O cuidado do rebanho - Amor
incondicional
Jesus manifestou-se aos seus discípulos e,15 depois de comerem, perguntou a Simão Pedro: 'Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?'
Pedro respondeu: 'Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo'. Jesus disse: 'Apascenta os meus cordeiros'. 16 E disse de novo a Pedro: 'Simão, filho de João, tu me amas?'
Pedro disse: 'Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo'. Jesus disse-lhe: 'Apascenta as minhas ovelhas'.
17 Pela terceira vez, perguntou a Pedro: 'Simão, filho de João, tu me amas?'
Pedro ficou triste, porque Jesus perguntou três vezes se ele o amava. Respondeu: 'Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo'.Jesus disse-lhe: 'Apascenta as minhas ovelhas.
18 Em verdade, em verdade te digo:
quando eras jovem, tu te cingias e ias para onde querias.
Quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá
e te levará para onde não queres ir.' 19 Jesus disse isso, significando com que morte Pedro iria glorificar a Deus. E acrescentou : 'Segue-me'.
Reflexão
Estamos nos
últimos dias antes de Pentecostes. Durante a quaresma, a seleção dos evangelhos
diários segue a tradição antiga da Igreja. Entre Páscoa e Pentecostes, a
preferência é para o evangelho de João. Assim, nestes últimos dois dias antes de
Pentecostes, os evangelhos diários trazem os últimos versículos do Evangelho de
João. Na próxima segunda feira, quando retomamos o Tempo Comum, retomamos o
evangelho de Marcos. Nas semanas do Tempo Comum, a liturgia diária faz leitura
contínua do evangelho de Marcos (da 1ª até à 9ª semana comum), de Mateus (da 10º
até 21ª semana comum) e de Lucas (da 22ª até 34ª semana comum).
Os
evangelhos de hoje e de amanhã trazem o último encontro de Jesus com os
discípulos. Foi um reencontro celebrativo, marcado pela ternura e pelo carinho.
No fim, Jesus chama Pedro e pergunta três vezes: "Você me ama?" Só depois de ter
recebido, por três vezes, a mesma resposta afirmativa, é que Jesus dá a Pedro a
missão de tomar conta das ovelhas. Para podermos trabalhar na comunidade Jesus
não pergunta se sabemos muita coisa. O que ele pede é que tenhamos muito amor!
João 21,15-17: O amor no centro da
missão. Depois de uma noite de pescaria no lago sem pegar nenhum peixe,
chegando na praia, os discípulos descobrem que Jesus já tinha preparado uma
refeição com pão e peixe assado nas brasas. Todos juntos fizeram uma ceia de
confraternização, em cujo centro estava o próprio Senhor Jesus,
preparando a Ceia. Terminada a refeição, Jesus chama Pedro e pergunta três
vezes: "Você me ama?" Três vezes, porque foi por três vezes que Pedro negou
Jesus (Jo 18,17.25-27). Depois de três respostas afirmativas, também Pedro se
torna "Discípulo Amado" e recebe a ordem de tomar conta das ovelhas. Jesus não
perguntou se Pedro tinha estudado exegese, teologia, moral ou direito canônico.
Só perguntou: "Você me ama?" O amor em primeiro lugar. Para as comunidades do
Discípulo Amado a força que as sustenta e mantém unidas não é a doutrina, mas
sim o amor.
João
21,18-19: A previsão da morte. Jesus diz a Pedro: Eu
garanto a você: quando você era mais moço, você colocava o cinto e ia para onde
queria. Quando você ficar mais velho, estenderá as suas mãos, e outro colocará o
cinto em você e o levará para onde você não quer ir. Ao longo da vida, Pedro
e todos nós vamos amadurecendo. A prática do amor irá tomando conta da vida e a
pessoa já não será mais dono da própria vida. O serviço de amor aos irmãos e às
irmãs tomará conta de tudo e nos conduzirá. Um outro colocará o cinto em você
e o levará para onde você não quer ir. Este é o sentido do seguimento. E o
evangelista comenta: “Jesus falou isso aludindo ao tipo de morte com que Pedro
iria glorificar a Deus”. E Jesus acrescentou: "Siga-me."
O amor
em João – Pedro, você me ama? - O Discípulo Amado. A palavra amor
é umas das palavras mais usadas por nós, hoje em dia. Por isso mesmo, é uma
palavra muito desgastada. Mas era com esta palavra que as comunidades do
Discípulo Amado manifestavam a sua identidade e o seu projeto. Amar é antes de
tudo uma experiência profunda de relacionamento entre pessoas onde existe uma
mistura de sentimentos e valores como alegria, tristeza, sofrimento,
crescimento, renúncia, entrega, realização, doação, compromisso, vida, morte
etc. Este conjunto todo na Bíblia é resumido por uma única palavra na língua
hebraica. Esta palavra é hesed. É uma palavra de difícil tradução
para a nossa língua. Nas nossas Bíblias geralmente é traduzida por caridade,
misericórdia, fidelidade ou amor. As comunidades do Discípulo Amado procuravam
viver esta prática do amor em toda a sua radicalidade. Jesus a revelou em seus
encontros com as pessoas com sentimentos de amizade e de ternura, como, por
exemplo, no seu relacionamento com a família de Marta em Betânia: “Jesus amava
Marta e sua irmã e Lázaro”. Ele chora diante do túmulo de Lázaro (Jo
11,5.33-36). Jesus encarou sempre sua missão como uma manifestação de amor:
“tendo amado os seus, amou-os até o fim” (Jo 13,1). Neste amor Jesus manifesta
sua profunda identidade com o Pai (Jo 15,9). Para as comunidades não havia outro
mandamento a não ser este: “agir como Jesus agia” (1Jo 2,6). Isto implica em
“amar os irmãos”(1Jo 2,7-11; 3,11-24; 2Jo 4-6). Sendo um mandamento tão central
na vida da comunidade, os escritos joaninos definem assim o amor: “Nisto
conhecemos o Amor: que ele deu a sua vida por nós. Nos também devemos dar as
nossas vidas por nossos irmãos e irmãs”. Por isso não devemos “amar só por
palavras, mas por ações e verdade”.(1Jo 3,16-17). Quem vive o amor e o manifesta
em suas palavras e atitudes torna-se também Discípula Amada, Discípulo Amado.
Para confronto pessoal
1. Olhe para
dentro de você e diga qual o motivo mais profundo que leva você a trabalhar na
comunidade? É o amor ou é a preocupação com as idéias?
2. A partir
das relações que temos entre nós, com Deus e com a natureza, que tipo de
comunidade estamos construído?
O que mais atrai
sobre nós a benevolência do Alto é a nossa solicitude para com o próximo. Assim,
é justamente esta a disposição que Cristo exige de Pedro: Simão, filho de
João, tu me amas mais do que estes? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu bem
sabes que eu te amo. E Jesus lhe diz: Apascenta as minhas
ovelhas.
Por que, deixando
os outros apóstolos de lado, Jesus se dirige Pedro, a respeito deles? É que
Pedro era o primeiro entre os apóstolos, o que falava em nome deles, o chefe do
seu grupo, tanto que o próprio Paulo vem consultá-lo um dia, e não aos outros.
Para demonstrar a Pedro que podia confiar plenamente em que sua negação fora
anulada, Jesus lhe dá agora a primazia entre os seus irmãos. Não menciona que o
negou, nem o envergonha com o seu passado. “Se tu me amas, diz ele,
permanece à frente de teus irmãos; e dá provas, agora, daquele amor apaixonado
que sempre demonstraste por mim, com tanta alegria! A vida, que dizias estar
pronto a dar em meu favor, eu quero que a dês pelas minhas
ovelhas”.
Interrogado uma primeira vez e depois uma segunda, Pedro
apela para o testemunho daquele que conhece o segredo dos corações. Interrogado
uma terceira vez, ele se perturba, e o temor o domina. Lembra-se de que outrora
fizera afirmações solenes, que os acontecimentos haviam desmentido. E é por isso
que procura, agora, apoiar-se em Jesus: Tu conheces tudo, diz ele, tanto o
presente quanto o futuro. Vede como se tornou melhor e mais humilde, como
perdeu sua arrogância e seu espírito de contradição! Perturbou-se ao pensamento
de que podia ter a impressão de amar, sem amar realmente. “Tanto estava seguro
de mim mesmo no passado, pensa ele, como agora me sinto confuso”. Jesus o
interroga três vezes, e três vezes lhe dá a mesma ordem: Apascenta as minhas
ovelhas. Demonstra assim o apreço que tem pelo cuidado de suas ovelhas, pois
faz, de tal cuidado, a maior prova de amor para com ele.
Depois de ter
falado a Pedro deste amor, Jesus prediz o martírio que lhe está destinado.
Manifesta desse modo toda a confiança que deposita nele. Para nos dar um exemplo
de amor e mostrar a melhor forma de amar, diz ele: Quando eras jovem, tu
mesmo amarravas teu cinto e andavas por onde querias; quando, porém, fores
velho, outros te cingirão e te levarão para onde não queres ir . Era,
aliás, o que Pedro tinha querido e desejado outrora; por isso é que Jesus lhe
fala assim. Pedro dissera, com efeito: Eu darei a minha vida por ti! E
também: Ainda que eu tenha de morrer contigo, não te
negarei!
Seguir Jesus
significa renunciar ao desejo de poder e comprometer-se com ele no serviço
humilde aos pobres e excluídos. Isto é solicitude para com Jesus na pessoa do
próximo. E é isso que Jesus espera de mim e de ti. Entrega-te! Como Pedro
responda sim, ao seu chamado.
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