Toda criança é portadora da paz.
Com sua demanda de espaço e de vida, renova a fraternidade.
Suas perguntas nos obrigam a pensar sobre a razão de cada passo e o rumo de nossa vida.
Rainha da paz e mestra da sabedoria, quase nunca é levada a sério.
Há 2 mil anos, em Belém, nascia uma criança carregada de paz.
Não havendo lugar para ela, foi acampar nas cercanias da cidade, à espera de pessoas que pudessem recebê-la. Ao seu encontro, acorreram os guardadores de ovelhas.
Gente simples, de baixa colocação na pirâmide social.
Pessoas comprometidas com a paz, mas carentes de dignidade e de cidadania.
Povinho carregado de esperança, mas sem valia nas relações da economia e da política.
Hoje, como ontem, a paz se encontra em periferias e baixadas, sempre nas mãos de uma criança.
Coberta por uns trapinhos, a paz chora de fome e de frio, e, assim, vai definhando na vida perdida da criança desnutrida.
Em cada seis, uma é paz morta pelo pão que não foi repartido, pelo teto descoberto e pela ausência do carinho de pai e da ternura de mãe.
Órfã de um mundo que globalizou o reinado da economia excludente e predatória.
Há bem pouco tempo, vestida de branco e à luz de vela, a Cidade Maravilhosa
esperava amanhecer o dia trazendo a paz, como um sonho de Cinderela!
Quando a paz chegou e adentrou o templo do consumo, foi enxotada pelos defensores da ordem e do progresso!
As luzes das lojas se apagaram, e as portas foram cerradas pelas mesmas mãos
que acenavam das janelas com toalhas brancas. Os jornais noticiaram.
A gente pensava que a paz chegaria travestida de anjo.
Eis que aparece malvestida e malcheirosa, pois, sem conhecer a estabilidade de uma tapera, vegeta em barracos desprovidos de conforto e de mordomias.
Não estava no script que a paz estaria nas mãos da criança coberta de androjos
e de olhos esbugalhados diante de tanta fartura e beleza.
Malditos sem teto! Ousam perturbar o Weekend da frivolidade e da fantasia.
O engraxate da esquina cantarolava, sorrindo com os olhos.
Pareceu-me ouvir a melodia do Chico Buarque, cantando o desfile da vida em festa.
Lembrei-me de que em outros tempos proibiram passeata de panela vazia.
É tão simples, basta enchê-la!
Mais adiante um mendigo gargalhava.
Não precisa ser médico para prescrever o único remédio que afugenta o sem-teto.
De novo, é tão simples. A moradia.
Terra, casa e escola, os três segredos de Fátima para a salvação do Brasil.
É tão simples, não?
Em todos os tempos, procura-se a paz onde ela não se encontra.
A paz não abre mão de ser criança que pede espaço para vida com dignidade e esperança.
A paz é vida para as crianças. É teimosa.
Defende a política da cidadania. Criança e paz.
O destino da criança é a maturidade da vida, não o paraíso dos anjinhos.
Encontra a paz quem abre caminhos para a criança crescer em idade, graça e sabedoria.
O caminho da paz estará sempre nas mãos das crianças. Crianças e paz!
Mauro Morelli
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