domingo, 2 de dezembro de 2012

Comentário do Evangelho

Estar vigilante

Hoje, com o primeiro domingo do Advento, inicia-se o novo ano litúrgico, antecipando-se ao início do ano civil. O Advento é um tempo de aprofundamento do grande acontecimento da encarnação do Filho de Deus, já em processo desde a concepção de Jesus no ventre de Maria, comemorada em 25 de março, na festa da Anunciação, e manifestada no seu nascimento, comemorado no Natal, em 25 de dezembro.
A tradição litúrgica abre o tempo do Advento com a leitura de um trecho do discurso escatológico dos evangelhos, com a advertência aos discípulos para permanecerem vigilantes. Dessa maneira, para a Igreja, o nascimento de Jesus é compreendido como a chegada de um novo tempo, o qual deve ser acolhido com uma fé atenta e vigilante.
Quando Jesus falara sobre a destruição do Templo de Jerusalém, os discípulos perguntaram sobre quando isto ocorreria e qual seria o sinal. Estes discípulos tinham ainda a expectativa da restauração política da Judeia, tendo Jerusalém como o centro de poder mundial, com seus critérios próprios de justiça e direito para o julgamento dos demais povos (primeira leitura). Jesus apresentara, na terra, os sinais das guerras, dos terremotos, pestes e fomes. Menciona, agora, alguns sinais cósmicos, com caráter simbólico, próprio da literatura apocalíptica. Estes sinais indicam o desmoronamento da ordem social injusta, seja no mundo religioso judaico, seja no mundo gentílico, a qual cede lugar a um mundo novo possível. "As potências celestes serão abaladas", indica o fim dos poderes que usam a religião e o nome de Deus como instrumento de opressão e lucro. "E então verão o Filho do Homem vindo numa nuvem com grande poder e glória." É o poder do amor e da vida (cf. segunda leitura) que frustra os objetivos dos poderes da morte.
Pode-se ver no título de "Filho do Homem", atribuído a Jesus, a expressão da humanidade, em toda sua simplicidade, humildade e fragilidade, assumida em Jesus, pela encarnação. Envolvida pelo amor de Deus Pai e Mãe, esta humanidade é filialmente revestida de divindade e eternidade. A comunhão com Jesus se dá na libertação das preocupações da vida submissa aos interesses dos ricos poderosos, e na vigilância e na oração contínua, na atenção e no serviço aos mais carentes de vida e amor neste mundo.
Vivemos o dia da presença do Reino de Deus no mundo, que vem como uma armadilha para aqueles que estão seduzidos pelo poder deste mundo. Os poderosos do mundo procuram apanhar a todos com outras armadilhas, que não vêm de Deus. Eles têm como meta suprema a acumulação de riqueza, que é feita a partir da exploração dos empobrecidos. Sua principal armadilha é a ideologia que infundem, incutindo nos empobrecidos a esperança de que um dia alguns deles poderão tornar-se ricos também. Os iludidos, mesmo vivendo em condições de carência e exclusão, são tomados pela ansiedade do enriquecimento, tornando-se indiferentes à solidariedade fraterna que leva à comunhão de vida. A atenção à palavra de Deus e a oração libertam os discípulos destas armadilhas.
Lucas associa a oração contínua à vigilância escatológica. A oração contínua é a oração do coração e do compromisso, na presença de Deus, que completa a vida em comunhão fraterna.
Hoje é o tempo de amar, é o dia de comunicar a liberdade e a vida, semeando a Paz, na alegria da fraternidade dos filhos de Deus.

José Raimundo Oliva


Oração
Espírito de oração vigilante, conserva-me em estado de contínuo alerta, a fim de que eu me prepare, pela vivência do amor, para a chegada do Cristo que vem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário