João
16,12-15
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos:
12 Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos,
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos:
12 Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos,
mas não sois capazes de as compreender
agora.
13 Quando, porém, vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à plena verdade.
Pois ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido;
e até as coisas futuras vos anunciará.
14 Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará.
15 Tudo o que o Pai possui é meu.
Por isso, disse que o que ele receberá e vos anunciará, é meu.
Reflexão13 Quando, porém, vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à plena verdade.
Pois ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido;
e até as coisas futuras vos anunciará.
14 Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará.
15 Tudo o que o Pai possui é meu.
Por isso, disse que o que ele receberá e vos anunciará, é meu.
Mais uma vez, nos unimos no mesmo espírito de
fé, para com muita alegria, celebrar a festa da Santíssima Trindade! É a festa
do amor, quando a Igreja nos convida a contemplar o mistério inefável e
insondável da Trindade Santa! Mergulhar na profundidade deste mistério, é fazer
a experiência da imensidão do amor de Deus, que para relacionar-se conosco, quis
se fazer família: como Pai, Ele nos criou, como Filho nos redimiu e, como
Espírito Santo nos santifica.
Ao Colocar esta festa no domingo seguinte à solenidade de Pentecostes, a Igreja vem nos lembrar que cada domingo é uma festa da Santíssima trindade, pois o domingo é o dia do Senhor, dia em que Jesus ressuscitou e que o Espírito Santo nos santificou, descendo sobre a igreja nascente. Por tanto, todo domingo, devemos contemplar este mistério Trinitário!
Ao Colocar esta festa no domingo seguinte à solenidade de Pentecostes, a Igreja vem nos lembrar que cada domingo é uma festa da Santíssima trindade, pois o domingo é o dia do Senhor, dia em que Jesus ressuscitou e que o Espírito Santo nos santificou, descendo sobre a igreja nascente. Por tanto, todo domingo, devemos contemplar este mistério Trinitário!
No antigo testamento, não se fala da
Família Trinitária, é Jesus quem a revelou a nós, entreabrindo o véu que
encobria de nossos olhos a grande alegria de poder fazer parte da família de
Deus: do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
O
Evangelho deste Domingo nos coloca no contexto da última ceia e do discurso de
despedida que antecede a “hora” de Jesus. Depois
de constituir a comunidade do amor e do serviço (cf. Jo 13,1-17) e de apresentar
o mandamento fundamental que deve dar corpo à vida dessa comunidade (cf. Jo
15,9-17), Jesus vai definir a missão da comunidade no mundo: testemunhar acerca
de Jesus, com a ajuda do Espírito (cf. Jo 15,26-27). Jesus
avisa, no entanto, que o caminho do testemunho deparará com a oposição decidida
da religião estabelecida e dos poderes de morte que dominam o mundo (cf. Jo
16,1-4a); mas os discípulos contarão com o Espírito: Ele ajudá-los-á e
dar-lhes-á segurança no meio da perseguição (cf. Jo 16,8-11). De resto, a
comunidade em marcha pela história encontrar-se-á muitas vezes diante de
circunstâncias históricas novas, diante das quais terá de tomar decisões
práticas: também aí se verá a presença do Espírito, que ajudará a responder aos
novos desafios e a interpretar as circunstâncias à luz da mensagem de Jesus (cf.
Jo 16,12-15).
O
tema fundamental desta leitura tem, portanto, a ver com a ajuda do Espírito aos
discípulos em caminhada pelo mundo. Jesus
começa por dizer aos discípulos que há muitas outras coisas que eles não podem
compreender de momento (v. 12). Será o “Espírito da verdade” que guiará os
discípulos para a verdade, que comunicará tudo o que ouvir a Jesus e que
interpretará o que está para vir (v. 13). Isto significa que Jesus não revelou
tudo o que havia para revelar ou que a sua proposta de salvação/libertação ficou
incompleta?
De
forma nenhuma. As palavras de Jesus acerca da ação do Espírito referem-se ao
tempo da existência cristã no mundo, ao tempo que vai desde a morte de Jesus até
à “parusia”. Como será possível aos discípulos, no tempo da Igreja, continuar a
captar, na fé, a Palavra de Jesus e a guiar a vida por ela? A resposta de Jesus
é: “pelo Espírito da verdade, que fará com que a minha proposta continue a ecoar
todos os dias na vida da comunidade e no coração de cada crente; além disso, o
Espírito ensinar-vos-á a entender a nova ordem que se segue à cruz e à
ressurreição e a discernir, a partir das circunstâncias concretas diante das
quais a vida vos vai colocar, como proceder para continuar fiel às minhas
propostas”. O Espírito não apresentará uma doutrina nova, mas fará com que a
Palavra de Jesus seja sempre a referência da comunidade em caminhada pelo mundo
e que essa comunidade saiba aplicar a cada circunstância nova que a vida
apresentar, a proposta de Jesus.
Aonde
irá o Espírito buscar essa verdade que vai transmitir continuamente aos
discípulos? A resposta é: ao próprio Jesus (“receberá do que é meu e vo-lo
anunciará” v.14). Assim, Jesus continuará em comunhão, em sintonia com os
discípulos, comunicando-lhes a sua vida e o seu amor. Tal é a função do
Espírito: realizar a comunhão entre Jesus e os discípulos em marcha pela
história.
A
última expressão deste texto (v.15) sublinha a comunhão existente entre o Pai e
o Filho. Essa comunhão atesta a unidade entre o plano salvador do Pai, proposto
nas palavras de Jesus e tornado realidade na vida da Igreja, por ação do
Espírito.
♦
O Espírito aparece, aqui, como presença divina na caminhada da comunidade
cristã, como essa realidade que potencia a fidelidade dinâmica dos crentes às
propostas que o Pai, através de Jesus, fez aos homens. A Igreja de que fazemos
parte tem sabido estar atenta, na sua caminhada histórica, às interpelações do
Espírito? Ela tem procurado, com a ajuda do Espírito, captar a Palavra eterna de
Jesus e deixar-se guiar por ela? Tem sabido, com a ajuda do Espírito, continuar
em comunhão com Jesus? Tem-se esforçado, com a ajuda do Espírito, por responder
às interpelações da história e por atualizar, face aos novos desafios que o
mundo lhe coloca, a proposta de Jesus?
♦ Sobretudo, somos convidados a contemplar o mistério de um Deus que é amor e que, através do plano de salvação/libertação do Pai, tornado realidade viva e humana em Jesus, e continuado pelo Espírito presente na caminhada dos crentes, nos conduz para a vida plena do amor e da felicidade total – a vida do Homem Novo, a vida da comunhão e do amor em plenitude.
♦ A celebração da Solenidade da Trindade não pode ser a tentativa de compreender e decifrar essa estranha charada de “um em três”. Mas deve ser, sobretudo, a contemplação de um Deus que é amor e que é, portanto, comunidade. Dizer que há três pessoas em Deus, como há três pessoas numa família – pai, mãe e filho – é afirmar três deuses e é negar a fé; inversamente, dizer que o Pai, o Filho e o Espírito são três formas de apresentar o mesmo Deus, como três fotografias do mesmo rosto, é negar a distinção das três pessoas e é, também, negar a fé. A natureza divina de um Deus amor, de um Deus família, de um Deus comunidade, expressa-se na nossa linguagem imperfeita das três pessoas. O Deus família torna-se trindade de pessoas distintas, porém unidas. Chegados aqui, temos de parar, porque a nossa linguagem finita e humana não consegue “dizer” o mistério de Deus.
♦ As nossas comunidades cristãs são, realmente, a expressão desse Deus que é amor e que é comunidade – onde a unidade significa amor verdadeiro, que respeita a identidade e a especificidade do outro, numa experiência verdadeira de amor, de partilha, de família, de comunidade?
♦ Sobretudo, somos convidados a contemplar o mistério de um Deus que é amor e que, através do plano de salvação/libertação do Pai, tornado realidade viva e humana em Jesus, e continuado pelo Espírito presente na caminhada dos crentes, nos conduz para a vida plena do amor e da felicidade total – a vida do Homem Novo, a vida da comunhão e do amor em plenitude.
♦ A celebração da Solenidade da Trindade não pode ser a tentativa de compreender e decifrar essa estranha charada de “um em três”. Mas deve ser, sobretudo, a contemplação de um Deus que é amor e que é, portanto, comunidade. Dizer que há três pessoas em Deus, como há três pessoas numa família – pai, mãe e filho – é afirmar três deuses e é negar a fé; inversamente, dizer que o Pai, o Filho e o Espírito são três formas de apresentar o mesmo Deus, como três fotografias do mesmo rosto, é negar a distinção das três pessoas e é, também, negar a fé. A natureza divina de um Deus amor, de um Deus família, de um Deus comunidade, expressa-se na nossa linguagem imperfeita das três pessoas. O Deus família torna-se trindade de pessoas distintas, porém unidas. Chegados aqui, temos de parar, porque a nossa linguagem finita e humana não consegue “dizer” o mistério de Deus.
♦ As nossas comunidades cristãs são, realmente, a expressão desse Deus que é amor e que é comunidade – onde a unidade significa amor verdadeiro, que respeita a identidade e a especificidade do outro, numa experiência verdadeira de amor, de partilha, de família, de comunidade?
Professar a nossa fé na Santíssima
Trindade, não significa somente reconhecê-la, mas tomá-la como modelo para nossa
vida pessoal e comunitária. Quando traçamos sobre nós, o sinal da cruz,
invocando a Santíssima Trindade, podemos ter certeza, que novos horizontes se
abrirão para nós e tudo que nos parecer obscuro, tornará claro!
Viver a vida
trinitária é fazer a mesma trajetória de Jesus, é viver comunitariamente,
priorizando sempre os valores do Reino!
A melhor forma de celebrar a festa da Santíssima
Trindade, é nos convencer de que se trata de um mistério da nossa fé, que nos
foi deixado por aquele que pode tudo, aquele que para Ele nada é impossível.
Assim, se vivermos no amor fraterno, um amor aberto, grande, generoso, sem
medida e sem condições, aberto ao perdão e à reconciliação, um amor que cria a
vida e que vence a violência e a morte. Assim, e somente dessa forma, entraremos
em comunhão com o Deus que é amor e comunhão em si mesmo, que é Pai, Filho e
Espírito Santo. Assim e só assim conheceremos para valer a Deus, e estamos
certamente dentro deste Plano de amor trinitário projetado pelo Pai em união com
o Filho e com o Espírito Santo.
Reflexão
2:
Hoje a Igreja comemora
uma grande festa, que nos enche de alegria. Comemoramos hoje a unidade.
Celebramos a Festa da Santíssima Trindade: Deus, que é Pai, que é Filho, e que é
Espírito Santo.
O dia de hoje nos
recorda aquele primeiro catecismo, de perguntas e respostas, do tempo de
catequese. Lembra-nos daquela pergunta que a catequista nos fazia: “O Pai é
Deus? O Filho é Deus? O Espírito Santo é Deus?” A resposta era dada de
forma cantada. Mal acabava de perguntar e respondíamos com toda força -Siiim! -e
novamente a catequista perguntava - então são três deuses? -Nãão! - gritávamos -
são três pessoas distintas, mas um só Deus.
As três pessoas da
Santíssima Trindade são um só Deus, porque todas três têm uma só e a mesma
natureza divina. Não é fácil entender essa verdade que está muito acima da nossa
inteligência. Porém, muito mais importante do que tentar entender, é aceitar e
amar a Trindade Divina.
Para tentar explicar o
mistério da Santíssima Trindade, alguns catequistas a comparam a um bolo. Os
três ingredientes básicos; a farinha, o ovo e o fermento têm características
diferentes, porém juntos, formam uma mistura homogênea.
É impossível separá-los
e um complementa o outro. Talvez esse exemplo ajude, mas crer na Santíssima
Trindade não é uma questão de culinária, de matemática e nem de lógica, é uma
questão de fé.
Jesus, o Filho, fala que
tem ainda muitas coisas para dizer aos discípulos, e que eles não seriam capazes
de entender, pois ainda não haviam recebido o Espírito Santo. Diz também que,
tudo que Deus Pai possui é seu, e que o Espírito da Verdade os ensinará a
entenderem tudo isso.
Temos aqui a presença da
Santíssima Trindade. Um só Deus em três pessoas. Deus que é Pai, que é Filho e
que é Espírito Santo. Um mistério profundo, inexplicável. A razão não consegue
entendê-lo, mas a fé, esta sim, pode aceitá-lo; porque a fé é um dom de
Deus.
Ao Pai, se atribui de
modo especial a obra da criação; ao Filho é atribuída a redenção da humanidade;
e ao Espírito Santo, a renovação da vida. O Espírito Santo é o amor que une o
Pai ao Filho. As três Pessoas divinas estão presentes em tudo. É consolador
sabermos que Deus não é egoísta, nem solitário. É um Deus comunidade de amor, é
família, são três pessoas unidas no amor.
Assim também somos nós.
Quando vivemos a união e o amor fraterno, a partilha e a solidariedade. Quando
realmente vivemos tudo isso na família, no ambiente de trabalho, na comunidade,
seja onde for, estamos dando testemunho da presença do Deus
Trindade.
Portanto, tudo o que
fizermos na vida, vamos fazê-lo em nome da Ssma Trindade. Sempre que fazemos o
sinal da cruz, é o nosso Deus, uno e trino que estamos invocando. Vamos sempre
fazer o sinal do cristão com muita convicção. Fazer o sinal da cruz em público,
ao passar em frente a uma igreja na rua ou no ônibus, é uma forma de
evangelizar, é uma demonstração de fé e coragem.
Vamos nos aproximar do
Deus Trino e como Maria santíssima, viver em nós a plenitude da presença das
três pessoas. Maria, humildemente, deixou o coração se sobrepor à razão.
Acreditou e aceitou o pedido do seu Pai, desposou o Espírito Santo e tornou-se a
mãe do Filho. Veja que boa notícia: O batismo fez de nós Templos de Deus e
morada da Santíssima Trindade.
Com muita alegria vamos
encerrar este nosso momento de fé, dando glórias ao Pai, ao Filho e ao Espírito
Santo. Como era no princípio, agora e sempre,
amém!!!
Reflexão
3:
Na festa de Pentecostes, recebemos o
Espírito Santo que nos iluminou e aqueceu o nosso coração de cristãos. E é
graças à luz deste Espírito que nos faz recordar todas as coisas que hoje
podemos refletir sobre o mistério de Deus.
Quem é esse Deus no qual acreditamos? Esta é uma pergunta que
continuamente devemos fazer a nós mesmos, já que um grande número de pessoas
apresentam uma concepção errada de Deus, de um Deus diferente daquele que Jesus
veio nos revelar, um Deus que muitas vezes decepciona essas pessoas, pois são
criação delas mesmas devido a mal interpretações da Bíblia ou de alguém que
assim ensinou.
É realmente inquietante ver como a dois mil anos de
cristianismo, conceitos errados de Deus estão cada vez mais difundidos: pessoas
supersticiosas que acreditam num Deus que responde através de práticas sem
fundamento como as simpatias, cristais e toda espécie de coisas exotéricas;
pessoas materialistas que combinam Deus com o dinheiro e enxergam um Deus
materialista, o da teologia da prosperidade, onde praticamente Deus é sinônimo
de dinheiro, sucesso e poder, pessoas vingativas que veem um Deus vingativo
(Deus tarda mas não falha!) etc.
É preciso purificar a nossa ideia de Deus. E, se acreditamos
que Jesus é realmente Deus, por que deixamos de dar ouvido ao que ele nos diz
através dos evangelhos para seguir outros pensamentos vindos de fora do
cristianismo? Resposta: porque o ser humano sempre procura aquilo que lhe
convém, aquilo que que é mais cômodo, mais fácil, mais imediato, mais proveitoso
a curto prazo.
Mas, a realidade não é bem assim. Jesus não fala por
abstração, por dedução, mas por experiência de amor. Ele sabe como Deus é porque
ele e Deus são uma coisa só. Depois de toda a revelação de Deus no Antigo
Testamento, ele chega com uma novidade inimaginável, inesperada: Deus é um, e ao
mesmo tempo é Pai, é Filho e é Espírito Santo. Ou seja, Deus não é o solitário
perfeito, o todo-poderoso egoísta, mas é festa, é família, é relação, é
comunhão, é amor.
Deus são três pessoas que se amam tanto que, humanamente
falando, nós o vemos como único, como um casal de esposos que de tão unidos
parecem ser uma só pessoa. Que bonito! Ver em Deus aquilo que sempre desejamos:
o amor, a comunhão. Três pessoas que não se confundem nem se anulam, que se amam
tanto, e que podemos delinear a obra de cada uma delas: o Pai na criação, o
Filho na salvação e o sopro do Espírito Santo na nossa santificação. É
impossível entender esse mistério. Claro! Se fosse compreensível deixaria de ser
um mistério. Mas, como seres humanos, nós estamos sempre buscando algo que
facilite a nossa compreensão de Deus.
No evangelho de hoje, nestes quatro versículos, que vemos
como o círculo trinitário das Pessoas divinas é simplesmente perfeito. As três
Pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo são verdadeiramente um único Deus. Ao
cristão batizado é prometido o “Espírito da verdade” que nos conduzirá à plena
verdade de Deus. É o Espírito Santo doado no Pentecostes quem introduz pouco a
pouco o cristão e a Igreja na sua reflexão teológica e pastoral, na sempre mais
profunda compreensão da revelação divina. Conhecimento que devemos ter sempre o
cuidado para que não seja somente intelectual, mas, sobretudo experimental, no
qual o amor tem um papel absolutamente essencial.
O famoso e belíssimo ícone da Trindade de Andrej Rublev
sugere este convite divino. De fato, retrata a visita dos três anjos a Abraão
(Gn 18,1-4), imagem da unidade da Trindade. Estes anjos estão sentados em
círculo em torno da mesa da Eucaristia. É a Eucaristia que atualiza o Mistério
Pascal: síntese de toda a história da salvação. O anjo no centro é Jesus Cristo
que indica com o dedo o cálice eucarístico para o qual está voltado o doce olhar
dos três, o do Pai à direita e o do Espírito à esquerda. O círculo não está
fechado, adiante há um espaço, oferecido a quem contempla o ícone, no convite
silencioso do anjo central que indica a Eucaristia, através da qual, entramos na
mais perfeita comunhão com a Trindade.
A festa da Santíssima Trindade é o espelho da nossa atitude
profunda, é o segredo da nossa felicidade. O egoísmo é a nossa infelicidade.
Somos convidados a olhar para a Trindade no projeto de construção da nossa
comunidade: contemplando o amor da Trindade, a Igreja se dá conta de ser capaz
de comunhão. Unidos na diversidade, no respeito do outro, no amor simples,
concreto, benévolo, tornaremos o nosso ser Igreja esplendor deste inesperado
Deus comunhão.
Reflexão 4:
(Dom Henrique Soares da Costa)
É estranho celebrar com uma
festa litúrgica a Santíssima Trindade, pois a Trindade Santa é celebrada em toda
a vida cristã e, particularmente, em toda e cada Eucaristia. Recordemos que a
Missa é glorificação da Trindade Santíssima, na qual o Filho se oferece e é por
nós oferecido ao Pai no Espírito Santo, para a salvação nossa e do mundo
inteiro. Mas, aproveitando a festa hodierna, façamos algumas considerações que
nos ajudem na contemplação e adoração desse Mistério tão santo, que nos desvela
a vida íntima do próprio Deus.
Poderíamos começar com uma
pergunta provocadora: como a Igreja descobriu a Trindade? Descobriu, como duas
pessoas se descobrem: revelando-se! Duas pessoas somente se conhecem de verdade
se conviverem, se forem se revelando no dia-a-dia, se se amarem. Só há
verdadeiro conhecimento onde há verdadeiro amor. É costume dizer-se que ninguém
ama o que não conhece; pois, que seja dito também: ninguém conhece o que não
ama. O amor é a forma mais profunda e completa de conhecimento! Foi, portanto,
por puro amor a nós, à nossa pobre humanidade, que Deus quis dirigir-se a nós,
revelar-se, convivendo conosco, abrindo-nos seu coração, dando-nos a conhecer e
a experimentar seu amor... E fez isso trinitariamente! Então, desde o início, a
Igreja experimentou Deus na sua vida concreta, e o experimentou trinitariamente,
como Pai, como Filho e como Espírito Santo. Antes de falar sobre a Trindade, a
Igreja experimentou a Trindade!
Primeiramente, o Senhor Deus
incutiu no coração do povo de Israel e da própria Igreja que ele é um só: “Ouve,
ó Israel, o Senhor nosso Deus, o Senhor é um só!” Um porque não pode haver outro
ao seu lado, Um porque não pode ser multiplicado, Um porque não pode ser
dividido e Um porque deve ser o único horizonte, o único apoio, a única rocha de
nossa existência: ele, o Senhor Deus, é o único absoluto, o único que é, sem
princípio e sem fim, sem mudança e sem limite! Jamais poderemos imaginar tal
grandeza, tal plenitude, tal suficiência de si mesmo! Deus É – e basta! Tudo o
mais apenas existe porque vem dele, daquele que É! Mas, ele não é um Deus frio:
sempre apresentou-se ao povo de Israel como um Deus amante, um Deus de
misericórdia e compaixão, um Deus que não sossega enquanto não levar à plenitude
da vida as suas criaturas. Por isso, com paciência e bondade, conduziu o seu
povo de Israel, formando-o, educando-o, orientando-o e prometendo um futuro de
bênção e plenitude, de eternidade e abundância de dons, que se concretizaria com
um personagem que ele enviaria: o Messias, seu Ungido.
Esse Messias prometido, nós,
cristãos, o reconhecemos em Jesus, nosso Senhor. Ele é o enviado de Deus, do
Deus único, Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, Deus do povo de Israel. A esse
Deus tão grande e tão santo, Jesus chamava de Abbá –Papai: o meu Papai! A si
mesmo, Jesus se chamava “o Filho” – Filho único, unigênito de Deus, Filho Amado!
Mais ainda: o próprio Jesus, que veio para nós e por amor de nós, agiu neste
mundo, em nosso favor, com uma autoridade que ultrapassava de longe a autoridade
de um simples ser humano: ele agia como o próprio Deus. Não só interpretava a
Lei de Moisés, como também a modificou e a ultrapassou; perdoava os pecados,
exigia um amor e uma obediência absolutos à sua pessoa... amor que somente Deus
pode exigir. Jesus se revelava igual ao Pai, absolutamente unido a ele: “Eu e o
Pai somos uma coisa só! Quem me vê, vê o Pai. Eu estou no Pai e o Pai está em
mim”. Após a ressurreição, a Igreja compreendeu, impressionada, maravilhada:
Jesus não somente é o enviado daquele Deus a quem chamava de “Pai”, mas ele é
igual ao Pai: ele é Deus como o Pai, é eterno como o Pai, é o Filho amado pelo
Pai desde toda a eternidade. Então, o Deus de Israel é Pai, Pai eterno, Pai
eternamente, que eternamente gera no amor o Filho amado. Por amor, ele nos
enviou este Filho: “Verdadeiro homem, concebido do Espírito Santo e nascido da
Virgem Maria, viveu em tudo a condição humana, menos o pecado. Anunciou aos
pobres a salvação, aos oprimidos, a liberdade, aos tristes, a alegria”. E para
realizar o plano de amor do Pai,“entregou-se à morte e, ressuscitando dos
mortos, venceu a morte e renovou a vida”.
Mas, há ainda mais: o Filho,
ressuscitado e glorificado, derramou sobre seus discípulos o Espírito Santo, que
é o próprio Amor que o liga ao Pai. Este Espírito de Amor não é uma coisa, não é
simplesmente uma força, não é algo: é Alguém, é o Amor que une o Pai e o Filho,
e agora é, na Igreja de Cristo, o Paráclito-Consolador, Aquele que dá testemunho
de Jesus morto e ressuscitado, Aquele que vivifica e orienta a Igreja, Aquele
que renova em Cristo todas as coisas. Ele é o Dom que o Filho ressuscitado
recebeu do Pai e derramou sobre a Igreja, para santificar todas as coisas. Este
Espírito permanece no nosso meio na Palavra e nos sacramentos; este Espírito
conserva a Igreja unida na mesma fé e na mesma caridade fraterna, este Espírito
é a Força divina, a Energia criadora que nos ressuscitará, como ressuscitou o
Filho Jesus para a glória do Pai.
É assim que a Igreja confessa um
só Deus, imutável, indivisível, perfeito, eterno, absolutamente um só. Mas
confessa e experimenta igualmente que este Deus único é real e verdadeiramente
Pai, Filho e Espírito Santo, numa Trindade de amor perfeito e perfeitíssima
Unidade. A oração inicial da Missa de hoje, exprime este Mistério: “Ó Deus,
nosso Pai, enviando ao mundo a Palavra da verdade, que é o Filho, e o Espírito
santificador, revelastes o vosso inefável mistério. Fazei que, professando a
verdadeira fé, reconheçamos a glória da Trindade e adoremos a Unidade
onipotente”.
Continuemos, então, a nossa
Eucaristia, na qual torna-se presente sobre o Altar a oferta do Filho que, por
nós, entregou-se ao Pai num Espírito eterno. Ao Pai, ao Filho e ao Santo Espírito, Trindade
santa a consubstancial, a glória e o louvor pelos séculos dos
séculos.
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