O Espírito é derramado em nossos
corações
O
Espírito vai desmascarar o mundo
João
16,5-11Naquele tempo, disse Jesus aos
seus discípulos:5
Agora, parto para
aquele que me enviou, e nenhum de vós me pergunta:
'Para onde vais?' 6
Mas, porque vos
disse isto, a tristeza encheu os vossos corações. 7
No entanto, eu vos digo a verdade: É bom para vós que eu parta;
se eu não for, não virá até vós o Defensor; mas, se eu me for, eu vo-lo
mandarei. 8
E quando vier, ele demonstrará ao mundo
em
que consistem o pecado, a justiça e o julgamento: 9
o pecado, porque não acreditaram em mim;
10
a justiça, porque vou para o
Pai, de modo que não mais me vereis;11
e o
julgamento, porque o chefe deste mundo já está condenado.
ReflexãoNestas semanas do tempo pascal, os evangelhos diários são
quase todos tirados dos capítulos 12 a 17 de João. Isto revela algo a respeito
da origem e do destino destes capítulos. Eles refletem não só o que aconteceu
antes da paixão e morte de Jesus, mas também e sobretudo a vivência da fé das
primeiras comunidades depois da ressurreição. Refletem a fé pascal que as
animava.
Nos capítulos 15 a 17 do Evangelho de João, o horizonte se
amplia para além do momento histórico da Ceia. Jesus reza ao Pai “não só por
estes mas também por aqueles que vão acreditar em mim por causa da palavra
deles” (Jo 17,20). Nestes capítulos, é constante a alusão à ação do Espírito na
vida das comunidades depois da Páscoa.
A ação do Espírito Santo na vida
das comunidades. A primeira coisa que o Espírito faz é dar testemunho de Jesus:
“Ele dará testemunho de mim”. O Espírito não é um ser espiritual sem definição.
Não! Ele é o Espírito da verdade que vem do Pai, será enviado pelo próprio Jesus
e nos introduzirá na verdade plena (Jo 16,13). A verdade plena é o próprio
Jesus: “Eu sou o camin ho, a Verdade e a Vida!” (Jo 14,6). No fim do primeiro
século, havia alguns cristãos de tal modo fascinados pela ação do Espírito que
já não olhavam para Jesus.
Afirmavam que agora,
depois da ressurreição, já não era preciso fixar-se em Jesus de Nazaré, aquele
“que veio na carne”. Dispensavam Jesus e ficavam só com o Espírito. Diziam:
“Anátema seja Jesus!” (1Cor 12,3). O Evangelho de João toma posição e não
permite separar a ação do Espírito da memória de Jesus de Nazaré. O Espírito
Santo não pode ser isolado como uma grandeza independente, separada do mistério
da encarnação. O Espírito Santo está inseparavelmente unido ao Pai e a Jesus. É
o Espírito de Jesus que o Pai nos envia, aquele mesmo Espírito que Jesus nos
conquistou pela sua morte e ressurreição. E nós, recebendo este Espírito no
batismo, devemos ser o prolongamento de Jesus: “E vós também dareis testemunho!”
Não podemos esquecer nunca que foi precisamente na véspera da sua morte
que Jesus nos prometeu o Espírito. Foi no momento em que ele se entregava pelos
irmãos. Hoje em dia, o movimento carismático insiste na ação do Espírito, e faz
muito bem. Deve insistir cada vez mais. Mas deveria ter a mesma insistência para
afirmar que se trata do Espírito de Jesus de Nazaré que, por amor aos pobres e
marginalizados, foi perseguido, preso e condenado à morte e que, por isso mesmo,
nos prometeu o seu Espírito, para que nós, depois da sua morte, continuássemos a
sua ação e fôssemos para a humanidade a mesma revelação do amor preferencial do
Pai pelos pobres e oprimidos.
Para
confronto pessoal
1. Quanto à justiça: eu vou para o Pai, de
modo que não mais me vereis.
2. E quanto ao julgamento: o chefe deste mundo
já está condenado.

Reflexão 2:VINDE, ESPÍRITO SANTO, ENCHEI OS CORAÇÕES DOS VOSSOS
FIÉIS…
João, diferente dos evangelistas sinópticos
atribui ao Espírito Santo o nome de Paráclito que quer dizer protetor, advogado,
defensor, intercessor, consolador. Nesta designação está verdadeiramente o
trabalho, a função do Espírito Santo na nossa vida. Jesus com a sua partida para
o Céu, consola os seus discípulos e firma os seus paços por meio daquele que vai
enviar de junto do Seu Pai. Por isso, prepara-os para receber a força que virá.
Afinal, a sua ia, não só é certa, mas, sobretudo é necessária. Eu falo a
verdade quando digo que é melhor para vós que eu vá. Porque se eu não for, o
Paráclito não virá; mas, se eu for enviar-vo-l’O-ei.
É, portanto
bom que Jesus vá, pois o Defensor, enviado aos discípulos unidos em comunidade,
tornará continuada a obra redentora e o ministério vivificante de Jesus. E uma
vez presente o Paráclito os discípulos, unidos n’ele são os protagonistas da
missão vivificante. Com a presença atuante e operante do Espírito Santo, Jesus
passa a ter uma presença escondida física e humanamente falando.
Podemos
assim dizer que o Espírito Santo atualiza a fé dos discípulos na presença de
Jesus na sua Igreja formada pelos Apóstolos em primeira mão, depois pelos
discípulos e conseqüentemente por toda a comunidade de fiéis nos nossos dias.
Ele nos unge para a missão de questionar o mundo quanto ao pecado, à justiça e
ao julgamento. Assim, sendo é minha e tua tarefa como missionário(a) de
denunciar as estruturas injustas, o mundo da criminalidade, barbaridade, mundo
do pecado e que alimenta, sustenta a máquina que promove a cultura da morte. E
tua e minha a missão de anunciar e testemunhar o mundo novo, onde a vida
prevalece e triunfa sobre a morte.

A presença de Cristo na
Sua Igreja por meio do Espírito adota as características de uma sentença
judicial favorável a Ele. Nela culmina o processo que estava em marcha na vida
do Mestre e que continua na existência da Sua comunidade eclesial. Esta
encontra-se como que diante um tribunal no foro deste mundo. Mas o Pai revê o
processo do qual resultou a condenação de Jesus à morte. Agora sairá reabilitado
graças à intervenção do Espírito da verdade, que “deixará convicto o mundo com a
prova de um pecado, de uma justiça, de uma condenação. De um pecado, porque não
acreditaram em mim; de uma justiça, porque vou para o Pai e não me vereis; de
uma condenação, porque o príncipe deste mundo já está
condenado”.
O Espírito evidenciará o
pecado do mundo, que consiste na incredulidade; deixará claro, além da justiça,
o direito e a razão que tinha Jesus a chamar-se Filho de Deus, pois efetivamente
o é, como o demonstra a passagem da Morte à Ressurreição do Crucificado como
vencedor da morte eterna e da sua causa, o pecado, que é o único poder que tem
satanás.
A convicção de que Jesus
ressuscitado está vivo e operante na nossa vida pessoal e no coração da
comunidade de fé radica no dom do Espírito, que se manifesta na nossa abertura à
vida, ao amor, à paz e ao perdão fraterno, Nunca estamos sós na nossa
solidão.
O evangelista João,
comentando a metáfora de Jesus no Templo, “torrentes de água viva”, afirma:
“Dizia isto referindo-se ao Espírito que havia de receber os que haviam
acreditado nele. Pois não havia ainda Espírito, porque Jesus ainda não fora
glorificado”. Daqui se conclui não só que Cristo ressuscitado é quem outorga o
Espírito, mas também que a incumbência deste último é continuar a presença viva
de Jesus entre os que creem n’Ele.
Pois bem, o julgamento
contestatório e testemunhal, o julgamento da apelação do Espírito, não se
realiza sem a colaboração dos crentes, sem o nosso compromisso pessoal e
comunitário de fé no meio do mundo. O Espírito consolador é o melhor antídoto
contra a tristeza e o medo do coração dos discípulos, isto é, dos crentes de
todos os tempos, entre os quais, felizmente, nos contamos também
nós.