Procissão - Lc 19,28-40
Naquele tempo:
28 Jesus caminhava à frente dos discípulos, subindo para Jerusalém.
29 Quando se aproximou de Betfagé e Betânia, perto do monte chamado das Oliveiras,
enviou dois de seus discípulos, dizendo:
30 'Ide ao povoado ali na frente. Logo na entrada encontrareis um jumentinho amarrado, que nunca foi montado. Desamarrai-o e trazei-o aqui.
31 Se alguém, por acaso, vos perguntar: 'Por que desamarrais o jumentinho?',
respondereis assim: 'O Senhor precisa dele'.'
32 Os enviados partiram e encontraram tudo exatamente como Jesus lhes havia dito.
33 Quando desamarravam o jumentinho, os donos perguntaram:
'Por que estais desamarrando o jumentinho?'
34Eles responderam: 'O Senhor precisa dele.'
35 E levaram o jumentinho a Jesus.
Então puseram seus mantos sobre o animal e ajudaram Jesus a montar.
36 E enquanto Jesus passava, o povo ia estendendo suas roupas no caminho.
37 Quando chegou perto da descida do monte das Oliveiras, a multidão dos discípulos,
aos gritos e cheia de alegria, começou a louvar a Deus por todos os milagres que tinha visto.
38 Todos gritavam: 'Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor!
Paz no céu e glória nas alturas!'
39 Do meio da multidão, alguns dos fariseus disseram a Jesus:
'Mestre, repreende teus discípulos!'
40 Jesus, porém, respondeu: 'Eu vos declaro: se eles se calarem, as pedras gritarão.'
Reflexão 1:
Este domingo sagrado celebra dois
mistérios:
(1) a entrada
solene do Senhor Jesus em Jerusalém para viver sua Passagem do mundo para o Pai
e
(2) o Mistério
de sua Paixão, morte e sepultura. Daí o título deste dia: domingo de Ramos e da
Paixão. A procissão é de ramos; a missa é da paixão.
Que significa a entrada de Jesus em Jerusalém hoje? Ele é o descendente de Davi, o Filho de Davi e, portanto, o Messias prometido por Deus e esperado por Israel. Por isso o povo grita: “Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor!” Jesus é saudado como o Rei de Israel, novo Davi, Messias que chega à Cidade de Davi! E Jesus, de fato, é Rei, é Messias! A festa de hoje é, em certo sentido, uma festa de Cristo Rei, Rei-Messias! É uma festa de exultação! Mas, estejamos atentos: ele entra na Cidade Santa montado não num cavalo, que simboliza poder e força, mas entra num jumentinho, usado pelos pobres nos serviços mais humildes e duros. Isto tem muito a nos dizer: Jesus é o Messias, mas um messias pobre, um messias servo, que “não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc. 10,45). O seu serviço é um só: “dar a vida em resgate por muitos”. Ele é o Messias-Servo Sofredor, do qual fala o profeta Isaías na primeira leitura da missa de hoje: "Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba; não desviei o rosto de bofetões e cusparadas... Mas o senhor Deus é meu Auxiliador, por isso sei que não serei humilhado". Ele é aquele que tomará sobre si as nossas faltas e será ferido pelas nossas feridas... Pois bem, é com este propósito que Jesus entra em Jerusalém hoje.
Quanto a nós, vamos com ele! Os ramos que trazemos nas mãos significam que reconhecemos Jesus como o Messias de Israel, prometido por Deus. Significam também que nos dispomos a segui-lo como o Servo que dá a vida na cruz. Levaremos estes ramos para casa. Devemos guardá-los num lugar visível durante todo o ano, para recordar nosso compromisso de seguir o Cristo num caminho de humildade e despojamento; segui-lo ainda quando não compreendermos bem os desígnios de Deus para nós... Seguir o Cristo, que confia no Pai até a morte e não se cansa de fazer da vida um serviço de amor. Seguir hoje em procissão com os ramos na mão significa proclamar diante do mundo que cremos nesse Jesus fraco, humilde, silencioso, crucificado... loucura para o mundo, mas sabedoria de Deus; fraqueza para o mundo, mas força de Deus!
Rejeitemos, então, por amor de Cristo, toda visão de um cristianismo de procura de curas, milagres, solução de problemas... um cristianismo que trai o Evangelho e renega a cruz de nosso Senhor Jesus Cristo... um cristianismo falso, que enche templos e esvazia o escândalo da cruz! Lembremo-nos de Jesus Cristo! “Fiel é esta palavra: se com ele morremos, com ele viveremos. Se com ele sofremos, com ele reinaremos!” (2 Tm. 2,11s).
Que tenhamos a coragem de proclamar com a vida e as palavras esse Jesus, porque se nos calarmos “as pedras gritarão”...
Que significa a entrada de Jesus em Jerusalém hoje? Ele é o descendente de Davi, o Filho de Davi e, portanto, o Messias prometido por Deus e esperado por Israel. Por isso o povo grita: “Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor!” Jesus é saudado como o Rei de Israel, novo Davi, Messias que chega à Cidade de Davi! E Jesus, de fato, é Rei, é Messias! A festa de hoje é, em certo sentido, uma festa de Cristo Rei, Rei-Messias! É uma festa de exultação! Mas, estejamos atentos: ele entra na Cidade Santa montado não num cavalo, que simboliza poder e força, mas entra num jumentinho, usado pelos pobres nos serviços mais humildes e duros. Isto tem muito a nos dizer: Jesus é o Messias, mas um messias pobre, um messias servo, que “não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc. 10,45). O seu serviço é um só: “dar a vida em resgate por muitos”. Ele é o Messias-Servo Sofredor, do qual fala o profeta Isaías na primeira leitura da missa de hoje: "Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba; não desviei o rosto de bofetões e cusparadas... Mas o senhor Deus é meu Auxiliador, por isso sei que não serei humilhado". Ele é aquele que tomará sobre si as nossas faltas e será ferido pelas nossas feridas... Pois bem, é com este propósito que Jesus entra em Jerusalém hoje.
Quanto a nós, vamos com ele! Os ramos que trazemos nas mãos significam que reconhecemos Jesus como o Messias de Israel, prometido por Deus. Significam também que nos dispomos a segui-lo como o Servo que dá a vida na cruz. Levaremos estes ramos para casa. Devemos guardá-los num lugar visível durante todo o ano, para recordar nosso compromisso de seguir o Cristo num caminho de humildade e despojamento; segui-lo ainda quando não compreendermos bem os desígnios de Deus para nós... Seguir o Cristo, que confia no Pai até a morte e não se cansa de fazer da vida um serviço de amor. Seguir hoje em procissão com os ramos na mão significa proclamar diante do mundo que cremos nesse Jesus fraco, humilde, silencioso, crucificado... loucura para o mundo, mas sabedoria de Deus; fraqueza para o mundo, mas força de Deus!
Rejeitemos, então, por amor de Cristo, toda visão de um cristianismo de procura de curas, milagres, solução de problemas... um cristianismo que trai o Evangelho e renega a cruz de nosso Senhor Jesus Cristo... um cristianismo falso, que enche templos e esvazia o escândalo da cruz! Lembremo-nos de Jesus Cristo! “Fiel é esta palavra: se com ele morremos, com ele viveremos. Se com ele sofremos, com ele reinaremos!” (2 Tm. 2,11s).
Que tenhamos a coragem de proclamar com a vida e as palavras esse Jesus, porque se nos calarmos “as pedras gritarão”...
Reflexão 2 - Bento XVI
CIDADE DO VATICANO, domingo, 1º de abril de 2007 - Publicamos a homilia pronunciada por Bento XVI na celebração solene do Domingo de Ramos. Na missa que ele presidiu na Praça de São Pedro, no vaticano, participaram jovens de Roma e do mundo por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, que neste ano tem o tema: «Que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei» (Jo 13, 34).
Queridos irmãos e irmãs:
Na procissão do Domingo de Ramos, nós nos unimos à multidão de discípulos que, com alegria festiva, acompanhou o Senhor em sua entrada em Jerusalém. Com eles, louvamos o Senhor elevando a voz por todos os prodígios que vimos. Sim, também nós vimos e continuamos vendo os prodígios de Cristo: como ele leva homens e mulheres a renunciarem às comodidades da própria vida para colocar-se totalmente ao serviço dos que sofrem; como dá valor a homens e mulheres para opor-se à violência e à mentira, e dar espaço no mundo à verdade; como, no segredo, ele induz homens e mulheres a fazer o bem aos outros, a suscitar a reconciliação onde havia ódio, a criar a paz onde reinava a inimizade.
A procissão é, antes de tudo, um gozoso testemunho que nós oferecemos a Jesus Cristo, aquele que tornou o Rosto de Deus visível, e por quem o coração de Deus se abre a todos nós. No Evangelho de Lucas, a narração do início do cortejo nos arredores de Jerusalém está composta seguindo, em alguns momentos literalmente, o modelo do rito de coroação com que, segundo o Primeiro Livro dos Reis, Salomão foi declarado herdeiro da realeza de Davi (cf. 1 Reis 1, 33-35). Dessa forma, a procissão dos Ramos é também uma procissão de Cristo Rei: professamos a realeza de Jesus Cristo, reconhecemos Jesus como o Filho de Davi, o verdadeiro Salomão, o Rei da paz e da justiça. Reconhece-lo como Rei significa aceita-lo como quem nos indica o caminho, Aquele de quem nos fiamos e a quem seguimos. Significa aceitar, cada dia, sua palavra como critério válido para a nossa vida. Significa ver n’Ele a autoridade à qual nos submetemos. Nós nos submetemos a Ele porque sua autoridade é a autoridade da verdade.
Antes de tudo, a procissão dos Ramos é, como foi naquela ocasião para os discípulos, uma manifestação de alegria, porque podemos conhecer Jesus, porque Ele nos permite ser seus amigos e porque nos deu a chave da vida. Esta alegria, que se encontra na origem, é também expressão do nosso «sim» a Jesus e da nossa disponibilidade para caminhar com Ele até onde ele nos levar. A exortação do início da nossa liturgia interpreta justamente o sentido da procissão, que é também uma representação simbólica do que chamamos de «seguimento de Cristo»: «Peçamos a graça de segui-lo», nós dissemos. A expressão «seguimento de Cristo» é uma descrição de toda a existência cristã em geral. Em que consiste? O que quer dizer concretamente «seguir Cristo»?
No início, nos primeiros séculos, o sentido era muito simples e imediato: significa que essas pessoas haviam decidido deixar sua profissão, seus negócios, toda a sua vida para ir com Jesus. Significava empreender uma nova profissão: a de discípulo. O conteúdo fundamental dessa profissão consistia em ir com o mestre, confiar totalmente em seu guia. Dessa forma, o seguimento era algo exterior e ao mesmo tempo muito interior. O aspecto exterior consistia em caminhar detrás de Jesus em suas peregrinações pela Palestina; o interior, na nova orientação da existência, que já não tinha os mesmos pontos de referência nos negócios, na profissão, na vontade pessoal, mas que se abandonava totalmente na vontade do Outro. Colocar-se à disposição havia se convertido na razão de sua vida. A renúncia que isso implicava, o nível de desapego, nós o podemos reconhecer de maneira sumamente clara em algumas cenas dos Evangelhos.
Assim fica claro o que significa para nós o seguimento e sua verdadeira essência: trata-se de uma transformação interior da existência. Exige que eu já não me feche no meu eu, considerando minha auto-realização como a razão principal da minha vida. Exige entregar-me livremente ao Outro pela verdade, pelo amor, por Deus, que em Jesus Cristo me precede e me mostra o caminho. Trata-se da decisão fundamental de deixar de considerar a utilidade, o lucro, a carreira e o êxito como o objetivo último da minha vida, para reconhecer, no entanto, como critérios autênticos a verdade e o amor. Trata-se de optar entre viver somente para mim ou entregar-me a algo maior. É preciso levar em consideração que a verdade e o amor não são valores abstratos; em Jesus Cristo eles se converteram em uma Pessoa. Ao segui-lo, eu me coloco ao serviço da verdade e do amor. Ao perder-me, volto a me encontrar.
Voltemos à liturgia e à procissão dos Ramos. Nela, a liturgia prevê o canto do Salmo 24 (23), que também em Israel era um canto de procissão, utilizado para subir ao monte do templo. O Salmo interpreta a subida interior da que era imagem a subida exterior e nos explica o que significa subir com Cristo: «Quem subirá ao monte do Senhor?», pergunta o Salmo, e apresenta duas condições essenciais. Aqueles que sobem e querem chegar verdadeiramente até o cume, até a verdadeira altura, têm de ser pessoas que se perguntam por Deus. Pessoas que escrutam ao seu redor para buscar Deus, para buscar seu Rosto.
Queridos jovens amigos, que importante é precisamente isso hoje: não podemos nos deixar levar de um lado para o outro na vida; não podemos nos contentar com o que todos pensam, dizem e fazem. É preciso escrutar e buscar Deus. Não podemos deixar que a pergunta por Deus se dissolva em nossas almas, o desejo do que é maior, o desejo de conhecê-lo, seu Rosto...
Esta é outra condição sumamente concreta para a subida: só pode chegar ao lugar santo quem tem as «mãos limpas e o coração puro». Mãos limpas são aquelas que não comentem atos de violência. São mãos que não se sujaram com a corrupção, com os subornos. Coração puro, quando é puro o coração? Um coração é puro quando não finge e não se mancha com a mentira e com a hipocrisia. Um coração que é transparente como a água de um manancial, porque nele não há duplicidade. Um coração é puro quando não se extravia na embriaguez do prazer; um coração cujo amor é autêntico e não uma simples paixão do momento. Mãos limpas e coração puro: se caminhamos com Jesus, subimos e experimentamos as purificações que nos levam verdadeiramente a essa altura à qual o homem está destinado: a amizade com o próprio Deus.
O Salmo 24 (23), que fala da subida, conclui com uma liturgia de entrada ante a porta do templo: «Levantai, ó portas, os vossos dintéis! Levantai-vos, ó pórticos antigos, para que entre o rei da glória». Na antiga liturgia do Domingo de Ramos, o sacerdote, ao chegar ante a igreja, tocava fortemente com a cruz da procissão a porta, que ainda estava fechada e que nesse momento se abria. Era uma bela imagem do mistério do próprio Jesus Cristo que, com o madeiro de sua cruz, com a força do seu amor, tocou, desde o lado do mundo, a porta de Deus; do lado de um mundo que não conseguia ter acesso a Deus. Com a cruz, Jesus abriu totalmente a porta de Deus, a porta entre Deus e os homens. Agora ela está aberta. Mas o Senhor também toca desde o outro lado com a sua cruz: toca as portas do mundo, as portas dos nossos corações, que com tanta freqüência e em tão elevado número estão fechadas para Deus. E nos fala mais ou menos dessa forma: se as provas que Deus te dá de sua existência na criação não conseguirem abrir-te a Ele; se a palavra da Escritura e a mensagem da Igreja te deixam indiferente, então, olha pra mim, que sou o teu Senhor e o teu Deus.
Este é o chamado que nesse momento deixamos penetrar o nosso coração. Que o Senhor nos ajude a abrir a porta do coração, a porta do mundo, para que Ele, o Deus vivente, possa vir em seu Filho, ao nosso tempo, chegar à nossa vida. Amém.
Lucas 22,14-23,56
14 Quando chegou a hora, Jesus pôs-se à mesa com os apóstolos
15 e disse: 'Desejei ardentemente comer convosco esta ceia pascal, antes de sofrer.
16 Pois eu vos digo que nunca mais a comerei,
até que ela se realize no Reino de Deus'.
17 Então Jesus tomou um cálice, deu graças e disse:
'Tomai este cálice e reparti entre vós;
18 pois eu vos digo que, de agora em diante, não mais bebereis do fruto da videira, até que venha o Reino de Deus'. Fazei isto em memória de mim.
19 A seguir, Jesus tomou um pão, deu graças, partiu-o e deu-o aos discípulos, dizendo:
'Isto é o meu corpo, que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim'.
20 Depois da ceia, Jesus fez o mesmo com o cálice, dizendo:
'Este cálice é a nova aliança no meu sangue, que é derramado por vós'.
Mas ai daquele por meio de quem o Filho do Homem é entregue.
21 'Todavia, a mão de quem me vai entregar está comigo, nesta mesa.
22 Sim, o Filho do Homem vai morrer, como está determinado.
Mas ai daquele homem por meio de quem ele é entregue.'
23 Então os apóstolos começaram a perguntar uns aos outros
qual deles haveria de fazer tal coisa.
24 Houve também uma discussão entre eles sobre
qual deles deveria ser considerado o maior.
25 Jesus, porém, lhes disse:
'Os reis das nações dominam sobre elas,
e os que têm poder se fazem chamar benfeitores.
26 Entre vós, não deve ser assim. Pelo contrário, o maior entre vós seja como o mais novo, e o que manda, como quem está servindo.
27 Afinal, quem é o maior: quem está sentado à mesa, ou quem está servindo?
Não é quem está sentado à mesa?
Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve.
28 Vós ficastes comigo em minhas provações.
29 Por isso, assim como o meu Pai me confiou o Reino,
eu também vos confio o Reino.
30 Vós havereis de comer e beber à minha mesa no meu Reino,
e sentar-vos em tronos para julgar as doze tribos de Israel.
31 Simão, Simão! Olha que Satanás pediu permissão para vos peneirar como trigo.
32 Eu, porém, rezei por ti, para que tua fé não se apague.
E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos.'
33 Mas Simão disse: 'Senhor, eu estou pronto para ir contigo até mesmo à prisão e à morte!'
34 Jesus, porém, respondeu: 'Pedro, eu te digo que hoje, antes que o galo cante, três vezes tu negarás que me conheces.'
35 E Jesus lhes perguntou: 'Quando vos enviei sem bolsa, sem sacola, sem sandálias, faltou-vos alguma coisa?' Eles responderam: 'Nada.'
36 Jesus continuou: 'Agora, porém, quem tiver bolsa, deve pegá-la; do mesmo modo, quem tiver uma sacola; e quem não tiver espada, venda o manto para comprar uma.
37 Porque eu vos digo: É preciso que se cumpra em mim a palavra da Escritura:
`Ele foi contado entre os malfeitores'.
Pois o que foi dito a meu respeito tem de se realizar.'
38 Mas eles disseram: 'Senhor, aqui estão duas espadas.'
Jesus respondeu: 'Basta.'
39 Jesus saiu e, como de costume, foi para o monte das Oliveiras.
Os discípulos o acompanharam.
40 Chegando ao lugar, Jesus lhes disse: 'Orai para não entrardes em tentação.'
41 Então afastou-se a uma certa distância e, de joelhos, começou a rezar:
42 'Pai, se queres, afasta de mim este cálice;
contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua!'
43 Apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava.
44 Tomado de angústia, Jesus rezava com mais insistência.
Seu suor tornou-se como gotas de sangue que caíam no chão.
45 Levantando-se da oração, Jesus foi para junto dos discípulos
e encontrou-os dormindo, de tanta tristeza.
46 E perguntou-lhes: 'Por que estais dormindo?
Levantai-vos e orai para não entrardes em tentação.'
47 Jesus ainda falava, quando chegou uma multidão. Na frente, vinha um dos Doze, chamado Judas, que se aproximou de Jesus para beijá-lo.
48 Jesus lhe disse: 'Judas, com um beijo tu entregas o Filho do Homem?'
49 Vendo o que ia acontecer, os que estavam com Jesus disseram:
'Senhor, vamos atacá-los com a espada?'
50 E um deles feriu o empregado do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha direita.
51 Jesus, porém, ordenou: 'Deixai, basta!' E tocando a orelha do homem, o curou.
52 Depois Jesus disse aos sumos sacerdotes, aos chefes dos guardas do templo e aos anciãos, que tinham vindo prendê-lo:
'Vós saístes com espadas e paus, como se eu fosse um ladrão?
53 Todos os dias eu estava convosco no templo, e nunca levantastes a mão contra mim. Mas esta é a vossa hora, a hora do poder das trevas.'
54 Eles prenderam Jesus e o levaram, conduzindo-o à casa do Sumo Sacerdote.
Pedro acompanhava de longe.
55 Eles acenderam uma fogueira no meio do pátio e sentaram-se ao redor.
Pedro sentou-se no meio deles.
56 Ora, uma criada viu Pedro sentado perto do fogo; encarou-o bem e disse:
'Este aqui também estava com ele!'
57 Mas Pedro negou: 'Mulher, eu nem o conheço!'
58 Pouco depois, um outro viu Pedro e disse: 'Tu também és um deles.'
Mas Pedro respondeu: 'Homem, não sou .'
59 Passou mais ou menos uma hora, e um outro insistia:
'Certamente, este aqui também estava com ele, porque é galileu!' Mas Pedro respondeu:
60 'Homem, não sei o que estás dizendo!'
Nesse momento, enquanto Pedro ainda falava, um galo cantou.
61 Então o Senhor se voltou e olhou para Pedro. E Pedro lembrou-se da palavra que o Senhor lhe tinha dito: 'Hoje, antes que o galo cante, três vezes me negarás.'
62 Então Pedro saiu para fora e chorou amargamente.
63 Os guardas caçoavam de Jesus e espancavam-no;
64 cobriam o seu rosto e lhe diziam: 'Profetiza quem foi que te bateu?'
65 E o insultavam de muitos outros modos.
66 Ao amanhecer, os anciãos do povo, os sumos sacerdotes e os mestres da Lei reuniram-se em conselho e levaram Jesus ao tribunal deles.
67 E diziam: 'Se és o Cristo, dize-nos!'
Jesus respondeu: 'Se eu vos disser, não me acreditareis,
68 e, se eu vos fizer perguntas, não me respondereis.
69 Mas, de agora em diante, o Filho do Homem
estará sentado à direita do Deus Poderoso.'
70 Então todos perguntaram: 'Tu és, portanto, o Filho de Deus?'
Jesus respondeu: 'Vós mesmos estais dizendo que eu sou!'
71 Eles disseram: 'Será que ainda precisamos de testemunhas?
Nós mesmos o ouvimos de sua própria boca!'
23,1 Em seguida, toda a multidão se levantou e levou Jesus a Pilatos.
2 Começaram então a acusá-lo, dizendo: 'Achamos este homem fazendo subversão entre o nosso povo, proibindo pagar impostos a César e afirmando ser ele mesmo Cristo, o Rei.'
3 Pilatos o interrogou: 'Tu és o rei dos judeus?'
Jesus respondeu, declarando: 'Tu o dizes!'
4 Então Pilatos disse aos sumos sacerdotes e à multidão:
'Não encontro neste homem nenhum crime.'
5 Eles, porém, insistiam: 'Ele agita o povo, ensinando por toda a Judéia,
desde a Galiléia, onde começou, até aqui.'
6 Quando ouviu isto, Pilatos perguntou: 'Este homem é galileu?'
7 Ao saber que Jesus estava sob a autoridade de Herodes,
Pilatos enviou-o a este, pois também Herodes estava em Jerusalém naqueles dias.
8 Herodes ficou muito contente ao ver Jesus, pois havia muito tempo desejava vê-lo.
Já ouvira falar a seu respeito e esperava vê-lo fazer algum milagre.
9 Ele interrogou-o com muitas perguntas. Jesus, porém, nada lhe respondeu.
10 Os sumos sacerdotes e os mestres da Lei estavam presentes
e o acusavam com insistência.
11 Herodes, com seus soldados, tratou Jesus com desprezo, zombou dele,
vestiu-o com uma roupa vistosa e mandou-o de volta a Pilatos.
12 Naquele dia Herodes e Pilatos ficaram amigos um do outro, pois antes eram inimigos.
13 Então Pilatos convocou os sumos sacerdotes, os chefes e o povo, e lhes disse:
14 'Vós me trouxestes este homem como se fosse um agitador do povo. Pois bem!
Já o interroguei diante de vós e não encontrei nele nenhum dos crimes de que o acusais;
15 nem Herodes, pois o mandou de volta para nós.
Como podeis ver, ele nada fez para merecer a morte.
16 Portanto, vou castigá-lo e o soltarei.
18 Toda a multidão começou a gritar: 'Fora com ele! Solta-nos Barrabás!'
19 Barrabás tinha sido preso por causa de uma revolta na cidade e por homicídio.
20 Pilatos falou outra vez à multidão, pois queria libertar Jesus.
21 Mas eles gritavam: 'Crucifica-o! Crucifica-o!'
22 E Pilatos falou pela terceira vez: 'Que mal fez este homem? Não encontrei nele nenhum crime que mereça a morte. Portanto, vou castigá-lo e o soltarei.'
23 Eles, porém, continuaram a gritar com toda a força, pedindo que fosse crucificado.
E a gritaria deles aumentava sempre mais.
24 Então Pilatos decidiu que fosse feito o que eles pediam.
25 Soltou o homem que eles queriam - aquele que fora preso por revolta e homicídio -
e entregou Jesus à vontade deles.
26 Enquanto levavam Jesus, pegaram um certo Simão, de Cirene,
que voltava do campo, e impuseram-lhe a cruz para carregá-la atrás de Jesus.
27 Seguia-o uma grande multidão do povo
e de mulheres que batiam no peito e choravam por ele.
28 Jesus, porém, voltou-se e disse: 'Filhas de Jerusalém, não choreis por mim!
Chorai por vós mesmas e por vossos filhos!
29 Porque dias virão em que se dirá: 'Felizes as mulheres que nunca tiveram filhos, os ventres que nunca deram à luz e os seios que nunca amamentaram'.
30 Então começarão a pedir às montanhas:
'Caí sobre nós! e às colinas: 'Escondei-nos!'
31 Porque, se fazem assim com a árvore verde, o que não farão com a árvore seca?'
32 Levavam também outros dois malfeitores para serem mortos junto com Jesus.
33 Quando chegaram ao lugar chamado 'Calvário', ali crucificaram Jesus
e os malfeitores: um à sua direita e outro à sua esquerda.
34 Jesus dizia: 'Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!'
Depois fizeram um sorteio, repartindo entre si as roupas de Jesus. Este é o Rei dos Judeus.
35 O povo permanecia lá, olhando. E até os chefes zombavam, dizendo:
'A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se, de fato, é o Cristo de Deus, o Escolhido!'
36 Os soldados também caçoavam dele; aproximavam-se, ofereciam-lhe vinagre,
37 e diziam: 'Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!'
38 Acima dele havia um letreiro: 'Este é o Rei dos Judeus.'
39 Um dos malfeitores crucificados o insultava, dizendo:
'Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!'
40 Mas o outro o repreendeu, dizendo:
'Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma condenação?
41 Para nós, é justo, porque estamos recebendo o que merecemos;
mas ele não fez nada de mal.'
42 E acrescentou: 'Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado.'
43 Jesus lhe respondeu:
'Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso.'
44 Já era mais ou menos meio-dia e uma escuridão cobriu toda a terra
até às três horas da tarde,
45 pois o sol parou de brilhar. A cortina do santuário rasgou-se pelo meio,
46 e Jesus deu um forte grito: 'Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito.'
Dizendo isso, expirou.
47 O oficial do exército romano viu o que acontecera e glorificou a Deus dizendo:
'De fato! Este homem era justo!'
48 E as multidões, que tinham acorrido para assistir, viram o que havia acontecido, e voltaram para casa, batendo no peito.
49 Todos os conhecidos de Jesus, bem como as mulheres que o acompanhavam desde a Galiléia, ficaram à distância, olhando essas coisas.
50 Havia um homem bom e justo, chamado José, membro do Conselho,
51 o qual não tinha aprovado a decisão nem a ação dos outros membros.
Ele era de Arimatéia, uma cidade da Judéia, e esperava a vinda do Reino de Deus.
52 José foi ter com Pilatos e pediu o corpo de Jesus.
53 Desceu o corpo da cruz, enrolou-o num lençol e colocou-o num túmulo escavado na rocha, onde ninguém ainda tinha sido sepultado.
54 Era o dia da preparação da Páscoa, e o sábado já estava começando.
55 As mulheres, que tinham vindo da Galiléia com Jesus, foram com José, para ver o túmulo e como o corpo de Jesus ali fora colocado.
56 Depois voltaram para casa e prepararam perfumes e bálsamos.
E, no sábado, elas descansaram, conforme ordenava a Lei.
Reflexão
1:
As
narrativas da Paixão são preciosos testemunhos que as primeiras comunidades
cristãs deixaram para a história. O evangelista Lucas sublinha o desenvolvimento
dos fatos e procura compor um relato bem organizado. O primeiro ato da grande
narrativa da Paixão é a ceia pascal que Jesus deseja comer pela última vez com
seus amigos. "Desejei muito comer com vocês esta ceia pascal, antes de sofrer".
No contexto da ceia pascal e à mesa - lugar de comunhão e de fraternidade -, ocorrem duas situações de não‑comunhão, atestando que os discípulos ainda não haviam entendido a proposta do Mestre. Judas é excluído do grupo por não formar comunhão. Ele recebe a herança que lhe cabe (um pedaço de pão) e parte para a missão contrária à qual fora convidado. Enquanto o traidor partia para seu destino, no interior da comunidade dos discípulos, arma‑se a disputa pelos primeiros lugares. Jesus adverte que tal atitude não faz parte de uma autêntica comunidade eucarística, memorial da nova Aliança e do banquete do Reino, do qual participará quem for solidário e generoso no serviço. Os discípulos terão que dar continuidade à missão e haverão de passar pela provação da cruz. Advertindo Pedro, Jesus alerta o grupo sobre sua fraqueza humana, a falta de perseverança e o agir em vista dos próprios interesses. No Jardim das Oliveiras, Jesus se entrega à oração confiando ao Pai seus temores e seus medos. Todavia, pede que não se cumpra a própria vontade, mas a dEle. Nessa hora em que mais precisa da solidariedade e do apoio dos amigos de caminhada, os discípulos dormem. Estão completamente desligados da crucial situação pela qual o Mestre está passando. Por conseqüência, na hora da traição e da prisão, todos fogem, abandonando‑o nas mãos dos malvados. Um simples olhar de Jesus denuncia Pedro, que sai e chora amargamente sua queda. O silêncio dói mais que qualquer palavra.
Depois de ser preso e torturado pelos inimigos que agem nas sombras da noite, Jesus é acusado de blasfemar contra Deus. Diante da autoridade civil e religiosa, afirma sua identidade de Filho de Deus. O Sinédrio, vencido pelas respostas de Jesus e não encontrando nele matéria que o condenasse, busca motivos políticos para condená‑lo. Jesus é enviado a Pilatos. Este também não encontra causa suficiente para condená‑lo. Diante da falsidade de Herodes, o Mestre se mantém em silêncio. O retorno a Pilatos atesta sua absoluta inocência. Isso intriga ainda mais os chefes do povo, que exigem de Pilatos, a qualquer preço, a condenação de Jesus. O procurador romano, não sabendo o que fazer, lembrou‑se da tradição pascal e propôs a libertação de um prisioneiro, imaginando que Jesus seria preterido pelo povo. Sublevada por seus chefes, a multidão pediu a liberdade do bandido Barrabás e a condenação de Jesus à morte.
A caminho do Calvário, completamente esgotado em suas forças, Jesus não consegue carregar a "cruz da humanidade". É ajudado por um trabalhador e consolado pelas mulheres. Crucificado entre dois ladrões e injuriado por seus algozes, nada mais lhe resta. Sua identidade, fama e dignidade já haviam sido roubadas. Suspenso entre o céu e a terra, em um supremo gesto de Rei em favor dos servos, garante ao ladrão arrependido: "Hoje mesmo você estará comigo no Paraíso". Do alto da cruz, o Filho de Deus revela‑se como dom de Salvação. O sol se escurece, e Jesus, inteiramente obediente à vontade divina, faz de si mesmo oferenda perfeita entregando seu espírito ao Pai. O oficial do exército (um pagão), glorificando a Deus, declara: "De fato! Esse homem era justo!". A humanidade reconhece a inocência do justo sentenciado pela injustiça dos homens. E se abre para uma mudança de atitude.
No contexto da ceia pascal e à mesa - lugar de comunhão e de fraternidade -, ocorrem duas situações de não‑comunhão, atestando que os discípulos ainda não haviam entendido a proposta do Mestre. Judas é excluído do grupo por não formar comunhão. Ele recebe a herança que lhe cabe (um pedaço de pão) e parte para a missão contrária à qual fora convidado. Enquanto o traidor partia para seu destino, no interior da comunidade dos discípulos, arma‑se a disputa pelos primeiros lugares. Jesus adverte que tal atitude não faz parte de uma autêntica comunidade eucarística, memorial da nova Aliança e do banquete do Reino, do qual participará quem for solidário e generoso no serviço. Os discípulos terão que dar continuidade à missão e haverão de passar pela provação da cruz. Advertindo Pedro, Jesus alerta o grupo sobre sua fraqueza humana, a falta de perseverança e o agir em vista dos próprios interesses. No Jardim das Oliveiras, Jesus se entrega à oração confiando ao Pai seus temores e seus medos. Todavia, pede que não se cumpra a própria vontade, mas a dEle. Nessa hora em que mais precisa da solidariedade e do apoio dos amigos de caminhada, os discípulos dormem. Estão completamente desligados da crucial situação pela qual o Mestre está passando. Por conseqüência, na hora da traição e da prisão, todos fogem, abandonando‑o nas mãos dos malvados. Um simples olhar de Jesus denuncia Pedro, que sai e chora amargamente sua queda. O silêncio dói mais que qualquer palavra.
Depois de ser preso e torturado pelos inimigos que agem nas sombras da noite, Jesus é acusado de blasfemar contra Deus. Diante da autoridade civil e religiosa, afirma sua identidade de Filho de Deus. O Sinédrio, vencido pelas respostas de Jesus e não encontrando nele matéria que o condenasse, busca motivos políticos para condená‑lo. Jesus é enviado a Pilatos. Este também não encontra causa suficiente para condená‑lo. Diante da falsidade de Herodes, o Mestre se mantém em silêncio. O retorno a Pilatos atesta sua absoluta inocência. Isso intriga ainda mais os chefes do povo, que exigem de Pilatos, a qualquer preço, a condenação de Jesus. O procurador romano, não sabendo o que fazer, lembrou‑se da tradição pascal e propôs a libertação de um prisioneiro, imaginando que Jesus seria preterido pelo povo. Sublevada por seus chefes, a multidão pediu a liberdade do bandido Barrabás e a condenação de Jesus à morte.
A caminho do Calvário, completamente esgotado em suas forças, Jesus não consegue carregar a "cruz da humanidade". É ajudado por um trabalhador e consolado pelas mulheres. Crucificado entre dois ladrões e injuriado por seus algozes, nada mais lhe resta. Sua identidade, fama e dignidade já haviam sido roubadas. Suspenso entre o céu e a terra, em um supremo gesto de Rei em favor dos servos, garante ao ladrão arrependido: "Hoje mesmo você estará comigo no Paraíso". Do alto da cruz, o Filho de Deus revela‑se como dom de Salvação. O sol se escurece, e Jesus, inteiramente obediente à vontade divina, faz de si mesmo oferenda perfeita entregando seu espírito ao Pai. O oficial do exército (um pagão), glorificando a Deus, declara: "De fato! Esse homem era justo!". A humanidade reconhece a inocência do justo sentenciado pela injustiça dos homens. E se abre para uma mudança de atitude.
Reflexão
2:
Com a chegada de Jesus a Jerusalém e os
acontecimentos da semana santa, chegamos ao fim do “caminho” começado na
Galileia. Tudo converge, no Evangelho de Lucas, para aqui, para Jerusalém: é aí
que deve irromper a salvação de Deus. Em Jerusalém, Jesus vai realizar o último
ato do programa enunciado em Nazaré: da sua entrega, do seu amor afirmado até à
morte, vai nascer esse Reino de homens novos, livres, onde todos serão irmãos no
amor; e, de Jerusalém, partirão as testemunhas de Jesus, a fim de que esse Reino
se espalhe por toda a terra e seja acolhido no coração de todos os
homens.
A morte de Jesus tem de ser entendida no contexto daquilo que foi a sua vida. Desde cedo, Jesus apercebeu-Se de que o Pai O chamava a uma missão: anunciar a Boa Nova aos pobres, sarar os corações feridos, pôr em liberdade os oprimidos. Para concretizar este projeto, Jesus passou pelos caminhos da Palestina “fazendo o bem” e anunciando a proximidade de um mundo novo, de vida, de liberdade, de paz e de amor para todos. Ensinou que Deus era amor e que não excluía ninguém, nem mesmo os pecadores; ensinou que os leprosos, os paralíticos, os cegos não deviam ser marginalizados, pois não eram amaldiçoados por Deus; ensinou que eram os pobres e os excluídos os preferidos de Deus e aqueles que tinham o coração mais disponível para acolher o Reino; e avisou os “ricos”, os poderosos, os instalados, de que o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência, o fechamento só podiam conduzir à morte.
O projeto libertador de Jesus entrou em choque – como era inevitável – com a atmosfera de egoísmo, de má vontade, de opressão que dominava o mundo. As autoridades políticas e religiosas sentiram-se incomodadas com a denúncia de Jesus: não estavam dispostas a renunciar a esses mecanismos que lhes asseguravam poder, influência, domínio, privilégios; não estavam dispostos a arriscar, a desinstalar-se e a aceitar a conversão proposta por Jesus. Por isso, prenderam Jesus, julgaram-n’O, condenaram-n’O e pregaram-n’O na cruz.
A morte de Jesus é a consequência lógica do anúncio do Reino: resultou das tensões e resistências que a proposta do “Reino” provocou entre os que dominavam este mundo.
Podemos também dizer que a morte de Jesus é o culminar da sua vida; é a afirmação última, porém mais radical e mais verdadeira (porque marcada com sangue), daquilo que Jesus pregou com palavras e com gestos: o amor, o dom total, o serviço.
Na cruz de Jesus, vemos aparecer o Homem Novo, o protótipo do homem que ama radicalmente e que faz da sua vida um dom para todos. Porque ama, este Homem Novo vai assumir como missão a luta contra o pecado, isto é, contra todas as causas objetivas que geram medo, injustiça, sofrimento, exploração, morte. Assim, a cruz contém o dinamismo de um mundo novo – o dinamismo do Reino.
Para além da reflexão geral sobre o sentido da paixão e morte de Jesus, convém ainda notar alguns dados que são exclusivos da versão lucana da paixão:
A morte de Jesus tem de ser entendida no contexto daquilo que foi a sua vida. Desde cedo, Jesus apercebeu-Se de que o Pai O chamava a uma missão: anunciar a Boa Nova aos pobres, sarar os corações feridos, pôr em liberdade os oprimidos. Para concretizar este projeto, Jesus passou pelos caminhos da Palestina “fazendo o bem” e anunciando a proximidade de um mundo novo, de vida, de liberdade, de paz e de amor para todos. Ensinou que Deus era amor e que não excluía ninguém, nem mesmo os pecadores; ensinou que os leprosos, os paralíticos, os cegos não deviam ser marginalizados, pois não eram amaldiçoados por Deus; ensinou que eram os pobres e os excluídos os preferidos de Deus e aqueles que tinham o coração mais disponível para acolher o Reino; e avisou os “ricos”, os poderosos, os instalados, de que o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência, o fechamento só podiam conduzir à morte.
O projeto libertador de Jesus entrou em choque – como era inevitável – com a atmosfera de egoísmo, de má vontade, de opressão que dominava o mundo. As autoridades políticas e religiosas sentiram-se incomodadas com a denúncia de Jesus: não estavam dispostas a renunciar a esses mecanismos que lhes asseguravam poder, influência, domínio, privilégios; não estavam dispostos a arriscar, a desinstalar-se e a aceitar a conversão proposta por Jesus. Por isso, prenderam Jesus, julgaram-n’O, condenaram-n’O e pregaram-n’O na cruz.
A morte de Jesus é a consequência lógica do anúncio do Reino: resultou das tensões e resistências que a proposta do “Reino” provocou entre os que dominavam este mundo.
Podemos também dizer que a morte de Jesus é o culminar da sua vida; é a afirmação última, porém mais radical e mais verdadeira (porque marcada com sangue), daquilo que Jesus pregou com palavras e com gestos: o amor, o dom total, o serviço.
Na cruz de Jesus, vemos aparecer o Homem Novo, o protótipo do homem que ama radicalmente e que faz da sua vida um dom para todos. Porque ama, este Homem Novo vai assumir como missão a luta contra o pecado, isto é, contra todas as causas objetivas que geram medo, injustiça, sofrimento, exploração, morte. Assim, a cruz contém o dinamismo de um mundo novo – o dinamismo do Reino.
Para além da reflexão geral sobre o sentido da paixão e morte de Jesus, convém ainda notar alguns dados que são exclusivos da versão lucana da paixão:
• No relato da instituição da Eucaristia, só Lucas
põe Jesus a dizer: “fazei isto em memória de Mim” (cf. Lc. 22,19). A expressão
não quer só dizer que os discípulos devem celebrar o ritual da última ceia e
repetir as palavras de Jesus sobre o pão e sobre o vinho; mas quer, sobretudo,
dizer que os discípulos devem repetir a entrega de Jesus, a doação da vida por
amor.
• Só Lucas coloca no contexto da última ceia a
discussão acerca de qual dos discípulos seria o “maior” e a resposta de Jesus
(cf. Lc. 22,24 - 27). Jesus avisa os seus que “o maior” é “aquele que serve”; e
apresenta o seu próprio exemplo de uma vida feita serviço e dom. Estas palavras
soam a “testamento” e convocam os discípulos para fazerem da sua vida um serviço
aos irmãos, ao jeito de Jesus.
• No jardim das Oliveiras, só Lucas faz referência
ao aparecimento do anjo e ao “suor de sangue” (cf. Lc. 22,42 - 44). Esta cena
acentua a fragilidade humana de Jesus que, no entanto, não condiciona a sua
submissão total ao projeto do Pai; e sublinha a presença de Deus, que não
abandona nos momentos de prova aqueles que acolhem, na obediência, a sua
vontade.
• Também no relato da paixão aparece a ideia
fundamental que perpassa pela obra de Lucas: Jesus é o Deus que veio ao nosso
encontro, a fim de manifestar a todos os homens, em gestos concretos, a bondade
e a misericórdia de Deus. Essa ideia está presente no gesto de curar o guarda
ferido por Pedro no Jardim do Getsemani (cf. Lc. 22,51); está também presente
nas palavras de Jesus na cruz: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem”
– Lc 23,34 (é desconcertante o amor de um Filho de Deus que morre na cruz
pedindo desculpa ao Pai para os seus assassinos); está, ainda, presente nas
palavras que Jesus dirige ao criminoso que morre numa cruz, ao seu lado: “hoje
mesmo estarás comigo no paraíso” – Lc 23,43 (é desconcertante a bondade de um
Deus que faz de um assassino o primeiro santo canonizado da sua
Igreja).
• Todos os sinópticos falam da requisição de Simão
de Cirene para levar a cruz de Jesus (cf. Mt. 27,32; Mc. 15,21); no entanto, só
Lucas refere que Simão transporta a cruz “atrás de Jesus” (cf. Lc. 23,26). Este
dado serve a Lucas para apresentar o modelo do discípulo: é aquele que toma a
cruz de Jesus e O segue no seu caminho de entrega e de dom da vida (“se alguém
quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz dia após dia e siga-Me”
– Lc. 9,23; cf. 14,27).
♦ Celebrar a paixão e morte de Jesus é abismar-se na contemplação de um Deus a quem o amor tornou frágil… Por amor, Ele veio ao nosso encontro, assumiu os nossos limites, experimentou a fome, o sono, o cansaço, conheceu a mordedura das tentações, tremeu perante a morte, suou sangue antes de aceitar a vontade do Pai; e, estendido no chão, esmagado contra a terra, atraiçoado, abandonado, incompreendido, continuou a amar. Desse amor resultou vida plena, que Ele quis repartir conosco “até ao fim dos tempos”: esta é a mais espantosa história de amor que é possível contar; ela é a boa notícia que enche de alegria o coração dos crentes.
♦ Contemplar a cruz onde se manifesta o amor e a entrega de Jesus significa assumir a mesma atitude e solidarizar-se com aqueles que são crucificados neste mundo: os que sofrem violência, os que são explorados, os que são excluídos, os que são privados de direitos e de dignidade… Significa denunciar tudo o que gera ódio, divisão, medo, em termos de estruturas, valores, práticas, ideologias.
Significa evitar que os homens continuem a crucificar outros homens. Significa aprender com Jesus a entregar a vida por amor… Viver deste jeito pode conduzir à morte; mas o cristão sabe que amar como Jesus é viver a partir de um dinâmica que a morte não pode vencer: o amor gera vida nova e introduz na nossa carne os dinamismos da ressurreição.
♦ Celebrar a paixão e morte de Jesus é abismar-se na contemplação de um Deus a quem o amor tornou frágil… Por amor, Ele veio ao nosso encontro, assumiu os nossos limites, experimentou a fome, o sono, o cansaço, conheceu a mordedura das tentações, tremeu perante a morte, suou sangue antes de aceitar a vontade do Pai; e, estendido no chão, esmagado contra a terra, atraiçoado, abandonado, incompreendido, continuou a amar. Desse amor resultou vida plena, que Ele quis repartir conosco “até ao fim dos tempos”: esta é a mais espantosa história de amor que é possível contar; ela é a boa notícia que enche de alegria o coração dos crentes.
♦ Contemplar a cruz onde se manifesta o amor e a entrega de Jesus significa assumir a mesma atitude e solidarizar-se com aqueles que são crucificados neste mundo: os que sofrem violência, os que são explorados, os que são excluídos, os que são privados de direitos e de dignidade… Significa denunciar tudo o que gera ódio, divisão, medo, em termos de estruturas, valores, práticas, ideologias.
Significa evitar que os homens continuem a crucificar outros homens. Significa aprender com Jesus a entregar a vida por amor… Viver deste jeito pode conduzir à morte; mas o cristão sabe que amar como Jesus é viver a partir de um dinâmica que a morte não pode vencer: o amor gera vida nova e introduz na nossa carne os dinamismos da ressurreição.
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