Quero misericórdia e não
sacrifício
Naquele tempo:9 Partindo dali, Jesus viu um homem chamado Mateus,sentado na coletoria de impostos, e disse-lhe: 'Segue-me!'
Ele se levantou e seguiu a Jesus.10 Enquanto Jesus estava à mesa, em casa de Mateus,vieram muitos cobradores de impostos e pecadorese sentaram-se à mesa com Jesus e seus discípulos.11 Alguns fariseus viram isso e perguntaram aos discípulos:
'Por que vosso mestre come com os cobradores de impostos e pecadores?'12 Jesus ouviu a pergunta e respondeu:'Aqueles que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes.13 Aprendei, pois, o que significa: `Quero misericórdia e não sacrifício'.De fato, eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores'.
Reflexão
O Sermão da Montanha ocupou os capítulos 5 a 7 do
evangelho de Mateus. A parte narrativa dos capítulos 8 e 9, tem como finalidade
mostrar como Jesus praticava o que acabava de ensinar. No Sermão da Montanha,
ele ensinou o acolhimento (Mt 5,23-25.38-42.43). Agora, ele mesmo o pratica
acolhendo leprosos (Mt 8,1-4), estrangeiros (Mt 8,5-13), mulheres (Mt 8,14-15),
doentes (Mt 8,16-17), endemoninhados (Mt 8,28-34), paralíticos (Mt 9,1-8), publicanos (Mt 9,9-13), pessoas
impuras (Mt 9,20-22), etc. Jesus rompe com as normas e costumes que
excluíam e dividiam as pessoas, isto é, o medo e a falta de fé (Mt 8,23-27) e as
leis da pureza (9,14-17), e não faz segredo das exigências para os que querem
segui-lo. Eles terão que ter a coragem de largar muita coisa (Mt 8,18-22).
Assim, nas atitudes e na prática de Jesus, aparece em que consistem o Reino e a
observância perfeita da Lei de Deus.
Mateus 9,9: O
chamado para seguir Jesus. As primeiras
pessoas chamadas para seguir Jesus eram quatro pescadores, todos judeus (Mt
4,18-22). Agora, Jesus chama um publicano, considerado pecador e tratado como
impuro pelas comunidades mais observantes dos fariseus. Nos outros evangelhos,
este publicano se chama Levi. Aqui, o nome dele é Mateus que significa dom de Deus ou dado por
Deus. As comunidades, em vez de excluir o publicano como impuro, devem
considerá-lo como um Dom de Deus para a
comunidade, pois a presença dele faz com que a comunidade se torne sinal de
salvação para todos! Como os primeiros quatro chamados, assim o publicano Mateus
larga tudo que tem e segue Jesus. O seguimento de Jesus exige ruptura. Mateus
largou a coletoria, sua fonte de renda, e foi atrás de
Jesus!
Mateus 9,10: Jesus senta à mesa junto
com pecadores e publicanos. Naquele tempo, os
judeus viviam separados dos pagãos e dos pecadores e não comiam com eles na
mesma mesa. Os judeus cristãos deviam romper este isolamento e criar comunhão de
mesa com os pagãos e os impuros. Foi isto que Jesus ensinou no Sermão da
Montanha como sendo uma expressão do amor universal de Deus Pai. (Mt 5,44-48). A
missão das comunidades era oferecer um lugar aos que não tinham lugar. Mas esta
nova lei não era aceita por todos. Em algumas comunidades, as pessoas vindas do
paganismo, mesmo sendo cristãs, não eram aceitas na mesma mesa (cf. At 10,28;
11,3; Gal 2,12). O texto do evangelho de hoje mostra como Jesus comia com
publicanos e pecadores na mesma casa e na mesma mesa.
Mateus 9,11: A pergunta dos fariseus.
Para os judeus era proibida a comunhão de mesa com publicanos e
pagãos, mas Jesus nem liga. Ele até faz uma confraternização com eles. Os
fariseus, vendo a atitude de Jesus, perguntam aos discípulos: "Por
que o mestre de vocês come com os cobradores de impostos e os
pecadores?" Esta pergunta pode ser interpretada como expressão
do desejo deles de quererem saber por que Jesus agia assim. Outros interpretam a
pergunta como crítica deles ao comportamento de Jesus, pois durante mais de
quinhentos anos, desde os tempos do cativeiro na Babilônia até à época de Jesus,
os judeus tinham observado as leis da pureza. Esta observância secular tornou-se
para eles um forte sinal identidade. Ao mesmo tempo, era fator de sua separação
no meio dos outros povos. Assim, por causa das leis da pureza, não podiam nem
conseguiam sentar na mesma mesa para comer com pagãos. Comer com pagãos
significava contaminar-se, tornar-se impuro. Os preceitos da pureza legal eram
rigorosamente observados, tanto na Palestina como nas comunidades judaicas da
Diáspora. Na época de Jesus, havia mais de quinhentos preceitos para preservar a
pureza. Nos anos setenta, época em que Mateus escreve, este conflito era muito
atual.
Mateus 9,12-13: Eu quero misericórdia
e não sacrifício. Jesus ouviu a pergunta dos fariseus aos discípulos e
responde com dois esclarecimentos. O primeiro é tirado do bom senso: "As pessoas que têm saúde não precisam de médico, mas só as que estão
doentes”. O outro é tirado da Bíblia: “Aprendam, pois, o que significa: Eu quero a misericórdia e não o
sacrifício”. Por meio destes dois esclarecimentos Jesus
explicita e esclarece a sua missão junto ao povo: “Eu não vim para
chamar os justos, e sim os pecadores". Jesus nega a crítica dos fariseus, nem
aceita os argumentos deles, pois nasciam de uma idéia falsa da Lei de Deus. Ele
mesmo invoca a Bíblia: "Eu quero misericórdia e não
sacrifício!" Para Jesus a misericórdia é mais importante que a
pureza legal. Ele apela para a tradição profética para dizer que a misericórdia
vale mais para Deus do que os todos sacrifícios (Os 6,6; Is 1,10-17). Deus tem
entranhas de misericórdia, que se comovem diante das faltas do seu povo (Os
11,8-9).
Para um confronto
pessoal
1. Hoje, na nossa sociedade, quem é o marginalizado
e o excluído? Por que? Na nossa comunidade temos preconceitos? Quais? Qual o
desafio que as palavras de Jesus colocam para a nossa comunidade
hoje?
2. Jesus manda o povo ler e entender o Antigo
Testamento que diz: "Quero misericórdia e não
sacrifício". O que Jesus quer com isto para nós
hoje?
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