sabes o que fará deles o
herdeiro a quem os deixastes? (Ecl 2,12.18-19.21).
Lucas 12,21: Segunda
conclusão da parábola. “Assim acontece com quem ajuda tesouro para si
mesmo, mas não é rico diante de Deus”. Como se tornar rico para Deus? Jesus dá
várias sugestões e conselhos: Quem quer ser o primeiro, seja o último (Mt 20,27;
Mc 9,35; 10,44); é melhor dar que receber (At 20,35); o maior é o menor (Mt
18,4; 23,11; Lc 9,48) salva sua vida que a perde (Mt 10,39; 16,25; Mc 8,35; Lc
9,24).
Para uma avaliação pessoal
1. O homem pede a Jesus
para ajudá-lo na partilha da herança. E tu o que pedes a Jesus em tuas
orações?
2. O consumismo cria
necessidade e desperta em nós a vontade de lucro. O que tu fazes para não ser
vítima do lucro, imposto pelo consumismo?
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