Novo mandamento de Jesus, a partilha
No evangelho de João, na narrativa da última ceia de Jesus em Jerusalém, não há menção à partilha eucarística do pão. A grande ação de Jesus nesta ceia é o lavar os pés dos discípulos, como exemplo de serviço para eles. Este gesto de partilha se realiza neste momento de encontro com a grande multidão no alto da montanha e tem um caráter universalista, pois aí estavam presentes gentios da Galileia e de territórios vizinhos.
Foi no alto de uma montanha que Deus deu os dez mandamentos a Moisés. Agora é o novo mandamento de Jesus, mandamento da partilha, do amor. O personagem central é um menino (paidárion, jovem escravo), com cinco pães de cevada e dois peixes. Jesus dá graças (eukharistésas) pela partilha, e ela acontece a partir dos mais humildes. Somos convidados a viver a eucaristia como partilha concreta do pão e da vida.
Nesta narrativa é destacada, logo de início, a grande multidão de excluídos que segue Jesus e que merece sua atenção. Vemos aí, também, uma contraposição entre este encontro de Jesus com a multidão e "a Páscoa, a festa dos Judeus". Nesta Páscoa celebrava-se a morte dos egípcios, que eram oprimidos pelo faraó, e a saída do povo de Israel do Egito para a invasão e o extermínio dos povos de Canaã. Em oposição a esta celebração da violência, Jesus revela o Deus da vida e do amor. Sempre no meio da multidão, Jesus comunica a vida.
A expressão "festa dos judeus" aparece cinco vezes no evangelho de João, ao referir-se às festas religiosas celebradas em Jerusalém, nas quais Jesus se fez presente. Com esta expressão João quer indicar que Jesus não se identifica com estas festas, mas vai a Jerusalém para criticar o sistema do Templo e para fazer seu anúncio da vontade do Pai ao povo que para aí acorre. Agora, no alto da montanha, o povo participa da verdadeira festa que é o banquete do Reino, caracterizado pela partilha, pelo amor e pela fraternidade.
O evangelho de João apresenta sete sinais de Jesus, que correspondem aos milagres, nos sinóticos. São sinais da realidade maior que é a presença do Deus de amor no mundo e na história. Esta cena da partilha dos pães é o quarto sinal.
Os três evangelhos sinóticos, Marcos, Mateus e Lucas, também narram esta partilha dos pães. Suas narrativas foram colhidas da tradição das primeiras comunidades cristãs que se inspiravam na narrativa da partilha do pão feita pelo profeta Eliseu (primeira leitura).
A solução do problema da fome e das carências humanas não está na economia de mercado, no vender e no comprar em vista do lucro. É pela partilha dos bens deste mundo, do pão, da terra, da cultura, que se pode satisfazer a todos e ainda há de sobrar em abundância. É pela partilha que se chega à unidade desejada por Deus, superando-se a divisão entre ricos e pobres, formando-se um só corpo e um só Espírito, no vínculo da Paz (segunda leitura).
José Raimundo Oliva
Oração
Pai, que a Páscoa de Jesus renove em mim a consciência de pertencer a teu povo, cuja existência deve se pautar pela caridade e pela partilha solidária.
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