domingo, 9 de dezembro de 2012

Comentário do Evangelho

Início do ministério de João

Seguindo um estilo literário usual da cultura grega, em seu tempo, Lucas, no prólogo de seu evangelho, afirma sua intenção de escrever "de modo ordenado" a sucessão dos fatos relativos a Jesus de Nazaré. Com isto ele pretende realçar o caráter histórico do acontecimento de Jesus. Contudo, na realidade, em seus textos, o caráter teológico lucano prevalece sobre o caráter histórico, deixando transparecer a sua interpretação pessoal.
Após as narrativas de infância de João Batista e de Jesus, Lucas procura situar, no tempo, o início do ministério de João, referindo-se a algumas datas dos governantes contemporâneos, tanto no poder civil como no poder religioso. Embora haja certa ambiguidade nestas datas, a intenção de Lucas, com estes marcos cronológicos, é inserir na própria história os acontecimentos envolvendo Jesus e, em Atos dos Apóstolos, as primeiras comunidades.
João prega no deserto, além-Jordão, isto é, fora da Judeia. Conforme a tradição criada pelo Primeiro Testamento, o "povo eleito" libertara-se da escravidão no Egito, dirigindo-se ao deserto em busca da terra prometida. Agora, João lidera a libertação em relação ao poder religioso do Templo e do sacerdócio de Jerusalém voltando ao deserto, invertendo e preparando "o caminho do Senhor" para uma nova terra, o Reino de Deus. Aquela que era considerada a terra prometida (primeira leitura), Israel, com sua teocracia, na realidade tornou-se uma terra de opressão e exploração da parte dos chefes de Israel sobre o povo.
Lucas não dá grande realce ao batismo de Jesus por João, inserindo-o no conjunto de "todo o povo" que havia sido batizado, destacando, apenas o momento de oração de Jesus, quando o Espírito Santo desce sobre ele sob a forma de pomba, seguindo-se a proclamação: "Tu és meu filho; eu, hoje, te gerei", inspirada no Salmo 2, versículo 7. Assim, percebe-se que Lucas realça mais o caráter profético de João, com o anúncio da conversão (metanóia). É pela conversão à prática da justiça, na partilha e na solidariedade, na rejeição da corrupção e da violência, que o pecado é removido do mundo.
João Batista está inserido no projeto "daquele que começou uma boa obra" (segunda leitura) a ser plenificada em Jesus de Nazaré. A nova terra, o mundo novo possível, é marcada pela ternura de Jesus, pelos laços do amor. Com lucidez busca-se discernir e libertar-se das falsas ideologias emanadas do poder econômico. Com esperança busca-se um mundo melhor, tecendo-se a rede de relações sociais comunitárias em vista de implantar a justiça e estabelecer a Paz.

José Raimundo Oliva


Oração
Espírito que converte, toca o coração de todas as pessoas para que, abandonando seus erros e vícios, voltem-se para Jesus, por uma sincera conversão.

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