Exigências para seguir Jesus.
Naquele tempo;
18 Vendo uma multidão ao seu redor,
Jesus mandou passar para a outra margem do lago.
19 Então um mestre da Lei aproximou-se e disse:
'Mestre, eu te seguirei aonde quer que tu vás.'
20 Jesus lhe respondeu:
'As raposas têm suas tocas e as aves dos céus têm seus ninhos;
mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.'
21 Um outro dos discípulos disse a Jesus:
'Senhor, permite-me que primeiro eu vá sepultar meu pai.'
22 Mas Jesus lhe respondeu:
'Segue-me, e deixa que os mortos sepultem os seus mortos.'
Reflexão
Desde a 10ª Semana do
Tempo Comum até à 12ª Semana, por três semanas, meditamos os capítulos de 5 a 8
do evangelho de Mateus. Continuando a meditação do capítulo 8, o evangelho de
hoje apresenta as condições para seguir Jesus. Jesus decide passar para outro
lado do lago, e uma pessoa pede para poder segui-lo (Mt 8,18-22).
Mateus 8,18:
Jesus ordena passar para outra margem do lago. Recebeu e curou todos os
doentes que as pessoas tinham lhe trazido (Mt 8,16). Muitas pessoas estavam ao
redor dele. Vendo esta multidão, Jesus decidiu passar para outra margem do lago.
No evangelho de Marcos, do qual Mateus tirou grande parte das suas informações,
o contexto é diferente. Jesus tinha acabado de fazer o discurso sobre as
parábolas (Mc 4,3-34) e disse: “Vamos para o outro lado!" (Mc 4,35), e, como já
estava no barco (cfr. Mc 4,1-2), os discípulos o levaram para o outro lado.
Jesus estava tão cansado que começou a dormir sobre uma almofada (Mc
4,38).
Mateus 8,19: Um
doutor da Lei quer seguir Jesus. Na hora em que Jesus decide atravessar
o lago, um doutor da lei se aproxima e diz: “Mestre, eu te seguirei aonde quer
que tu vás”. Um texto paralelo de Lucas (Lc 9,57-62) trata o mesmo tema, porém
de maneira ligeiramente diferente. Para Lucas, Jesus tinha decidido ir para
Jerusalém onde teria sido condenado e morto. Indo para Jerusalém, entrou no
território da Samaria (Lc 9,51-52), onde três pessoas pedem para segui-lo (Lc
9,57.59.61). No evangelho de Mateus, que escreve para os judeus convertidos, a
pessoa que quer seguir Jesus é um doutor da lei. Mateus insiste sobre o fato que
uma autoridade dos judeus reconhece o valor de Jesus e pede para seguí-lo. Em
Lucas, que escreve para os pagãos convertidos, as pessoas que querem seguir
Jesus são samaritanos. Lucas põe o acento sobre a abertura ecumênica de Jesus
que aceita também os não judeus que querem ser discípulos.
Mateus 8,20: A
resposta de Jesus ao doutor da Lei. A resposta de Jesus é igual seja em
Mateus seja em Lucas, e é uma resposta muito exigente que não deixa dúvidas: “As
raposas tem suas tocas e as aves dos céus tem seus ninhos; mas o Filho do homem
não tem onde reclinar a cabeça”. Quem quiser ser discípulo de Jesus deve saber o
que está fazendo. Deve examinar as exigências e calcular bem, antes de tomar uma
decisão (cfr. Lc 14,28-32). “Do mesmo modo, portanto, se alguém de vós não
renunciar a todas as suas posses, não pode ser meu discípulo” (Lc
14,33).
Mateus 8,21: Um
discípulo pede para poder sepultar seu pai. Logo em seguida, alguém que
já era seu discípulo, lhe pede a licença para sepultar seu pai, que acabava de
falecer: “Senhor, permite-me que primeiro eu vá sepultar meu pai”. Com outras
palavras, pede que Jesus atrasasse a travessia do lago após a sepultura do pai.
Sepultar os pais era um dever sagrado dos filhos (cfr. Tb 4,3-4).
Mateus 8,22: A
resposta de Jesus. Novamente, a resposta de Jesus é muito exigente.
Jesus não atrasa sua viagem rumo à outra margem do lago e diz ao discípulo:
“Segue-me deixa que os mortos sepultem os seus mortos”. Quando Elias chamou
Eliseu lhe permitiu saudar os parentes (1Rs 19,20). Jesus é muito mais exigente.
Para entender todo o alcance da resposta de Jesus é bom lembrar que a expressão
“Deixa os mortos sepultar seus mortos” era um provérbio popular usado pelas
pessoas para indicar que não era necessário gastar energias com coisas que não
tinham futuro e que nada tinham a ver com a vida. Um provérbio assim não deve
ser tomado literalmente. É preciso considerar o objetivo pelo qual foi usado.
Assim, no nosso caso, por meio do provérbio Jesus acentua a exigência radical da
vida nova à qual chama e que exige abandonar tudo para segui-lo. Seguir Jesus.
Como também os rabinos da época, Jesus reúne discípulos e discípulas. Todos eles
“seguem Jesus”. Seguir esta a palavra que se usava para indicar a relação entre
o discípulo e o mestre.
Para os primeiros
cristãos “Seguir Jesus” significava três coisas importantes relacionadas entre
si:
a) Imitar o exemplo do
Mestre: Jesus era o modelo a ser imitado e a ser recriado na via do
discípulo e da discípula (Jo 13,13-15). A convivência cotidiana permitia um
confronto constante. Na "escola de Jesus" se aprendia só uma disciplina: o
Reino, e este Reino se reconhecia na vida e na prática de Jesus.
b) Participar do
destino do Mestre: Quem seguia Jesus devia comprometer-se como ele a
enfrentar as dificuldades e as provações (Lc 22,28), inclusive as perseguições
(Mt 10,24-25) e a cruz (Lc 14,27). Devia estar disposto a morrer com ele (Jo
11,16).
c) Assumir em nós a
vida de Jesus: Após a Páscoa, a luz da ressurreição, a vida de discípulo
assume uma terceira dimensão: "Vivo, mas não sou eu, é Cristo quem vive em mim"
(Gl 2,20). Trata-se da dimensão mística do ser discípulo, fruto da ação do
Espírito. Os cristãos buscavam assumir em suas vidas o caminho de Jesus que
morreu em defesa da vida e ressuscitou graças ao poder de Deus (Fl 3,10-11).
Para uma avaliação pessoal
1. Ser discípulo.
Discípula, de Jesus. Seguir Jesus. Como estou vivendo a realidade de ser
discípulo de Jesus?
2. As raposas tem suas
tocas e as aves do céu seu ninho, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a
cabeça. Como viver hoje esta exigência?
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