sábado, 21 de janeiro de 2012

Hino do amor


O amor não passará
Um dia, para sempre,
Além de toda noite
Já só será o amor

Se eu tivesse em mim
Todas as emissoras
E os palanques de rock do mundo inteiro
E os altares
E as cátedras
E os parlamentos todos,
Mas não tivesse amor,
Eu seria... ruído só,
Ruído no ruído.

Se eu tivesse o dom de adivinhar
E o dom de encher estádios
E o dom de fazer curas
E uma suposta fé,
Capaz de transportar qualquer montanha,
Mas não tivesse amor
Eu só seria... um circo religioso.

Se eu distribuísse
Os bens que ganhei mal
Quem sabe, quem não sabe?
Em cestas de natal
E em propalados gestos caridosos
E fosse até capaz de dar minha saúde
Em pressas e eficácias,
Mas não tivesse amor,
Eu só seria... imagem entre imagens.

Paciente é o amor e prestativo,
Como um colo materno.
Não tem inveja, nem se vangloria.
Não busca o interesse, como fazem os bancos.
Sabe ser gratuito e solidário,
Como a mesa da páscoa.
Não compactua, nunca, com a injustiça, nunca!
Faz festa da verdade.
Sabe esperar,
Forçando, corajoso, as portas do futuro.

O amor não passará,
Passado tudo o que não seja ele.
Na tarde desta vida,
Nos julgará o amor.

Criança é a ciência e engatinha,
Criança é a lei,
Brinquedo, o dogma.
O amor já tem a idade sem idade de Deus.
Agora é um espelho a luz que contemplamos,
Um dia será o rosto, face a face.
Veremos e amaremos como ele nos vê,
Como ele nos ama.

Agora são as três:
A fé, que é noite escura.
A pequena esperança, tão teimosa.
E ele, o amor, que é o maior.
Um dia, para sempre,
Além de toda noite e toda espera,
Já só será o amor.


Pedro Casaldáliga

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