domingo, 1 de janeiro de 2012

Comentário do Evangelho

Maria Mãe de Deus

O ano litúrgico tem início com o tempo do Advento, a partir de fins de novembro, em preparação do Natal, antecipando-se ao ano civil. A comemoração de Maria, Mãe de Deus, hoje, 1o de janeiro, oitava do Natal, abre o ano civil. O filho de Maria é o Filho de Deus! Este menino, nascido no ventre de Maria, é participante da vida divina e eterna, comunicada aos homens e mulheres. Em uma única passagem em uma de suas cartas, Gálatas, Paulo faz alusão à mãe de Jesus, na qual se destaca a íntima relação entre a divindade e a nossa humanidade, representada por Maria: "Deus enviou seu Filho, nascido de mulher..." (segunda leitura). E pelo Espírito de Jesus que nos é dado, já somos filhos de Deus, ao qual chamamos, com carinho, Pai! A novidade de Jesus é a revelação da dignidade da criação, assumida na vida divina. Deus nos criou para a eternidade. Maria, mãe de Deus! Esta desafiante definição solene do Concílio de Éfeso (ano 431), sob o Papa Clementino, põe em relevo a perfeita união entre a divindade e a humanidade, revelada na encarnação. Com o título "mãe de Deus" a dimensão feminina de Maria fica associada à própria natureza divina e abre o espaço para a imagem de Deus Mãe. Podemos ver em Maria traços do rosto feminino e materno de Deus. O patriarcalismo tradicional das culturas antigas, particularmente e intensamente presente no Antigo Testamento, relega a figura da mulher e mãe à obscuridade. E isto se reflete na imagem de Deus, masculina, apenas Pai, revestido de poder. Nas devoções a Maria os fiéis buscam a dimensão materna, amorosa e carinhosa de Deus. O projeto de Deus, do qual Maria participa, tem como característica essencial a grande novidade: Deus comunica a vida plena e liberta de todas as ilusões e opressões promovidas pelos poderosos da terra. É o Deus que entra em comunhão com as mulheres e os homens não em uma relação de poder, mas em uma relação de amor, amor este manifestado na humildade da encarnação, como um de nós, no meio de nós. É significativo que o menino nasça no anonimato e que o anúncio de seu nascimento se faça, pelos anjos, a um grupo de pastores, humildes trabalhadores que estavam em vigília guardando os rebanhos de seu patrão. Os pobres e pequeninos merecem a atenção prioritária de Deus. Eles vão às pressas ao encontro do recém-nascido. É o início da revelação do Deus que eleva os humildes. Os pastores retiram-se louvando e glorificando a Deus. Certamente vão comunicando sua alegria a outros. Pela encarnação conhecemos a face de Deus: Deus é o amor que se faz presente entre os pobres, abrindo-lhes as portas para que sejam participantes de sua própria Vida divina. Maria e José deram a seu filho o nome de Jesus, um nome comum em sua época, de acordo com o projeto de Deus de nos comunicar a vida eterna através da humildade da encarnação.
A presença de Jesus entre nós significa a presença da Paz no mundo. "O senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz" (primeira leitura). A Paz de Jesus é concedida a todos os povos e raças, sem exclusões, privilégios, ou eleições. É a paz interior que nos liberta da imagem de um deus opressor e acusador, animando-nos a tomar iniciativas na prática do amor e da justiça. É a paz exterior, a paz nos relacionamentos humanos, abolindo a ansiedade da riqueza e do poder e estabelecendo novos comportamentos de convívio, na misericórdia, na fraternidade, na solidariedade e na partilha. É a Paz da qual se excluem aqueles que, movidos pela ambição e pelo amor ao dinheiro, fazem a guerra, tornando-se loucos. Um ano novo é um convite a nos tornarmos homens e mulheres novos pela nossa adesão ao projeto de Deus de restaurar e santificar a vida, instaurando a paz na terra, a ser tecida no dia a dia, ao longo dos dias.


José Raimundo Oliva

Oração
Pai, dá-me a luz do teu Espírito, para que, como Maria, eu possa compreender o desígnio de amor que tens para mim, e ser-lhe fiel.
 

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