domingo, 23 de outubro de 2011

Comentário do Evangelho

O amor a Deus identifica-se com o amor ao próximo

No início desta narrativa do evangelho transparecem as divergências internas entre os fariseus e os saduceus. Estes, ao contrário dos fariseus, negavam a ressurreição. E quando Jesus foi questionado pelos saduceus (Mt 22,23-33), além de reafirmar a ressurreição declarou a eles: "Estais enganados...". Os fariseus ficaram muito satisfeitos com a resposta de Jesus. E agora, curiosos mas desconfiados, vêm a Jesus com outra questão controvertida: qual é o maior mandamento da Lei? A Lei era o conjunto tradicional de regras sócio-religiosas, acrescido de novas normas de observâncias mais detalhadas, elaboradas ao longo da história de Israel e da Judéia, acumulando, no tempo de Jesus, seiscentos e treze (613) mandamentos. O conjunto todo era atribuído a Moisés, como tendo sido recebido diretamente de Deus no Sinai. No seu bojo a Lei favorecia as classes dominantes, a corte real, e as elites religiosas. O caráter divino atribuído à Lei respaldava, assim, estes interesses, curvando os fieis à submissão e à sua obediência. Aquele que faltasse a um desses mandamentos era considerado pecador. Dentre os vários aspectos abrangidos pela Lei, podia-se encontrar textos que defendiam os pobres e excluídos (primeira leitura), expressos nas categorias do estrangeiro, do órfão e da viúva; contudo este zelo limitava-se ao convívio intra-povo eleito, enquanto que os gentios, cujas terras foram conquistadas ou eram alvos de conquista, eram considerados inimigos a serem mortos. Os fariseus eram estritos observantes da Lei no seus múltiplos detalhes. Jesus, com freqüência, referiu-se à Lei como superada e às vezes contraditória com o seu projeto de libertação e vida para todos homens e mulheres. A novidade de Jesus é como um pano novo que não pode servir de remendo para roupa velha (Mt 9,16-17). A Lei e os Profetas até João! Daí em diante a Boa Nova do Reino de Deus (Lc 16,16). Jesus como filho do Reino está livre das obrigações da Lei (Mt 17,24-27). O publicano arrependido é perdoado e o fariseu justo não o é (Lc 18,9-14). Questionado sobre o maior mandamento da Lei, Jesus responde reunindo dois mandamentos separados, que ficavam desconexos entre sí, um do livro do Deuteronômio e outro do livro do Levítico: "Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento!" (Dt 6,5), e "amarás teu próximo como a ti mesmo" (Lv 19,18). Citando estes dois textos sobre o amor, extraídos da própria Lei, Jesus afirma que "destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os profetas". O amor a Deus não está nas observâncias ascéticas, religiosas, e legais, que levam a discriminações e exclusões, inclusive ódio ao inimigo, mas é o amor que se concretiza no dom e na acolhida ao próximo, sem limites. O amor a Deus identifica-se e concretiza-se com o amor ao próximo, que se iguala ao amor de si mesmo, e neste amor de comunhão fraterna comunga-se com o próprio Deus. Este amor ao próximo não se restringe às simples relações inter-pessoais, mas tem um alcance social. É o amor que luta por uma sociedade mais justa e fraterna, onde todos tenham acesso aos bens deste mundo, sem privilegiados ou excluídos, no desabrochar da vida plena. Este amor, do qual o apóstolo Paulo foi testemunha (segunda leitura), é o amor que gera vida a alegria nas comunidades.

José Raimundo Oliva

Oração
Pai, que o meu amor a ti se manifeste na solidariedade para com o meu próximo. E que a comunhão com o meu próximo expresse meu profundo amor por ti.

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