sexta-feira, 10 de maio de 2013

6ª-feira da 6ª Semana da Páscoa


Volte hoje para Deus!
Uma Vida Nova 

João 16,20-23a

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:20 Em verdade, em verdade vos digo: Vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se transformará em alegria. 21 A mulher, quando deve dar à luz, fica angustiada porque chegou a sua hora; mas, depois que a criança nasceu, ela já não se lembra dos sofrimentos,
por causa da alegria de um homem ter vindo ao mundo.
22 Também vós agora sentis tristeza, mas eu hei de ver-vos novamente
e o vosso coração se alegrará, e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria.
23a Naquele dia, não me perguntareis mais nada. 

Reflexão

Nestes dias entre Ascensão e Pentecostes, os evangelhos de cada dia são tirados dos capítulos 16 a 21 do evangelho de São João, onde fazem parte do assim chamado “Livro da Consolação ou da Revelação perante a Comunidade” (Jo 13,1 a 21,31). Este Livro tem a seguinte subdivisão: despedida dos amigos (Jo 13,1 a 14,31); testamento de Jesus e oração ao Pai (Jo 15,1 a 17,28); a obra consumada (Jo 18,1 a 20,31). O ambiente é de tristeza e de expectativa. Tristeza, porque Jesus se despede e a saudade toma conta do coração. Expectativa, porque está chegando a hora de receber o dom prometido do consolador que fará desaparecer a tristeza e trará de volta a alegria da presença amiga de Jesus no meio da comunidade.

João 16,20: A tristeza se transformará em AlegriaJesus diz: “Eu lhes garanto: vocês vão gemer e se lamentar, enquanto o mundo vai se alegrar. Vocês ficarão angustiados, mas a angústia de vocês se transformará em alegria”. A freqüente alusão à tristeza e ao sofrimento reflete o ambiente das comunidades do fim do primeiro século na Ásia Menor (atual Turquia), para as quais João escreve o seu evangelho. Elas viviam uma situação difícil de perseguição e de opressão que era causa de tristeza. Os apóstolos tinham ensinado que Jesus voltaria logo, mas a parusia, o retorno glorioso de Jesus, estava demorando e a perseguição aumentava. Muitos ficavam impacientes: “Até quando?” (cf. 2Tess 2,1-5; 2Pd 3,8-9). Pois, uma pessoa só agüenta uma situação de sofrimento e de perseguição quando ela sabe que o sofrimento é caminho e condição para a perfeita alegria. Então, mesmo tendo a morte diante dos olhos, ela agüenta e enfrenta a dor. Por isso o evangelho traz a comparação tão bonita das dores do parto.

João 16,21: A comparação das dores do partoTodos entendem esta comparação, sobretudo as mães: “Quando a mulher está para dar à luz, sente angústia, porque chegou a sua hora. Mas quando a criança nasce, ela nem se lembra mais da aflição, porque fica alegre por ter posto um ser humano no mundo”. A dor e a tristeza causadas pela perseguição, mesmo sem oferecerem nenhum horizonte de melhora, não são estertores de morte, mas sim dores de parto. As mães sabem disto por experiência. A dor é terrível, mas elas agüentam, porque sabem que a dor é fonte de vida nova. Assim é a dor da perseguição dos cristãos, e assim pode e deve ser vivida qualquer dor, contanto que seja à luz da experiência da morte e ressurreição de Jesus.

João 16,22-23a: A alegria eterna. Jesus aplica a comparação: Agora, vocês também estão angustiados. Mas, quando vocês tornarem a me ver, vocês ficarão alegres, e essa alegria ninguém tirará de vocês. Nesse dia, vocês não me farão mais perguntas. Esta é a certeza que anima as comunidades cansadas e perseguidas da Ásia Menor e as faz cantar de alegria no meio das dores. Como diz o poeta: “Faz escuro, mas eu canto!” Ou como diz o místico São João da Cruz: “Em uma noite escura, com ânsias e amores inflamado, ó ditosa ventura, saí sem ser notado, estando já minha casa sossegada!” A expressão Nesse Dia indica a chegada definitiva do Reino que traz consigo a sua própria claridade. À luz de Deus já não haverá mais necessidade de perguntar coisa alguma. A luz de Deus é a resposta total e plena a todas as perguntas que poderiam nascer de dentro do coração humano.

Para confronto pessoal
1) Tristeza e alegria. Elas existem misturadas na vida. Como isto acontece em sua vida?
2) Dores de parto. Esta experiência está na origem da vida de cada um de nós. Minha mãe agüentou a dor com esperança, e por isso eu estou vivo. Pare e pense neste mistério da vida.

Tristeza passageira

Quando anuncia aos discípulos a sua participação na prova, Jesus também lhes garante a passagem da dor à alegria: "Assim também vós: sem dúvida, agora estais tristes, mas hei de ver-vos outra vez, e o vosso coração se alegrará e ninguém vos tirará a vossa alegria.". Na ressurreição de Cristo nasce o homem novo; é vida nova dada por Ele, definitiva, na qual a alegria será completa e por ninguém poderá ser tirada.

Os discípulos foram alertados a respeito do perigo de ficarem muito abatidos com a morte do Mestre, e se entregarem ao pranto e às lamentações, esquecendo-se da missão que tinham pela frente. Se, por um lado, justificava-se o choro momentâneo, seria insensato deixar-se vencer por ele. A tristeza deveria transformar-se em alegria, e o pranto em festa. A última palavra sobre a vida de Jesus competia ao Pai. Este responderia com a "vida" o que os inimigos do Reino votaram à "morte". Então teria fim a alegria efêmera do mundo, que se vangloriou de ter eliminado Jesus. Era tempo de colocar no Pai uma confiança inabalável.

Jesus prepara seus discípulos para sua partida definitiva. O sentimento dos discípulos será algo diferente dos sentimentos do mundo. Os discípulos ficarão tristes, em contraposição com o mundo, que por suas características não experimentaram a visita de Deus na carne de Jesus e, portanto, não sabe o que significa deixar de vê-lo, deixar de compartilhar com ele.

Contudo, a ausência de Jesus é temporal; é o tempo de que o discípulo necessitará para interiorizar o mistério de Jesus e voltar a senti-lo completamente vivo em sua vida. Aí está o grande mistério da Ressurreição: é a capacidade de deixar entrar na vida pessoal o modo de ser, de pensar e de agir de Jesus, com plena consciência e convicção de que essa proposta, tal como a apresentou Jesus e tal como ele a viveu, é a alternativa de vida que definitivamente se ajusta ao querer de Deus. A alegria do mundo e a tristeza dos discípulos são passageiras. O que permanece é a alegria daqueles que, perseverando nas situações de adversidade e sofrimento, vivem o amor em comunhão com o próximo, com Jesus e com o Pai.

O caminho do cristão é de esperança e de alegria, de fecundidade e vida, embora tenha que passar por momentos obscuros, de perseguição e morte. A tristeza deve ser para o discípulo um estado passageiro; seu estado habitual deve ser de alegria, essa virtude cristã por excelência, fundamentada na profunda convicção de que a vida triunfa sobre a morte, o amor sobre o ódio, a liberdade sobre a escravidão, a igualdade sobre a hierarquização da sociedade, o serviço sobre o poder. A tristeza do aparente fracasso do cristianismo se converterá em semente de alegria e vida, como a tristeza e a angústia da mulher diante do nascimento de seu filho desaparecem totalmente quando a criança vem ao mundo.

As dores do parto são uma imagem do que os discípulos estavam vivendo. Uma criança vem à luz em meio a dores e sofrimentos, tanto dela quanto da mãe. Uma vez concluído o parto, é tempo de festejar. Com a imagem da mulher que dá a luz, se alude nesta passagem um novo começo do gênero humano, ao nascimento de uma nova humanidade. Esta nasce como fruto de um desapego, expresso em termos de morte ou dor. De fato, Jesus vai dar a sua vida para criar o homem novo; mas também os sofrimentos dos seus, perseguidos pela ordem injusta, são dores de parto da humanidade nova. Sua morte representa as dores do parto; sua ressurreição, o nascimento do novo homem.

Algo semelhante passa-se com Jesus: seu ministério de salvação da humanidade foi perpassado de rejeição e incompreensão que culminou na morte de cruz. Tudo isto foi necessário para que a salvação pudesse acontecer. Uma vez realizada, era tempo de alegrar-se, porque o Senhor ressuscitou. Ninguém jamais haveria de privar os discípulos dessa alegria pela presença do Ressuscitado. A condição de Jesus ressuscitado não deixa, portanto, de ser humana; é a plenitude de existência que Deus destinou ao ser humano. Deste modo, a imagem do parto, que inclui dor e alegria, situa-se numa dupla perspectiva: por um lado, a da morte-ressurreição de Jesus; por outro, a da tristeza-alegria dos discípulos no futuro, pois a perseguição e inclusive a morte, serão penhor de alegria e vida.

Não deixa de ter relação com as predições do Senhor sobre sua morte iminente, o espetáculo que cada Semana Santa exibe nosso mundo paganizado, especificamente nossos países de raiz cristã: enquanto grupos geralmente pequenos nos associamos aos sofrimentos e o martírio do Senhor, a grande maioria converte esses mesmos dias numa esplêndida possibilidade de turismo, recreações e deleites. “Vocês chorarão e se lamentarão enquanto o mundo se diverte”.
A alegria da comunidade se apoiará na presença de Jesus ressuscitado, sinal da vida invencível. Uma vez que os discípulos tenham visto o triunfo da vida sobre a morte, a alegria será permanente. Quando chegar aquele dia, compreenderão. Então a experiência do Espírito responderá a todas as perguntas. Portanto, cabe às comunidades estarem atentas à presença do Espírito na oração, no diálogo e na ação, mantendo os laços de amor e misericórdia, sem temer a repressão dos poderes que oprimem e ameaçam.

A vida presente é marcada por inúmeros sofrimentos e dificuldades, sendo que o fundamento da grande maioria dos nossos problemas é o pecado com as suas conseqüências. A esperança da felicidade eterna como conseqüência da vitória de Cristo sobre o pecado e a morte deve ser a grande força que nos possibilita vencer os problemas que marcam a nossa existência atual.

Assim, como missionários da Igreja, devemos anunciar a todos a alegre esperança do Reino definitivo para que todas as pessoas possam valorizar cada vez mais a dimensão espiritual de sua existência e viver já, aqui na terra, um pouco da alegria que não nos pode ser tirada. Por essência, a alegria cristã é a participação na alegria insondável e, ao mesmo tempo, divina e humana, que se encontra no coração de Cristo glorificado... O caráter festivo do domingo exprime a alegria que Cristo transmite à sua Igreja através do dom do Espírito. A alegria é precisamente um dos frutos do Espírito Santo.

Doravante, as tribulações infligidas pelo mundo podem ser vividas de maneira diferente, pois, em Jesus Ressuscitado, através de nossa fé, temos a certeza de que o poder da morte foi vencido definitivamente. Nesse momento, o fiel se encontra ante uma realidade completamente nova e diferente; já não se trata de uma fé imóvel, de uma fé passiva e inativa; a fé e a experiência da ressurreição de Jesus são o motor que move o discípulo e a comunidade a pôr-se no caminho do tornar possível o projeto do Evangelho, primeiro na própria comunidade e logo no meio do mundo.
Oração: Exulte sempre o vosso povo, Pai Santo, com a renovada juventude da alma, de modo que, alegrando-se agora por se ver restituído à glória da adoção divina, aguarde o dia da ressurreição na esperança da felicidade eterna. Senhor nosso Deus, não permitais que jamais a tristeza e o pranto tomem conta do nosso coração. E que a fé na Ressurreição seja, para nós, motivo de perene alegria. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

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