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sábado, 23 de março de 2013

Sábado da 5ª Semana Quaresma



Viram o que Jesus fizera, creram nele.
João 11,45-56

Naquele tempo:45 Muitos dos judeus que tinham ido à casa de Mariae viram o que Jesus fizera, creram nele.46 Alguns, porém, foram ter com os fariseus e contaram o que Jesus tinha feito.47 Então os sumos sacerdotes e os fariseus reuniram o Conselho e disseram:'O que faremos? Este homem realiza muitos sinais.48 Se deixamos que ele continue assim, todos vão acreditar nele,e virão os romanos e destruirão o nosso Lugar Santo e a nossa nação.'49 Um deles, chamado Caifás, sumo sacerdote em função naquele ano, disse:'Vós não entendeis nada.50 Não percebeis que é melhor um só morrer pelo povo do que perecer a nação inteira?'51 Caifás não falou isso por si mesmo. Sendo sumo sacerdote em função naquele ano, profetizou que Jesus iria morrer pela nação.52 E não só pela nação, mas também para reunir os filhos de Deus dispersos.53 A partir desse dia, as autoridades judaicas tomaram a decisão de matar Jesus.54 Por isso, Jesus não andava mais em público no meio dos judeus.Retirou-se para uma região perto do deserto, para a cidade chamada Efraim.Ali permaneceu com os seus discípulos.55 A Páscoa dos judeus estava próxima.Muita gente do campo tinha subido a Jerusalém para se purificar antes da Páscoa.56 Procuravam Jesus e, ao reunirem-se no Templo, comentavam entre si:'O que vos parece? Será que ele não vem para a festa?'
 


Reflexão

O evangelho de hoje traz a parte final do longo relato da ressurreição de Lázaro em Betânia, na casa de Marta e Maria (João 11,1-56). A ressurreição de Lázaro é o sétimo sinal (milagre) de Jesus no evangelho de João e é também o ponto alto e decisivo da revelação que ele vinha fazendo de Deus e de si mesmo.

A pequena comunidade de Betânia, onde Jesus gostava de hospedar-se, reflete a situação e o estilo de vida das pequenas comunidades do Discípulo Amado no fim do primeiro século lá na Ásia Menor. Betânia quer dizer "Casa dos pobres". Eram comunidades pobres de gente pobre. Marta quer dizer "Senhora" (coordenadora): uma mulher coordenava a comunidade. Lázaro significa "Deus ajuda": a comunidade pobre esperava tudo de Deus. Maria significa "amada de Javé": era a discípula amada, imagem da comunidade. O episódio da ressurreição de Lázaro comunicava esta certeza: Jesus traz vida para a comunidade dos pobres. Jesus é fonte de vida para todos que nele acreditam.

João 11,45-46: A repercussão do sétimo Sinal no meio do povo. Depois da ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-44), vem a descrição da repercussão deste sinal no meio do povo. O povo estava dividido. “Muitos judeus, que tinham ido à casa de Maria e que viram o que Jesus fez, acreditaram nele”. Mas outros “foram ao encontro dos fariseus e contaram o que Jesus tinha feito. Estes últimos fizeram a denúncia. Para poder entender esta reação negativa de uma parte do povo é preciso levar em conta que a metade da população de Jerusalém dependia em tudo do Templo para poder viver e sobreviver. Por isso, dificilmente eles iriam apoiar um desconhecido profeta da Galiléia que criticava o Templo e as autoridades. Isto também explica como alguns se prestavam para ser informantes das autoridades.

João 11,47-53: A repercussão do sétimo Sinal no meio das autoridade. A notícia da ressurreição de Lázaro fez crescer a popularidade de Jesus. Por isso, os líderes religiosos convocam o conselho, o sinédrio, a autoridade máxima, para discernir o que fazer. Pois, “esse homem está realizando muitos sinais. Se deixamos que ele continue assim, todos vão acreditar nele; os romanos virão e destruirão o Templo e toda a nação”. Eles tinham medo dos romanos. De fato, o passado, desde a invasão romano em 64 antes de Cristo até à época de Jesus, já tinha mostrado várias vezes que os romanos reprimiam com toda a violência qualquer tentativa de rebelião popular (cf Atos 5,35-37). No caso de Jesus, a reação romana poderia levar à perda de tudo, inclusive do Templo e da posição privilegiada dos sacerdotes. Por isso, Caifás, o sumo sacerdote, decide: “É melhor um só homem morrer pelo povo, do que a nação inteira perecer”. E o evangelista faz este bonito comentário: “Caifás não falou isso por si mesmo. Sendo sumo sacerdote nesse ano, profetizou que Jesus ia morrer pela nação. E não só pela nação, mas também para reunir juntos os filhos de Deus que estavam dispersos”. Assim, a partir deste momento, os líderes, preocupados com o crescimento da liderança de Jesus e motivados pelo medo dos romanos, decidem matar Jesus.

João 11,54-56: A repercussão do sétimo Sinal na vida de Jesus. O resultado final é que Jesus tinha que viver como clandestino. “Ele não andava mais em público entre os judeus. Retirou-se para uma região perto do deserto. Foi para uma cidade chamada Efraim, onde ficou com seus discípulos”. A páscoa estava próxima. Nessa época do ano, a população de Jerusalém triplicava por causa do grande número de peregrinos e romeiros. A conversa de todos era em torno de Jesus: "Que é que vocês acham? Será que ele não vem para a festa?" Da mesma maneira, na época em que foi escrito o evangelho, no fim do primeiro século, época da perseguição do imperador Domiciano (81 a 96), as comunidades cristãs que traziam a vida para os outros viam-se obrigadas a viver na clandestinidade.

Uma chave para entender o sétimo sinal da ressurreição de Lázaro. Lázaro estava doente. As irmãs Marta e Maria mandaram chamar Jesus: "Aquele a quem amas está doente!" (Jo 11,3.5). Jesus atende ao pedido e explica aos discípulos: "Essa doença não é mortal, mas é para a glória de Deus, para que por nela seja glorificado o Filho de Deus!" (Jo 11,4) No evangelho de João, a glorificação de Jesus acontece através da sua morte (Jo 12,23; 17,1). Uma das causas da sua condenação à morte vai ser a ressurreição de Lázaro (Jo 11,50; 12,10). Muitos judeus estavam na casa de Marta e Maria para consolá-las da perda do irmão. Os judeus, representantes da Antiga Aliança, só sabem consolar. Não trazem vida nova.. Jesus é que vai trazer vida nova! Assim, de um lado, a ameaça de morte contra Jesus! De outro lado, Jesus chegando para vencer a morte! É neste contexto de conflito entre vida e morte, que se realiza o sétimo sinal da ressurreição de Lázaro.

Marta diz que crê na ressurreição. Os fariseus e a maioria do povo também acreditavam na Ressurreição (At 23,6-10; Mc 12,18). Acreditavam, mas não a revelavam. Era apenas fé na ressurreição no fim dos tempos e não na ressurreição presente na história, aqui e agora. Esta fé antiga não renovava a vida. Pois não basta crer na ressurreição que vai acontecer no final dos tempos, mas tem que crer que a Ressurreição já está presente aqui e agora na pessoa de Jesus e naqueles que acreditam em Jesus. Sobre estes a morte já não tem mais nenhum poder, porque Jesus é a "ressurreição e a vida". Mesmo sem ver o sinal concreto da ressurreição de Lázaro, Marta confessa a sua fé: "Eu creio que tu és o Cristo, o filho de Deus que vem ao mundo" (Jo 11,27).

Jesus manda tirar a pedra. Marta reage: "Senhor, já cheira mal! É o quarto dia!"(Jo 11,39). Novamente, Jesus a desafia apelando para a fé na ressurreição, aqui e agora, como um sinal da glória de Deus: "Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?" (Jo 11,40). Retiraram a pedra. Diante do sepulcro aberto e diante da incredulidade das pessoas, Jesus se dirige ao Pai. Na sua prece, primeiro, faz ação de graças: "Pai, dou-te graças, porque me ouviste. Eu sabia que tu sempre me ouves!" (Jo 11,41-42). Jesus conhece o Pai e confia nele. Mas agora ele pede um sinal por causa da multidão que o rodeia, para que possa acreditar que ele, Jesus, é o enviado do Pai. Em seguida, ele grita em alta voz, grito criador: "Lázaro, vem para fora!" E Lázaro veio para fora (Jo 11,43-44). É o triunfo da vida sobre a morte, da fé sobre a incredulidade! Um agricultor comentou: "A nós cabe retirar a pedra! E aí Deus ressuscita a comunidade. Tem gente que não quer tirar a pedra, e por isso a comunidade deles não tem vida!"
 
 
Para um confronto pessoal
1) O que significa para mim, bem concretamente, crer na ressurreição?
2) Parte do povo aceitava Jesus, parte não aceitava. Hoje, parte do povo aceita a renovação da igreja, e parte não aceita. E eu?

sexta-feira, 22 de março de 2013

Sábado da 5ª Semana Quaresma



Viram o que Jesus fizera, creram nele.
João 11,45-56

Naquele tempo:45 Muitos dos judeus que tinham ido à casa de Mariae viram o que Jesus fizera, creram nele.46 Alguns, porém, foram ter com os fariseus e contaram o que Jesus tinha feito.47 Então os sumos sacerdotes e os fariseus reuniram o Conselho e disseram:'O que faremos? Este homem realiza muitos sinais.48 Se deixamos que ele continue assim, todos vão acreditar nele,e virão os romanos e destruirão o nosso Lugar Santo e a nossa nação.'49 Um deles, chamado Caifás, sumo sacerdote em função naquele ano, disse:'Vós não entendeis nada.50 Não percebeis que é melhor um só morrer pelo povo do que perecer a nação inteira?'51 Caifás não falou isso por si mesmo. Sendo sumo sacerdote em função naquele ano, profetizou que Jesus iria morrer pela nação.52 E não só pela nação, mas também para reunir os filhos de Deus dispersos.53 A partir desse dia, as autoridades judaicas tomaram a decisão de matar Jesus.54 Por isso, Jesus não andava mais em público no meio dos judeus.Retirou-se para uma região perto do deserto, para a cidade chamada Efraim.Ali permaneceu com os seus discípulos.55 A Páscoa dos judeus estava próxima.Muita gente do campo tinha subido a Jerusalém para se purificar antes da Páscoa.56 Procuravam Jesus e, ao reunirem-se no Templo, comentavam entre si:'O que vos parece? Será que ele não vem para a festa?'
 


Reflexão

O evangelho de hoje traz a parte final do longo relato da ressurreição de Lázaro em Betânia, na casa de Marta e Maria (João 11,1-56). A ressurreição de Lázaro é o sétimo sinal (milagre) de Jesus no evangelho de João e é também o ponto alto e decisivo da revelação que ele vinha fazendo de Deus e de si mesmo.

A pequena comunidade de Betânia, onde Jesus gostava de hospedar-se, reflete a situação e o estilo de vida das pequenas comunidades do Discípulo Amado no fim do primeiro século lá na Ásia Menor. Betânia quer dizer "Casa dos pobres". Eram comunidades pobres de gente pobre. Marta quer dizer "Senhora" (coordenadora): uma mulher coordenava a comunidade. Lázaro significa "Deus ajuda": a comunidade pobre esperava tudo de Deus. Maria significa "amada de Javé": era a discípula amada, imagem da comunidade. O episódio da ressurreição de Lázaro comunicava esta certeza: Jesus traz vida para a comunidade dos pobres. Jesus é fonte de vida para todos que nele acreditam.

João 11,45-46: A repercussão do sétimo Sinal no meio do povo. Depois da ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-44), vem a descrição da repercussão deste sinal no meio do povo. O povo estava dividido. “Muitos judeus, que tinham ido à casa de Maria e que viram o que Jesus fez, acreditaram nele”. Mas outros “foram ao encontro dos fariseus e contaram o que Jesus tinha feito. Estes últimos fizeram a denúncia. Para poder entender esta reação negativa de uma parte do povo é preciso levar em conta que a metade da população de Jerusalém dependia em tudo do Templo para poder viver e sobreviver. Por isso, dificilmente eles iriam apoiar um desconhecido profeta da Galiléia que criticava o Templo e as autoridades. Isto também explica como alguns se prestavam para ser informantes das autoridades.

João 11,47-53: A repercussão do sétimo Sinal no meio das autoridade. A notícia da ressurreição de Lázaro fez crescer a popularidade de Jesus. Por isso, os líderes religiosos convocam o conselho, o sinédrio, a autoridade máxima, para discernir o que fazer. Pois, “esse homem está realizando muitos sinais. Se deixamos que ele continue assim, todos vão acreditar nele; os romanos virão e destruirão o Templo e toda a nação”. Eles tinham medo dos romanos. De fato, o passado, desde a invasão romano em 64 antes de Cristo até à época de Jesus, já tinha mostrado várias vezes que os romanos reprimiam com toda a violência qualquer tentativa de rebelião popular (cf Atos 5,35-37). No caso de Jesus, a reação romana poderia levar à perda de tudo, inclusive do Templo e da posição privilegiada dos sacerdotes. Por isso, Caifás, o sumo sacerdote, decide: “É melhor um só homem morrer pelo povo, do que a nação inteira perecer”. E o evangelista faz este bonito comentário: “Caifás não falou isso por si mesmo. Sendo sumo sacerdote nesse ano, profetizou que Jesus ia morrer pela nação. E não só pela nação, mas também para reunir juntos os filhos de Deus que estavam dispersos”. Assim, a partir deste momento, os líderes, preocupados com o crescimento da liderança de Jesus e motivados pelo medo dos romanos, decidem matar Jesus.

João 11,54-56: A repercussão do sétimo Sinal na vida de Jesus. O resultado final é que Jesus tinha que viver como clandestino. “Ele não andava mais em público entre os judeus. Retirou-se para uma região perto do deserto. Foi para uma cidade chamada Efraim, onde ficou com seus discípulos”. A páscoa estava próxima. Nessa época do ano, a população de Jerusalém triplicava por causa do grande número de peregrinos e romeiros. A conversa de todos era em torno de Jesus: "Que é que vocês acham? Será que ele não vem para a festa?" Da mesma maneira, na época em que foi escrito o evangelho, no fim do primeiro século, época da perseguição do imperador Domiciano (81 a 96), as comunidades cristãs que traziam a vida para os outros viam-se obrigadas a viver na clandestinidade.

Uma chave para entender o sétimo sinal da ressurreição de Lázaro. Lázaro estava doente. As irmãs Marta e Maria mandaram chamar Jesus: "Aquele a quem amas está doente!" (Jo 11,3.5). Jesus atende ao pedido e explica aos discípulos: "Essa doença não é mortal, mas é para a glória de Deus, para que por nela seja glorificado o Filho de Deus!" (Jo 11,4) No evangelho de João, a glorificação de Jesus acontece através da sua morte (Jo 12,23; 17,1). Uma das causas da sua condenação à morte vai ser a ressurreição de Lázaro (Jo 11,50; 12,10). Muitos judeus estavam na casa de Marta e Maria para consolá-las da perda do irmão. Os judeus, representantes da Antiga Aliança, só sabem consolar. Não trazem vida nova.. Jesus é que vai trazer vida nova! Assim, de um lado, a ameaça de morte contra Jesus! De outro lado, Jesus chegando para vencer a morte! É neste contexto de conflito entre vida e morte, que se realiza o sétimo sinal da ressurreição de Lázaro.

Marta diz que crê na ressurreição. Os fariseus e a maioria do povo também acreditavam na Ressurreição (At 23,6-10; Mc 12,18). Acreditavam, mas não a revelavam. Era apenas fé na ressurreição no fim dos tempos e não na ressurreição presente na história, aqui e agora. Esta fé antiga não renovava a vida. Pois não basta crer na ressurreição que vai acontecer no final dos tempos, mas tem que crer que a Ressurreição já está presente aqui e agora na pessoa de Jesus e naqueles que acreditam em Jesus. Sobre estes a morte já não tem mais nenhum poder, porque Jesus é a "ressurreição e a vida". Mesmo sem ver o sinal concreto da ressurreição de Lázaro, Marta confessa a sua fé: "Eu creio que tu és o Cristo, o filho de Deus que vem ao mundo" (Jo 11,27).

Jesus manda tirar a pedra. Marta reage: "Senhor, já cheira mal! É o quarto dia!"(Jo 11,39). Novamente, Jesus a desafia apelando para a fé na ressurreição, aqui e agora, como um sinal da glória de Deus: "Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?" (Jo 11,40). Retiraram a pedra. Diante do sepulcro aberto e diante da incredulidade das pessoas, Jesus se dirige ao Pai. Na sua prece, primeiro, faz ação de graças: "Pai, dou-te graças, porque me ouviste. Eu sabia que tu sempre me ouves!" (Jo 11,41-42). Jesus conhece o Pai e confia nele. Mas agora ele pede um sinal por causa da multidão que o rodeia, para que possa acreditar que ele, Jesus, é o enviado do Pai. Em seguida, ele grita em alta voz, grito criador: "Lázaro, vem para fora!" E Lázaro veio para fora (Jo 11,43-44). É o triunfo da vida sobre a morte, da fé sobre a incredulidade! Um agricultor comentou: "A nós cabe retirar a pedra! E aí Deus ressuscita a comunidade. Tem gente que não quer tirar a pedra, e por isso a comunidade deles não tem vida!"
 
 
Para um confronto pessoal
1) O que significa para mim, bem concretamente, crer na ressurreição?
2) Parte do povo aceitava Jesus, parte não aceitava. Hoje, parte do povo aceita a renovação da igreja, e parte não aceita. E eu?

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quinta-feira, 21 de março de 2013

5ª-feira da 5ª Semana Quaresma



Se alguém guardar a minha palavra, jamais verá a morte. 

João 8,51-59

Naquele tempo, disse Jesus aos judeus:51 'Em verdade, em verdade, eu vos digo:se alguém guardar a minha palavra, jamais verá a morte.'
52 Disseram então os judeus:'Agora sabemos que tens um demônio. Abraão morreu e os profetas também,e tu dizes: 'Se alguém guardar a minha palavra jamais verá a morte'.53 Acaso és maior do que nosso pai Abraão, que morreu, como também os profetas?Quem pretendes tu ser?'54 Jesus respondeu:'Se me glorifico a mim mesmo, minha glória não vale nada.Quem me glorifica é o meu Pai, aquele que vós dizeis ser o vosso Deus.
55 No entanto, não o conheceis. Mas eu o conheço e, se dissesse que não o conheço,seria um mentiroso, como vós! Mas eu o conheço e guardo a sua palavra.
56 Vosso pai Abraão exultou, por ver o meu dia; ele o viu, e alegrou-se.'
57 Os judeus disseram-lhe então:'Nem sequer cinqüenta anos tens, e viste Abraão!'58 Jesus respondeu:'Em verdade, em verdade vos digo, antes que Abraão existisse, eu sou'.59 Então eles pegaram em pedras para apedrejar Jesus,mas ele escondeu-se e saiu do Templo.
 

Reflexão

O capítulo 8 parece uma exposição de obras de arte, onde se podem admirar e contemplar famosas pinturas, uma ao lado da outra. O evangelho de hoje traz mais uma pintura, mais um diálogo entre Jesus e os judeus. Não há muito nexo entre uma e outra pintura. É o expectador ou a expectadora que, pela sua observação atenta e orante, consegue descobrir o fio invisível que liga entre si as pinturas, os diálogos. Deste modo vamos penetrando aos poucos no mistério divino que envolve a pessoa de Jesus.

João 8,51: Quem guarda a palavra de Jesus jamais verá a morte. Jesus faz um solene afirmação. Os profetas diziam: Oráculo do Senhor! Jesus diz: “Em verdade, em verdade vos digo!” E a afirmação solene é esta: “Se alguém guardar minha palavra jamais verá a morte!” De muitas maneiras este mesmo tema aparece e reaparece no evangelho de João. São palavras de grande profundidade

João 8,52-53: Abraão e os profetas morreram. A reação dos judeus é imediata: "Agora sabemos que estás louco. Abraão morreu e os profetas também. E tu dizes: 'se alguém guarda a minha palavra, nunca vai experimentar a morte'. Por acaso, tu és maior que o nosso pai Abraão, que morreu? Os profetas também morreram. Quem é que pretendes ser?" Eles não entenderam o alcance da afirmação de Jesus. Diálogo de surdos..

João 8,54-56: Quem me glorifica é meu Pai. Sempre de novo Jesus bate na mesma tecla: ele está de tal modo unido ao Pai que nada do que ele diz e faz é dele. Tudo é do Pai. E ele acrescenta: "Quem me glorifica é o meu Pai, aquele que vocês dizem que é o Pai de vocês. Vocês não o conhecem, mas eu o conheço. Se dissesse que não o conheço, eu seria mentiroso como vocês. Mas eu o conheço e guardo a palavra dele. Abraão, o pai de vocês, alegrou-se porque viu o meu dia. Ele viu e encheu-se de alegria." Estas palavras de Jesus devem ter sido como uma espada a ferir a auto-estima dos judeus. Dizer às autoridades religiosas: “Vocês não conhecem o Deus que vocês dizem conhecer. Eu o conheço e vocês não o conhecem!”, é o mesmo que acusa-las de total ignorância exatamente naquele assunto no qual eles pensam ser doutores especializados. E a palavra final encheu a medida: “Abraão, o pai de vocês, alegrou-se porque viu o meu dia. Ele viu e encheu-se de alegria”.

João 8,57-59: Não tens 50 anos e já viu Abraão! Tomaram tudo ao pé de a letra mostrando assim que não entenderam nada do que Jesus estava dizendo. E Jesus faz nova afirmação solene: “Em verdade, em verdade digo a vocês: antes que Abraão existisse, EU SOU!” Para quem crê em Jesus, é aqui que alcançamos o coração do mistério da história. Novamente pedras para matar Jesus. Nem desta vez o conseguiram, pois a hora ainda não chegou. Quem determina o tempo e a hora é o próprio Jesus.
 
 
Para um confronto pessoal
1) Diálogo de surdos entre Jesus e os judeus. Você já teve alguma vez a experiência de conversar com alguém que pensa exatamente o oposto de você e não se dá conta disso?
2) Como entender esta frase: “Abraão, o pai de vocês, alegrou-se porque viu o meu dia. Ele viu e encheu-se de alegria” ?

quarta-feira, 20 de março de 2013

4ª-feira da 5ª Semana Quaresma



Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.
João 8,31-42

Naquele tempo:31 Jesus disse aos judeus que nele tinham acreditado:'Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos,32 e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.'
33 Responderam eles:'Somos descendentes de Abraão, e nunca fomos escravos de ninguém.Como podes dizer: `Vós vos tornareis livres'?'34 Jesus respondeu:  'Em verdade, em verdade vos digo,todo aquele que comete pecado é escravo do pecado.35 O escravo não permanece para sempre numa família,mas o filho permanece nela para sempre.
36 Se, pois, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres.
37 Bem sei que sois descendentes de Abraão;no entanto, procurais matar-me, porque a minha palavra não é acolhida por vós.
38 Eu falo o que vi junto do Pai; e vós fazeis o que ouvistes do vosso pai.'
39 Eles responderam então: 'O nosso pai é Abraão.'Disse-lhes Jesus: 'Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão!40 Mas agora, vós procurais matar-me, a mim, que vos falei a verdadeque ouvi de Deus. Isto, Abraão não o fez.
41 Vós fazeis as obras do vosso pai.'
Disseram-lhe, então: 'Nós não nascemos do adultério, temos um só pai: Deus.'42 Respondeu-lhes Jesus: 'Se Deus fosse vosso Pai,vós certamente me amaríeis, porque de Deus é que eu saí, e vim.Não vim por mim mesmo, mas foi ele que me enviou'. 
Reflexão

No evangelho de hoje, continua a reflexão sobre o capítulo 8 de João. Em forma de círculos concêntricos, João vai aprofundando o mistério de Deus que envolve a pessoa de Jesus. Parece repetição, pois ele sempre torna a falar do mesmo assunto. Na realidade, é o mesmo assunto, mas é cada vez num nível mais profundo. O evangelho de hoje aborda o tema do relacionamento de Jesus com Abraão, o Pai do povo de Deus. João procura ajudar as comunidades a compreender como Jesus se situa dentro do conjunto da história do Povo de Deus. Ajuda-as a perceber a diferença que existe entre Jesus e os judeus, pois também os judeus e aliás todos nós somos filhos e filhas de Abraão.

João 8,31-32: A liberdade que nasce da fidelidade à palavra de Jesus. Jesus afirma aos judeus: "Se vocês guardarem a minha palavra, vocês de fato serão meus discípulos; conhecerão a verdade, e a verdade libertará vocês". Ser discípulo de Jesus é o mesmo que abrir-se para Deus. As palavras de Jesus são na realidade palavras de Deus. Elas comunicam a verdade, pois fazem conhecer as coisas do jeito que elas são aos olhos de Deus e não aos olhos dos fariseus. Mais tarde, durante a última Ceia, Jesus ensinará a mesma coisa aos discípulos.

João 8,33-38: O que é ser filho e filha de Abraão? A reação dos judeus é imediata: "Nós somos descendentes de Abraão, e nunca fomos escravos de ninguém. Como podes dizer: 'vocês ficarão livres'?” Jesus rebate fazendo uma distinção entre filho e escravo e diz: "Quem comete o pecado, é escravo do pecado. O escravo não fica para sempre na casa, mas o filho fica aí para sempre. Por isso, se o Filho os libertar, vocês realmente ficarão livres”. Jesus é o filho e vive na casa do Pai. O escravo não vive na casa. Viver fora de casa, fora de Deus, é viver em pecado. Se eles aceitarem a palavra de Jesus poderão tornar-se filhos e terão a liberdade. Deixarão de ser escravos. E Jesus continua: “Eu sei que vocês são descendentes de Abraão; no entanto, estão procurando me matar, porque minha palavra não entra na cabeça de vocês”. Em seguida aparece bem clara a distinção: “Eu falo das coisas que vi junto do Pai; vocês também devem fazer aquilo que ouvem do pai de vocês”. Jesus lhes nega o direito de dizer que são filhos de Abraão, pois as obras deles dizem o contrário.

João 8,39-41a: Um filho de Abraão pratica as obras de Abraão. Eles insistem em afirmar: “Nosso Pai è Abraão!” como se quisessem apresentar a Jesus o documento de sua identidade. Jesus rebate: "Se vocês são filhos de Abraão, façam as obras de Abraão. Agora, porém, vocês querem me matar, e o que eu fiz, foi dizer a verdade que ouvi junto de Deus. Isso Abraão nunca fez. Vocês fazem a obra do pai de vocês”. Nas entrelinhas, ele sugere que o pai deles é satanás (Jo 8,44). Sugere que são filhos da prostituição.

João 8,41b-42: Se Deus fosse pai de vocês, vocês me amariam, porque eu saí de Deus. Usando palavras diferentes, Jesus repete a mesma verdade: “Quem é de Deus escuta as palavras de Deus”. A origem desta afirmação vem de Jeremias que disse: “Colocarei minha lei em seu peito e a escreverei em seu coração; eu serei o Deus deles, e eles serão o meu povo. Ninguém mais precisará ensinar seu próximo ou seu irmão, dizendo: "Procure conhecer a Javé". Porque todos, grandes e pequenos, me conhecerão - oráculo de Javé. Pois eu perdôo suas culpas e esqueço seus erros” (Jr 31,33-34). Mas eles não se abriram para esta nova experiência de Deus, e por isso não reconhecem Jesus como o enviado do Pai.
 
Para um confronto pessoal
1) Liberdade que se submete totalmente ao Pai. Existe algo assim em você? Conhece pessoas assim?
2) Qual a experiência mais profunda em mim que me leva a reconhecer Jesus como o enviado de Deus?

terça-feira, 19 de março de 2013

19.03 - Solenidade de São José, esposo de Nossa Senhora


Mateus 1,16.18-21.24a

16 Jacó gerou José, o esposo de Maria,da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo.

18 A origem de Jesus Cristo foi assim:
Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José,
e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo.
19 José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la,
resolveu abandonar Maria, em segredo.
20 Enquanto José pensava nisso,
eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe disse:
"José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa,
porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo.
21 Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus,
pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados".

24a Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado.
 
Opcional

Lucas 2,41-51a

41 Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, para a festa da Páscoa.
42 Quando ele completou doze anos, subiram para a festa, como de costume.
43 Passados os dias da Páscoa, começaram a viagem de volta,
mas o menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais o notassem.
44 Pensando que ele estivesse na caravana, caminharam um dia inteiro.
Depois começaram a procurá-lo entre os parentes e conhecidos.
45 Não o tendo encontrado, voltaram para Jerusalém à sua procura.
46 Três dias depois, o encontraram no Templo.
Estava sentado no meio dos mestres, escutando e fazendo perguntas.
47 Todos os que ouviam o menino estavam maravilhados
com sua inteligência e suas respostas.
48 Ao vê-lo, seus pais ficaram muito admirados e sua mãe lhe disse:
"Meu filho, por que agiste assim conosco?
Olha que teu pai e eu estávamos, angustiados, à tua procura".
49 Jesus respondeu:
"Por que me procuráveis? Não sabeis que devo estar na casa de meu Pai?"
50 Eles, porém, não compreenderam as palavras que lhes dissera.
51a Jesus desceu então com seus pais para Nazaré, e era-lhes obediente.


Reflexão
Do esposo de Maria sabemos somente aquilo que nos dizem os evangelistas Mateus e Lucas, mas é o que basta para colocar esse incomparável "homem justo" na mais alta cátedra de santidade e de nossa devoção, logo abaixo da Mãe de Jesus.
 
Venerado desde os primeiros séculos no Oriente, seu culto se difundiu no Ocidente somente no século IX, mas num crescendo não igual ao de outros santos. Em 1621, Gregório XV declarou de preceito a festa litúrgica deste dia; Pio IX elegeu são José padroeiro da Igreja, e os papas sucessivos o enriqueceram de outros títulos, instituindo uma segunda comemoração no dia 1º de maio, ligada a seu modesto e nobre ofício de artesão.
 
O privilégio de ser pai adotivo do Messias constitui o título mais alto concedido a um homem. O extraordinário evento da Anunciação e da divina maternidade de Maria - da qual foi advertido pelo anjo depois da sofrida decisão de repudiar a esposa - coloca são José sob uma luz de simpatia humana, em razão do papel de devoto defensos da incolumidade da Virgem Mãe, mistério prenunciado pelos profestas, mas acima da inteligência humana.
 
Resolvido o angustiante dilema, José não se questiona. Cumpre as prescrições da lei: dirige-se a Belém para rescenseamento, assiste Maria no parto, acolhe os pastores e os reis Magos com útil disponibilidade, conduz a salvo Maria e o Menino para subtraí-lo do sanguinário Herodes, depois volta à laboriosa quietude da casinha de Nazaré, aprtilhando alegrias e dores comuns a todos os pais de família que deviam ganhar o pão com o suor de sua fronte. Nós o revemos na ansiosa procura de Jesus, que ele conduz ao templo por ter cumprido os 12 anos de idade.
 
Enfim, o Evangelho se despede dele com uma imagem rica de significado, que coloca mais de um tema para nossa reflexão: Jesus, o filho de Deus, o Messias esperado, obedece a ele e a Maria, crescendo em sabedoria, idade e graça.
 

No Evangelho de Lucas a história da infância de Jesus (capítulos 1 e 2 de Lucas) está centrada em torno da pessoa de Maria. Aqui no Evangelho de Mateus a infância de Jesus (capítulos 1 e 2 de Mateus) está centrada em torno da pessoa de José, o prometido esposo de Maria. José era da descendência de Davi. Através dele Jesus pertence à raça de Davi. Assim, em Jesus se realizam as promessas feitas por Deus a Davi e à sua descendência.

Na genealogia de Jesus, havia algo anormal que não estava de acordo com as normas da lei: Tamar, Raab, Rute e Betsabéia. O evangelho de hoje mostra que também em Maria havia algo de anormal, contrário às leis da época. Aos olhos do povo de Nazaré ela apareceu grávida antes de conviver com José. Nem o povo nem José o futuro marido sabiam a origem desta gravidez. Se José tivesse sido justo conforme a justiça dos escribas e fariseus , ele deveria ter denunciado Maria, e a pena para ela teria sido a morte por apedrejamento.

José era justo, sim!, mas a sua justiça era diferente. Por antecipação ele já praticava o que Jesus haveria de ensinar mais tarde: “Se a justiça de vocês não ultrapassar a justiça dos escribas e fariseus, vocês não vão poder entrar no Reino dos Céus” (Mt 5,20). É por isso que José, não compreendendo os fatos e não querendo repudiar Maria, resolveu licenciá-la em segredo.

Na Bíblia, a descoberta do apelo de Deus dentro dos fatos acontece de várias maneiras. Por exemplo, através de ruminação dos fatos (Lc 2,19.51), através da meditação da Bíblia (At 15,15-19; 17,2-3), através de anjos (a palavra anjo significa mensageiro), que ajudam a descobrir o significado dos fatos (Mt 28,5-7). José chegou a perceber o significado do que estava acontecendo em Maria através de um sonho. No sonho um anjo usou a Bíblia para esclarecer a origem da gravidez de Maria. Ela vinha da ação do Espírito de Deus.

Quando tudo ficou claro para Maria, ela disse: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua Palavra!” Quando tudo ficou claro para José, ele assumiu Maria como sua esposa, e foram morar juntos. Graças à justiça de José, Maria não foi apedrejada e Jesus continuou vivo no seio dela.
 
 
Para um confronto pessoal
1) Aos olhos dos escribas, a justiça de José seria uma desobediência. Existe mensagem nisto para nós?
2) Como você descobre o apelo da Palavra de Deus dentro dos fatos da sua vida?
 
Reflexão 2: Lucas 2,41-51a
 
A dinâmica da narração. No início encontra-se um lembrete à «lei do Senhor», à qual obedecem Maria e José, realizando sua peregrinação anual à cidade santa. Este particular indica ao leitor que Jesus cresceu na piedade judaica e na observância da lei. Um angustiante incidente – Jesus aos doze anos se perde – oferece a ocasião ao narrador de nos apresentar uma cena esclarecedora sobre o mistério de Jesus. Seus pais, após tê-lo procurado por três dias o encontram no pátio do templo, em meio aos escribas, os mestres da lei: ouvindo as palavras deles e fazendo perguntas. Neste contexto ao leitor é apresentado o um primeiro sinal da sabedoria extraordinária de Jesus que, mais tarde, encantará as multidões: «estavam maravilhados com sua inteligência e suas respostas» (v.47). Às observações da mãe Jesus responde com expressões que revelam a consciência que tem de si mesmo e a clara visão que ele tem da missão que o espera. O evangelista, em seguida, refere da volta a Nazaré, lugar onde Jesus cresceu (vv.39-40) e com esta informação (vv.51-52) Lucas encerra a narração que começou com um ato de obediência de Jesus à Lei e, agora, termina com um ato de submissão a seus pais. 
 
Deus como o seu Pai (v.51). A primeira idéia que é sublinhada nesta «fuga» de Jesus é que uma família sem Deus não tem alicerces. Primeiramente, Jesus declarando que Deus é seu Pai aponta que o lugar mais natural em sua relação de Filho o leva a estar perto dEle, no Templo, lugar por excelência da presença de Deus. Este particular nos leva a focalizar nossa atenção para templo e sua centralidade deste lugar para a vida religiosa da comunidade israelita: neste espaço agrado Jesus entra aos doze anos. A escolha do templo como lugar para a manifestação da sabedoria peculiar de Jesus é uma característica de Luxas que em outro texto apresenta o templo como o lugar onde tem início o evangelho (Lc 1,8-9) e o idoso Simeão reconhece no menino apresentado pelos pais a salvação esperada por Israel (2,29-32). Mas na narração da romaria de Jesus com doze anos ao templo, Lucas quer afirmar que a partir daquele dia passou-se da realidade do templo, como morada de Deus, à sua presença viva na pessoa de Jesus. É um apelo à comunidade hebraica, centralizada no templo, a reconhecer que toda a vida litúrgica, cultural depende do Pai e que o verdadeiro templo consiste na obediência a Jesus. Esta primeira palavra de Jesus projeta uma luz nova sobre o mistério de sua identidade de «filho-servo» e dá ao leitor uma chave de leitura para compreender o resto do evangelho. A resposta aos pais que o procuraram e o encontraram depois de três dias, apresenta a maneira como Jesus vai agir em relação aos homens: sua atitude é incondicionalmente filial. Jesus irá agir com uma submissão absoluta ao Pai. Este aspecto introduz o leitor no próprio coração da identidade de Jesus e que foge a toda tentativa de compreensão mais profunda por parte de seus pais: «e eles não compreenderam» (v.50).
 
A sabedoria peculiar de Jesus. Esta insistência sobre a sabedoria de Jesus não passa despercebida ao leitor. Já em 2,40 se afirmava que Jesus «crescia e se fortalecia, cheio de sabedoria», agora no v.52 se afirma que «Jesus crescia em sabedoria». De que sabedoria se trata? Da sabedoria do Filho, que foi concebido por obra do Espírito Santo e que revela o seu Pai. Jesus é a Palavra de seu Pai. Sua pregação não será doutrina abstrata, nem uma atualização da palavra dos profetas, mas é a sabedoria do Filho que vive na intimidade com o Pai. Uma confirmação nos é dada na última palavra de Jesus na cruz: «Pai, em tuas mãos entrego meu espírito» (23,46). E ressuscitado, antes de voltar ao Pai, promete a seus discípulos o Espírito como «a promessa do Pai» (Lc 24,49). A sabedoria de Jesus, seu ensino, sua palavra nascem de sua intimidade com o Pai, de sua total fidelidade a Ele. Toda comunidade eclesial quando está reunido pelo Pai traz consigo este mistério da relação sapiencial, íntima de Cristo Jesus com seu Pai.
 
 
Para uma avaliação pessoal
1. Os pais de Jesus nem sempre conseguiam entender o comportamento de seu filho e sua maneira de falar, no entanto tiveram confiança nele. Também tu sabes confiar nos outros, em teus filhos, em teus colaboradores? 
2. Consideras tua família uma escola de humanidade, a mais rica e a mais completa?
 
Reflexão 3:
 


José, o mais santo dos homens
 
S. José passou com tanta naturalidade pela vida, que pouco sabemos a seu respeito. A única fonte de informação a seu respeito é o Evangelho que lhe faz breves alusões.
Não podemos esquecer, contudo, que o Autor da Sagrada Escritura é o Espírito Santo, e que para Deus não há esquecimentos nem omissões. Deus revelou-nos tudo e só o que nos fazia falta para a salvação.
Se Deus pouco nos diz a respeito de José, podemos tirar duas conclusões: sabemos tudo o que tínhamos necessidade de saber, porque a sua vida, externamente, foi igual à de tantas pessoas que procuraram a santidade heróica na vida ordinária.
No entanto, essas poucas frases deixam-nos adivinhar a riqueza da sua vida interior.
 
Era descendente de Davi. Tinha de o ser necessariamente, porque era através da linhagem masculina que se estabeleciam a genealogia em Israel. Nas poucas vezes que a mulher é mencionada, trata-se de um caso em que o homem teve mais do que uma mulher, como foi o caso de Davi. Legalmente, Jesus era descendente de Davi pela genealogia de José.
Mas, por exigência da verdade da profecia, Nossa Senhor tinha de o ser também, porque foi Ela quem deu a Jesus tudo o que humano Ele possuía.
 
José viveu a pobreza evangélica. O ser descendente de Davi era, nessa época do domínio romano uma pia lembrança. Toda a família tinha caído na pobreza, e José não fazia excepção.
Teve ganhar o pão de cada dia, sem viver dos rendimentos, com o estritamente indispensável, pois as contínuas mudanças de terra obrigaram-no a recomeçar muitas vezes.
 
Era um jovem apaixonado. Deus chamou-o á vocação do matrimônio virginal com a melhor das esposas de todos os tempos.
Junto desta Jovem um pouco mais nova do que ele, iniciou a caminhada matrimonial. Deus não podia submeter a Sua Mãe ao ridículo de casar com uma pessoa alquebrada pelo peso dos anos. De resto, como poderia o santo varão ter forças para a pesada vida de trabalho que teve de levar e para as longas caminhadas que a vida lhe exigiu, se fosse o velhinho das longas barbas brancas que algumas imagens nos apresentam?
 
A Cruz na vida de José
 
José viveu abraçado á cruz. É frequente naqueles que Deus mais ama o peso da cruz ser maior. Ela é o sinal do carinho de Deus.
Santa Teresa de Jesus encontrava-se a braços com duras dificuldades, e ouviu a voz do Senhor que lhe dizia: «Teresa, é assim que Eu trato os meus amigos».
E logo a santa de Ávila, com a espontaneidade que lhe era natural: «Por isso Vós tendes tão poucos!».
 
A Cruz da maternidade de Maria. José terá ouvido em casa de Isabel esta aclamar Maria como «a Mãe do meu Senhor».
Maria não desmente esta afirmação, antes entoa um hino de ação de graças ao Altíssimo, movendo-se entre a sua pequenez de criatura e a misericórdia de Deus.
A partir deste momento, José terá começado a pensar que está for a do seu lugar, assumindo uma missão de que é indigno. Além disso, a Lei de Moisés exige ao esposo o abandono da esposa que engravide sem ser do marido.
Nem sombras de dúvidas passam pela cabeça do santo Patriarca sobre a inocência e fidelidade de Maria, mas tem que obedecer à Lei. É mais uma indicação que Deus lhe oferece da sua indignidade.
Terá de fugir de noite, em bicos de pés, para evitar perguntas indiscretas sobre a causa do abandono de casa, ilibando assim Nossa Senhora de qualquer suspeita, e isto supõe um sofrimento atroz.
Além disso, a gravidez não pára, e exige uma solução rápida, antes que seja tarde.
É neste momento de angústia, quando chegou já ao extremo do abismo, quando está preparado para fugir nessa noite, que um anjo vem, em sonhos, restituir-lhe a paz e a alegria.
 
A cruz do dia a dia. Mas a cruz vai continuar. Vai para Belém, e não encontra casa onde Jesus possa nascer com o mínimo de conforto para Maria.
Pouco depois, tem de fugir para o Egito; regressa a Nazaré, passado algum tempo, para que o Menino possa crescer em idade, em sabedoria e em graça, mas com naturalidade, como qualquer menino da sua terra.
Entrega-se ao trabalho perfeito, ordenado, constante, responsável e cansativo, sem poder evitar que as pessoas abusem da sua bondade, deixando em aberto as contas dos trabalhos que fazia. Não espera que Deus faça milagres para resolver os problemas que ele pode solucionar.
Ao terminar a sua missão, desaparece também em silêncio, como viveu sempre. Aos cinquenta e poucos anos estará do outro lado da vida, pois, quando Jesus morreu, se José ainda fosse vivo, não faria sentido que entregasse Maria aos cuidados de um amigo.
 
 
A cruz do anonimato. Aceita o anonimato, o esquecimento até, depois da sua vida, para que a fé na virgindade perpétua de Maria se consolide cada vez. Esta dificuldade desapareceu. Os nossos dias são, pois, o tempo de José.
Que privilégios lhe terá concedido O Senhor, em atenção a ter sido escolhido para Pai virginal do Redentor?
S. José leva-nos pela mão a percorrer o caminho da santidade, apaixonados, como ele, por dois amores: Jesus e Maria; e realizando as tarefas e deveres de qualquer chefe de família.
 
É nosso Pai e Senhor. Em virtude da sua missão terrena de Pai virginal de Jesus, é-o também da santa Igreja e de cada um de nós.
Alimentou Jesus que nos é dado na Santíssima Eucaristia. Por isso é a figura de outro José – o do Egito – ao encontro de quem o faraó mandava os que tinham precisão de trigo. Se guardou e alimentou o filho de Deus com tanto zelo, o que não fará hoje pelo seu Corpo Místico?
Confiemos em José e demos-lhe, na nossa vida de piedade, o lugar a que ele tem pleno direito.
 

segunda-feira, 18 de março de 2013

2ª-feira da 5ª Semana Quaresma



De agora em diante não peques mais.
João 8,1-11

Naquele tempo:
1 Jesus foi para o monte das Oliveiras.
2 De madrugada, voltou de novo ao Templo. Todo o povo se reuniu em volta dele.
Sentando-se, começou a ensiná-los.
3 Entretanto, os mestres da Lei e os fariseus trouxeram uma mulher
surpreendida em adultério. Colocando-a no meio deles,
4 disseram a Jesus: 'Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério.
5 Moisés na Lei mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?'
6 Perguntavam isso para experimentar Jesus e para terem motivo de o acusar.
Mas Jesus, inclinando-se,começou a escrever com o dedo no chão.
7 Como persistissem em interrogá-lo, Jesus ergueu-se e disse:
'Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra.'
8 E tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão.
9 E eles, ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos;
e Jesus ficou sozinho,com a mulher que estava lá, no meio do povo.
10 Então Jesus se levantou e disse: 'Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?'
11 Ela respondeu: 'Ninguém, Senhor.'
Então Jesus lhe disse:
'Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais.'

Opcional

João 8,12-20

Naquele tempo:12 Disse Jesus aos fariseus: 'Eu sou a luz do mundo.
Quem me segue, não andará nas trevas, mas terá a luz da vida.'13 Então os fariseus disseram:'O teu testemunho não vale, porque estás dando testemunho de ti mesmo.'14 Jesus respondeu: 'Ainda que eu dê testemunho de mim mesmo,
o meu testemunho é válido, porque sei de onde venho e para onde vou.Mas vós não sabeis donde venho, nem para onde vou. 
15 Vós julgais segundo a carne, eu não julgo ninguém,  
16 e se eu julgo, o meu julgamento é verdadeiro,porque não estou só, mas comigo está o Pai, que me enviou.  
17 Na vossa Lei está escrito que o testemunho de duas pessoas é verdadeiro.  
18 Ora, eu dou testemunho de mim mesmoe também o Pai, que me enviou, dá testemunho de mim.'  
19 Perguntaram então: 'Onde está o teu Pai?'Jesus respondeu: 'Vós não conheceis nem a mim, nem o meu Pai.Se me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai.'  
20 Jesus disse estas coisas, enquanto estava ensinando no Templo, perto da sala do tesouro. E ninguém o prendeu, porque a hora dele ainda não havia chegado.
 

Reflexão

No Evangelho de hoje, vamos meditar sobre o encontro de Jesus com a mulher que ia ser apedrejada. Pela sua pregação e pelo seu jeito de agir, Jesus incomodava as autoridades religiosas. Por isso, elas procuravam todos os meios possíveis para acusá-lo e eliminá-lo. Assim, levam até ele uma mulher, pega em flagrante de adultério. Sob a aparência de fidelidade à lei, usam a mulher para ter argumentos contra Jesus. Também hoje, sob a aparência de fidelidade às leis da igreja, muitas pessoas são marginalizadas: divorciados, aidéticos, prostitutas, mães solteiras, homossexuais, etc. Vejamos como Jesus reage:

João 8,1-2: Jesus e o povo. Depois da discussão sobre a origem do Messias, descrita no fim do capítulo 7 (Jo 7,37-52), “cada um tinha voltado para casa” (Jo 7,53). Jesus não tinha casa em Jerusalém. Por isso, foi para o Monte das Oliveiras. Lá havia um Horto, onde ele costumava passar a noite em oração (Jo 18,1). No dia seguinte, antes do nascer do sol, Jesus já estava novamente no templo. O povo também veio bem cedo para poder escutá-lo. Eles sentavam no chão ao redor de Jesus e ele os ensinava. O que será que Jesus ensinava? Deve ter sido muito bonito, pois o povo vinha antes do nascer do sol para poder escutá-lo!

João 8,3-6a: Os escribas armam uma cilada. De repente, chegam os escribas e os fariseus, trazendo consigo uma mulher pega em flagrante de adultério. Eles a colocam no meio da roda. Conforme a lei, esta mulher deveria ser apedrejada (Lv 20,10; Dt 22,22.24). Eles perguntam: "E qual é a sua opinião?" Era uma cilada. Se Jesus dissesse: "Apliquem a lei", eles diriam: “Ele não é tão bom como parece, porque mandou matar a pobre da mulher!” Se dissesse: "Não matem", diriam: "Ele não é tão bom como parece, porque nem sequer observa a lei!" Sob a aparência de fidelidade a Deus, eles manipulam a lei e usam a pessoa da mulher para poder acusar Jesus.

João 8,6b-8: Reação de Jesus: escreve no chão. Parecia um beco sem saída. Mas Jesus não se apavora nem fica nervoso. Pelo contrário. Calmamente, como quem é dono da situação, ele se inclina e começa a escrever no chão com o dedo. Quem fica nervoso, são os adversários. Eles insistem para que Jesus dê a sua opinião. Então, Jesus se levanta e diz: "Quem for sem pecado seja o primeiro a jogar pedra!" E inclinando-se tornou a escrever no chão. Jesus não discute a lei. Apenas muda o alvo do julgamento. Em vez de permitir que eles coloquem a luz da lei em cima da mulher para poder condená-la, pede que eles se examinem a si mesmos à luz do que a lei exige deles. A ação simbólica da escritura no chão esclarece tudo. A palavra da Lei de Deus tem consistência. Uma palavra escrita no chão não tem consistência. A chuva e o vento a apagam logo. O perdão de Deus apaga o pecado identificada e denunciado pela lei.

João 8,9-11: Jesus e a mulher. O gesto e a resposta de Jesus derrubaram os adversários. Os fariseus e os escribas se retiram envergonhados, um depois do outro, a começar pelos mais velhos. Aconteceu o contrário do que eles esperavam. A pessoa condenada pela lei não era a mulher, mas eles mesmos que pensavam ser fiéis à lei. No fim, Jesus ficou sozinho com a mulher no meio da roda. Jesus se levanta e olha para ela: "Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou!" Ela responde: "Ninguém, Senhor!" E Jesus: "Nem eu te condeno! Vai, e de agora em diante não peques mais!"

Jesus não permite que alguém use a lei de Deus para condenar o irmão ou a irmã, quando ele mesmo ou ela mesma é pecador ou pecadora. Este episódio, melhor do que qualquer outro ensinamento, revela que Jesus é a luz que faz aparecer a verdade. Ele faz aparecer o que existe de escondido dentro das pessoas, no mais íntimo de cada um de nós. À luz da sua palavra, os que pareciam os defensores da lei, se revelam cheios de pecado e eles mesmos o reconhecem, pois vão embora, a começar pelos mais velhos. E a mulher, considerada culpada e merecedora da pena de morte, está de pé diante de Jesus, absolvida, redimida e dignificada (cf. Jo 3,19-21).
 
 
Para um confronto pessoal
1) Procure colocar-se na pele da mulher: quais eram os sentimentos dela naquele momento?
2) Que passos nossa comunidade pode e deve dar para acolher os excluídos?
 
 
Reflexão de João 8,12-20:
 

EU SOU A LUZ DO MUNDO


Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará na treva, mas terá a luz da vida. Esta aqui a chave de todo esclarecimento das palavras e da missão de Jesus. Nesta expressão de São João que, mesmo desvinculada do seu contexto mais amplo (8,12-20), desempenha uma função essencial: faz pensar. Faz pensar, antes de tudo, nos adversários imediatos que, logo em seguida, tentam neutralizá-la, mas também põe na balança a nossa fé: Você sabe de onde veio e para onde vai? Você já encontrou sentido para a sua vida? Você faz diferença entre Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo? Você tem em si a Luz de Jesus? O que você distingue nos acontecimentos da sua vida como sendo vindo da luz que é Cristo?
Jesus ao dizer Eu sou…, quer mostrar a todos nós a importância decisiva da sua pessoa para o mundo inteiro. É bom lembrar que o lugar onde Jesus pronuncia solenemente esta auto-afirmação é a sala do Tesouro do Templo (8,20). Lá, durante as Festas, eram acesos os grandes candelabros, cuja luz chegava a iluminar toda a cidade de Jerusalém.
Esse ambiente, densamente repleto de ressonâncias messiânicas, é o lugar em que Jesus se declara luz do mundo. O motivo da luz, de acordo com as profecias messiânicas, indica felicidade, libertação, alegria: “Levanta, resplandece porque a tua luz vem vindo, a glória de Javé brilha sobre ti” (Is 60,1).
Por trás da afirmação de Jesus, podemos ver os textos proféticos que se referem ao Servo de Deus constituído para ser a luz das nações (Is 49,6:) Pouca coisa é que sejas o meu servo, para restaurares as tribos de Jacó e reconduzires os sobreviventes de Israel. Também te estabeleci como luz das nações, a fim de que a minha salvação chegue até as extremidades da terra; cfr. Is 42,6).
Esses textos que exprimem a missão do servo nos convidam a percorrer o caminho de um novo êxodo que liberta da treva e da opressão. Por isso eles ajudam a compreender que também a missão de Jesus não se reduz ao povo de Israel, mas está totalmente aberta para o mundo das nações.
Por esse motivo, Jesus convida a percorrer o mesmo caminho e acrescenta, logo em seguida, uma expressão não menos significativa do que a primeira: Quem me segue não andará na treva, mas terá a luz da vida. A dimensão universal da “luz” tem sua incidência concreta na experiência humana, também universal (a expressão quem me segue é singular, mas indica totalidade), revelando a necessidade de uma decisão pessoal.
Está em jogo o sentido da história: quem acolhe a luz encontra efetivamente o caminho da vida, e o caminho certo é aquele do “seguimento”. Vale lembrar que seja a “luz” seja a “treva” possuem dimensões universais (cfr 1,5) bem como muitos outros contrastes do evangelho de João (vida-morte, verdade-mentira, espírito-carne, etc.).
No entanto, esses contrastes não são fruto da fantasia, mas surgem da experiência humana, porque é lá que é preciso decidir se enveredar pelo caminho da luz, do projeto de Deus e da vida, ou se percorrer o caminho dos projetos humanos auto-referenciais. Não há outra escolha senão entre dois caminhos: auto-suficiência humana e gratuidade divina.
Para o evangelista, todo ser humano realiza suas escolhas dentro do horizonte da história humana, assim como Jesus se manifesta como “luz do mundo” em sua própria humanidade. De fato, é muito significativo observar que o símbolo da luz ocorre só nos primeiros 12 capítulos e é quase sempre aplicado a Jesus em sua realidade histórica.
Portanto, ainda hoje, numa história repleta de ambigüidades, a decisão do “seguimento” não só obtém a luz da vida, mas revela ao mesmo tempo uma formidável dose de otimismo: a luz e a treva continuam se opondo como outrora, mas a Luz, no fim das contas, acaba resplandecendo gratuitamente para todos. Isso faz pensar e muito!
Jesus é a Luz que veio ao mundo para nos tirar das trevas. A luz revela, clareia, mostra e esclarece. A treva é a ignorância, a confusão, a desesperança e o desamor. Com Jesus nós temos a Luz da vida e o entendimento para todos os fatos que nos acontecem enquanto aqui vivermos. A partir desta realidade nós então encontraremos sentido para o nosso viver. Se tivermos uma experiência com Jesus, nós também, como Ele, iremos perceber de onde viemos e para onde vamos. Encontraremos razão para a nossa existência, porque deixaremos de viver segundo a carne, mas guiados pelo Espírito Santo e o nosso testemunho também será válido.
O próprio Jesus é quem nos confidencia: Se me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai. Conhecer a Jesus é, portanto, a condição imprescindível para que possamos sair das trevas e ter a Luz da vida. Deus Pai é quem nos dá testemunho da Luz de Jesus, através das Suas obras em nós e por nosso intermédio. O Pai está onde Jesus se encontra e vice-versa, por isso, não precisamos perguntar onde encontrá-Los, mas entrar em comunhão com Eles, conduzidos pelo Seu Amor que é o Espírito Santo. Aí então, sairemos da ignorância, da confusão, da desesperança e do desamor para entrarmos no reino dos céus. Que Deus nos dê esta graça de vermos o caminho afim de lá chegarmos.
Espírito de luz, não me deixes caminhar nas trevas, e sim, na luz que dá vida – Jesus.


domingo, 17 de março de 2013

5º Domingo Quaresma - Ano C



João 8,1-11

Naquele tempo:
1 Jesus foi para o monte das Oliveiras.
2 De madrugada, voltou de novo ao Templo. Todo o povo se reuniu em volta dele.
Sentando-se, começou a ensiná-los.
3 Entretanto, os mestres da Lei e os fariseus trouxeram uma mulher
surpreendida em adultério. Colocando-a no meio deles,
4 disseram a Jesus: 'Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério.
5 Moisés na Lei mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?'
6 Perguntavam isso para experimentar Jesus e para terem motivo de o acusar.
Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever com o dedo no chão.
7 Como persistissem em interrogá-lo, Jesus ergueu-se e disse:
'Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra.'
8 E tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão.
9 E eles, ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos;
e Jesus ficou sozinho, com a mulher que estava lá, no meio do povo.
10 Então Jesus se levantou e disse: 'Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?'
11Ela respondeu: 'Ninguém, Senhor.' Então Jesus lhe disse:
'Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais.'

Reflexão
 





Deus não nos pune, não podemos fazer nada de errado para provocar um castigo de Deus, para que Ele nos mande um luto ou uma doença. Frequentemente, a origem da dor somos nós mesmos, a nossa fragilidade, as nossas escolhas erradas. Deus não é um pai-patrão e bom somente devido às nossas devoções e orações. Deus é um pai que nos espera, que nos respeita, que nos deixa fazer os percursos e as experiências da vida, esperando não nos perder. Deus é um pai bondoso que dá pão ao filho que lhe pede, que faz chover sobre justos e injustos. Isso é o que refletimos nos últimos domingos, mas se ainda não nos convenceram, escutemos a história real e não parábola da mulher adúltera.
 
No Evangelho deste domingo, nos deparamos com Jesus que, voltando do monte das Oliveiras, ensina no templo. O povo está em volta dele, escutando com atenção seus ensinamentos. Desta vez, os fariseus e os mestres da lei levam até ele uma mulher que foi pega flagrante adultério. A Jesus é posta verdadeiramente uma uma armadilha extraordinária. Uma mulher (não tem nome, os acusadores não a conhecem, é só uma meretriz) que foi pega no flagra. Quanto ao homem que estava com ela, cadê? Nem se fala obviamente, pois se ainda hoje o machismo é forte, naquele tempo era absoluto.
 
A mulher é levada perante um Rabi (Mestre) para que ele se pronuncie. Moisés havia prescrito na lei que mulheres como “aquela” deviam ser apedrejadas, de modo que ficasse claro (principalmente para as mulheres) que é melhor permanecerem fiéis. E aí? Jesus, o que devemos fazer? Qual será a reação de Jesus? É o Sinédrio que a condena à morte, quando a pena de morte é reservada aos romanos. Jesus se declarará contra o opressor? Ou reconhecerá o juízo ilegítimo do Sinédrio? Foi Moisés quem prescreveu: será que Jesus ousará contradizer uma lei divina?
 
Que cilada armaram contra Jesus! Que outra coisa Jesus poderá fazer a não ser concordar com seus adversários? O mal cometido deve ser eliminado! A mulher deve ser apedrejada. Os escribas conhecem bem a lei e pedem a Jesus para aplicá-la. É uma armadilha bem arquitetada: será Jesus legalista? Ou arriscará contradizer Moisés? Tudo é tramado em torno do que Jesus fará com relação aos pecadores, ao povão que estava em volta dele. Se deixar a mulher ser apedrejada, é sinal de que aprova a lei e o comportamento dos seus adversários contra os pecadores; e assim, seu comportamento de desprezo seria desmascarado diante de todo o povo. Mas, nesse caso, onde ficaria a imagem do Pai bondoso que sai ao encontro do filho perdido?
 
Se, pelo contrário, ele não aprovar o querer dos fariseus e acolher a pecadora, estará descumprindo uma lei que é claríssima e também nesse caso, diante do povo se mostraria como alguém que infringe a lei. Todos esperam para ver como Jesus se sairá desta, pois, a pergunta o obriga a tomar uma posição. Temos uma ligeira impressão de que ele parece não saber decidir. Mas com a maior calma do mundo, ele ganha tempo, riscando com o dedo na terra: são segundos eternos de impaciente silêncio. Ele parece não estar nem aí para seus opositores, não lhes dá nenhuma resposta. Estes se encontram muito seguros de si mesmos, enquanto a mulher deveria se encontrar num pavor terrível e o povo muito tenso. Aquele silêncio é o silêncio da espera porque está para surgir uma coisa nova, como nos afirma a primeira leitura: “não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. Eis que farei coisas novas e que já estão surgindo”.
 
Se como insistiam, eis que Jesus se levanta e com sua inteligência impressionante e movido pelo amor que sempre pregava, rompe o silêncio e a sua palavra é como uma espada que se finca com profundidade na consciência, golpeando todo tipo de hipocrisia: “Quem dentre vós não tiver pecado seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. Era como se perguntasse: como você pode condenar esta mulher enquanto você também é adúltero? Porque todo pecado é um adultério aos olhos de Deus. Os acusadores, aqueles presumidos, queriam negar à adúltera a possibilidade de uma mudança. Com a chuva de pedras que pretendiam realizar, queriam sepultar não só o pecado, mas também a pessoa, o seu passado e o seu futuro.
 
No fundo, Jesus não responde diretamente a pergunta deles. Chama a atenção para um fato importante por eles esquecido: sobre a verdadeira situação deles diante de Deus. Deu um tempo pra eles pensarem, voltando a desenhar com o dedo no chão. O mais interessante aparece aqui. Os fariseus, que nunca aceitam o que Jesus diz, dessa vez se tocam. Nenhum dos que estavam lá teve a coragem de apedrejar a mulher. Se deram conta que todos têm pecado e devem cuidar de superar os seus. Quando Jesus se levanta, percebe que todos foram embora. Só estão ele e a mulher. Também Jesus não condenou a mulher, mas exortou: “de agora em diante não peques mais”. Jesus a absolve, mas recorda-lhe sua nova tarefa.
 
A lei escrita na pedra com as próprias palavras de Deus, incisas a fogo e entregues a Moisés foi traída, servida, submissa a costumes e tradições só humanas e mesquinhas. Sim, esta mulher traiu o marido. Mas o povo de Israel traiu o espírito autêntico da lei. O Filho de Deus agora reescreve sobre a pedra a lei que os homens adaptaram para eles. Todos se calam, agora. É como se Jesus nos dissesse: você têm razão: fulano errou. Faz bem matá-lo, há que ser inflexível para salvar a lei. Você nunca errou, você é perfeito. Parabéns. Portanto, seja o primeiro a lançar a pedra.
 
Jesus faz de conta que fica perplexo. Oxe, onde estão eles? Ele, o único sem pecado, o único que poderia com razão jogar a pedra, não o faz. Pede somente à mulher que recupere a dignidade, de se amar mais. Jesus não justifica, nem condena, convida a elevar o olhar, a ir além, a olhar com o coração a fragilidade do outro e descobrir-se refletindo ela própria. Não, Deus não castiga. A sociedade quer condenar. Todos nos querem condenar, julgar, Deus não. Deus ama e basta. E essa mulher é liberta, salva do apedrejamento, salva agora da sua fragilidade. Não peques mais, admoesta Jesus.
 
A “vida nova” é o tema das três leituras deste domingo. Já o anunciava o profeta Isaías aos exilados da Babilônia prevendo o retorno a Pátria. Para Paulo, a vida nova é uma pessoa, Jesus Cristo, o único tesouro, diante de quem todo o resto é perda e lixo. É Ele a única meta a conquistar correndo com todo esforço. Paulo não sente tal empenho como um peso, mas como uma resposta de amor a Cristo que o conquistou.
 
O gesto bondoso e surpreendente de Jesus para com aquela mulher provoca uma mudança total da situação: antes de tudo, o silêncio desarmante de Jesus, depois aqueles sinais historicamente indecifráveis por terra, e enfim o desafio a lançar a primeira pedra, desmascaram toda a hipocrisia daqueles acusadores legalistas de coração de pedra. Ao final, a mulher e Jesus ficam sozinhos: “a miséria e a misericórdia”, como comenta Santo Agostinho. Jesus fala à mulher: ninguém tinha falado com ela, tinham-na trazido à força com acusações e empurrões. Jesus se dirige a ela não chamando-a com nomes que a desprezam, mas com respeito, reconhecendo a sua dignidade; chama-a de “mulher”. Como Ele costumava chamar sua mãe (Jo 2,4;19,26). Jesus distingue entre ela – a mulher frágil – e o seu erro, que ele porém não aprova: o adultério é e permanece um pecado (Mt 5,32), também no caso de um desejo desonesto (Mt 5,28). Jesus condena o pecado, mas nunca o pecador. Não fica parado no passado, mas reenvia para a vida, reabre o futuro. O núcleo do relato não é o pecado, mas o coração de Deus que ama e quer que nós vivamos. É esta a imagem de Deus – amor que Jesus quer passar: que a mulher experimente que Deus a ama assim como ela é. Deste modo, a mulher se sentindo respeitada, amada, protegida, está em grau de acolher o convite de Jesus de se esforçar para não mais pecar. Deus salva amando.
 
O trecho evangélico constitui uma intensa página de metodologia missionária para o anúncio, a conversão, a educação para a fé e para os valores da vida. O amor gera e regenera a pessoa, torna-a livre; Jesus educa ao amor vivido na liberdade e na gratuidade. Só nestas condições é que conseguiremos entender porque devemos deixar cair das mãos as pedras que queríamos lançar sobre os outros. Que possamos reconhecer a nossa hipocrisia e nos curarmos dela.
 
Ninguém é perfeito, mas lembremos sempre as palavras de Paulo: esquecendo o que fica para trás, eu me lanço para o que está na frente. Corro direto para a meta, rumo ao prêmio que, do alto, Deus me chama a receber em Cristo Jesus.
 
 
Reflexão 2:
 
 
De acordo com a maioria dos estudiosos, Jo 8,1-11 não pertence ao autor do quarto evangelho. Sua inserção interrompe a sequência, e a linguagem é mais a de Lucas do que a de João, tendo presente a série de termos empregados e que não são usados em todo o evangelho de João. Isso, contudo, não questiona o seu valor de Palavra de Deus.
 
NÃO VIM PARA JULGAR. Mesmo não tendo o vocabulário e o estilo de João, o trecho se encaixa bem no tema principal. Talvez tenha sido posto aí para ilus-trar o que Jesus dirá um pouco mais adiante contra os fariseus: “vocês julgam como homens, mas eu não julgo ninguém. Mesmo que eu julgue, o meu julgamento é válido, porque não estou sozinho, mas o Pai que me enviou está comigo” (8,15-16).
 
JULGAMENTO = ESTAR A FAVOR OU CONTRA JESUS. O tema do julgamento é muito importante em toda a literatura joanina, e aqui também. Uma coisa é certa: Jesus não julga ninguém, ou seja, não veio para condenar, mas para salvar (veja 3,16-18). Ele simplesmente provoca todas as pessoas a tomar partido: quem está com ele não se perde; que está contra ele se autocondena, pois se colocou contra a vida. A pessoa de Jesus suscita o discernimento, ou seja, faz-nos perceber se estamos a favor da luz (vida) ou contra a luz (morte). VINDO PARA QUE TODOS TENHAM VIDA (10,10), pôs a nu nossas raízes e nossas escolhas.
 
SENTADO NA CADEIRA DE JUIZ E NÃO JULGA! Um episódio do evangelho de João é clássico nesse sentido (19,13-15). Pilatos faz Jesus sentar-se na cadeira de juiz-presidente do tribunal. De réu, Jesus se torna juiz supremo.
1. Mas ele não diz nada, não profere sentença alguma, não condena. São os chefes dos sacerdotes que se desnudam diante de Jesus juiz, revelando de que lado estão. De fato, eles dizem que o rei deles é César.
2. O contato desse tema com o episódio da adúltera é evidente. Esse episódio recorda sem dúvida o capítulo 13 de Daniel, a história de Suzana. As personagens praticamente se identificam: os juízes que, não conseguindo possuir Suzana, a condenam, fazem pensar nos acusadores da adúltera; o jovem Daniel remete a Jesus. Há, contudo, nítida distinção entre Susana, que não pecou, e a adúltera.
 
DO MONTE DAS OLIVEIRAS PARA O TEMPLO. O ambiente do episódio é o Templo de Jerusalém. Jesus se movimenta entre o monte das Oliveiras e a esplanada do Templo.
1. O monte das Oliveiras é o lugar onde Jesus assume corajosamente o projeto de Deus, para levar as pessoas à vida. Esse projeto passa pela morte-ressurreição.
2. O Templo é o lugar da rejeição de Jesus por parte das lideranças judaicas; nele se concentrava o poder religioso opressor, incapaz de levar à vida quem tivesse pecado.
 
O NASCER DO SOL – DIA DA PLENA LIBERTAÇÃO. Antes do nascer do sol, Jesus encontra-se no templo, ensinando. Ele é o novo sol que, – com sua palavra e ação, – faz surgir o dia da plena libertação da humanidade.
 
 
ADÚLTERA A SER LAPIDADA. A cena da adúltera – surpreendida em flagrante – é característica das tramas que doutores da Lei e fariseus arquitetavam para apanhar Jesus em contradição (cf. Mc 10,2; 12,13-14), para terem motivo de acusação contra ele(v 6a).
1. Segundo a lei de Moisés (Dt 22,22; Lv 20,10), a mulher que fosse surpreendida em adultério devia ser lapidada, não só ela, mas também o homem que com ela adulterou.
2. Para os doutores da Lei e os fariseus, a sentença já está decretada. Eles, representantes do sistema opressor, se serviam do aparato legal para legislar em prejuízo dos outros. Eram juízes superiores à Lei, capazes de sentenciar a respeito da adúltera e do próprio Jesus.
 
A CHANCE DA VIDA = OPTAR POR JESUS. No evangelho de João, Jesus se apresenta como aquele que recebeu do Pai a autoridade de julgar (5,22), mas ele próprio não julga ninguém (cf. 8,15), ou seja, é aquele que dá a chance decisiva de vida: OPTAR POR ELE, que cumpre plenamente a vontade do Pai. Em vez de julgar (= condenar), Jesus provoca o julgamento: quem adere a ele escolhe a vida, quem o rejeita provoca a própria morte.
 
ESCREVER NO CHÃO = REDIGIR UMA ACUSAÇÃO ? A reação de Jesus diante da pergunta dos escribas e fariseus é estranha: “Jesus se abaixou e com o dedo começou a escrever no chão” (v.6).
1. Esse gesto é obscuro. Além de “escrever”, o verbo pode também significar “redigir uma acusação”.
2. Talvez seja esse o sentido ou, quem sabe, seja possível encontrar nesse gesto uma referência a Jeremias 17, 13: “os que se afastam de ti serão escritos na terra”, isto é, no Xeol, entre os mortos.
 
DE JUÍZES A RÉUS = ATIRE A PEDRA QUEM NÃO TIVER PECADO. Todavia, a resposta de Jesus diante da insistência dos acusadores é clara: “aquele de vocês que não tiver pecado, atire nela a primeira pedra” (v.7). Os que haviam montado o tribunal, – arrogando-se o direito de sentenciadores, – passam da condição de juízes à condição de réus.
 
O SISTEMA OPRESSOR INCAPAZ DE SALVAR . Assim Jesus implode, em pleno Templo, o sistema opressor incapaz de salvar. A ordem de retirada dos doutores da Lei e fariseus é patética: vão embora a partir dos mais velhos (v.9a). É o sistema opressor que se afasta para dar lugar à nova ordem instaurada por Jesus. A mulher permanecia lá, no meio (v.9b), mas o sistema que decretara sua morte não existe mais.
 
OFERECER SALVAÇÃO = CONDENAR O MAL SEM EXTERMINAR O PECADOR. Inicia, então, novo diálogo, o de Jesus com a mulher. Não é um diálogo inquisidor, mas uma oferta de salvação: “eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais” (v.11b). Jesus certamente não aprovou o pecado. Demonstrou, porém, que não se extirpa o mal eliminando quem o cometeu (cf. Dt 22,22: “deste modo extirparás o mal de Israel”), mas oferecendo ao pecador condições de vida nova e plena. De certa forma, a adúltera salvou também o adúltero.
 
 
Reflexão 3:
 
O Homem que mais defendeu as mulheres. (Augusto Cury)

As mulheres frequentemente foram silenciadas, controladas, diminuídas e tratadas como subumanas nas mais diversas sociedades humanas. Todavia, houve um homem que lutou sozinho contra o império do preconceito. Ele foi incompreendido, rejeitado, excluído, mas não desistiu dos seus idéias. Ninguém apostou tanto nas mulheres como ele. Fez das prostitutas rainhas, e das desprezadas, princesas. Muitos dizem que ele é o homem mais famoso da história, mas poucos sabem que foi ele quem mais defendeu as mulheres. Seu nome é Jesus Cristo, o Mestre dos Mestres na arte de viver. Esse texto não fala de uma religião, mas da filosofia e da psicologia do homem mais complexo e ousado de que se teve noticia.

Nos tempos de Jesus os homens adúlteros não sofriam punição severa. Todavia, a mulher adultera era arrastada em praça pública, suas vestes rasgadas e, com os seios à mostra, eram apedrejadas sem piedade. Enquanto sangravam e agonizavam, pediam compaixão, mas ninguém as ouvia. A cena, inesquecível, ficava gravada na mente e perturbava a alma para sempre.

Certa vez, uma mulher foi pega em adultério. Arrancaram-na da cama e a arrastaram centenas de metros até o lugar em que Jesus se encontrava. A mulher gritava “Piedade! Compaixão!”, enquanto era arrastada; suas vestes iam sendo rasgadas e sua pele sangrava esfolando-se na terra.

Jesus estava dando uma aula tranqüila na frente do templo. Havia uma multidão ouvindo-o atentamente. Ele lhes ensinava que cada ser humano tem um inestimável valor, que a arte da tolerância é a força dos fortes, que a capacidade de perdoar está diretamente relacionada à maturidade das pessoas. Suas idéias revolucionavam o pensamento humano, por isso começou a ter muitos inimigos. Na época, os judeus constituíam um povo fascinante, mas havia um pequeno grupo de radicais que passou a odiar as idéias do Mestre. Quando trouxeram a mulher adultera até ele, a intenção era apedreja-lo juntamente com ela, usa-la como isca para destruí-lo.

Ao chegarem com a mulher diante dele, a multidão ficou perplexa. Destilando ódio, comentaram que ela fora pega em flagrante adultério. E perguntaram qual era a sentença dele. Se dissesse “Que seja apedrejada”, ele livraria a sua pele, mas destruiria seu projeto transcendental, seu discurso e principalmente seu amor pelo ser humano, em especial pelas mulheres. Se dissesse “Não a matem!”, ele e a mulher seriam imediatamente apedrejados, pois estariam indo contra a tradição daqueles radicais. Se os fariseus tivessem feito a mesma pergunta aos discípulos de Jesus, estes provavelmente teriam dito para mata-la. Assim se livrariam do risco de morrer.

Qual foi a primeira resposta do Mestre diante desse grave incidente? Se você pensou: “Quem não tem pecado atire a primeira pedra!” , errou, essa foi a segunda resposta. A primeira foi não da resposta, foi o silêncio. Só o silencio pode conter a sabedoria quando a vida está em risco. Nos primeiros 30 segundos de tensão cometemos os maiores erros de nossas vidas, ferimos quem mais amamos. Por isso, o silêncio é a oração dos sábios. Para o Mestre dos Mestres, aquela mulher, ainda que desconhecida, pobre, esfolada, rejeitada publicamente e adultera, era mais importante do que todo o ouro do mundo, tão valiosa como a mais pura das mulheres. Era uma jóia raríssima, que tinha sonhos, expectativas, lágrimas, golpes de ousadia, recuos, enfim, uma historia fascinante, tão importante como a de qualquer mulher. Valia a pena correr riscos para resgata-la.

Para o Mestre dos Mestres não havia um padrão para classificar as mulheres. Todas eram igualmente belas, não importando a anatomia do seu corpo, não importando nem mesmo se erravam muito ou pouco. Jesus precisava mudar a mente dos acusadores, mas nunca ninguém conseguiu mudar a mente de linchadores. O “eu” deles era vítima das janelas do ódios, não eram autores da sua história, queria ver sangue. O que fazer, então?

Ao optar pelo silêncio, Jesus optou por pensar antes de reagir. Ele escrevia na areia, porque escrevia no teatro da sua mente. Talvez dissesse para si mesmo: “Que homens são esses que não enxergam a riqueza dessa mulher? Por que querem que eu a julgue, se eu quero amá-la? Por que, em vez de olhar para os erros dela, não olham para seus próprios erros?”

O silêncio inquietante de Jesus deixou os acusadores perplexos, levando-os a diminuir a temperatura da raiva, da tensão, oxigenando a racionalidade deles. Num segundo momento, eles voltaram a perguntar o veredicto do Mestre. Então, finalmente, ele se levantou. Fitou os fariseus nos olhos, como se dissesse: “Matem a mulher! Todavia, antes de apedreja-la, mudem a base do julgamento, tenham a coragem de ser transparentes em enxergar as suas falhas, erros e contradições”. Esse era o sentido de suas palavras. “Quem não tem pecado atire a primeira pedra!”

Os fariseus receberam um choque de lucidez com as palavras de Jesus. Saíram do cárcere das janelas killer e começaram a abrir as janelas light. Deixaram de ser vítimas do instinto de agressividade e passaram a gerenciar suas reações. O homo sapiens prevaleceu sobre o homo bios, a racionalidade voltou. O resultado é que eles saíram de cena. Os mais velhos saíram primeiro porque tinham acumulado mais falhas ao longo da vida ou porque eram mais conscientes delas.

Jesus olhou para a mulher e fez uma delicada pergunta: “Mulher, onde estão seus acusadores?” O que ele quis dizer com essa pergunta e por que a fez? Em primeiro lugar, ele chamou a adultera de “mulher”, deu-lhe o status mais nobre, o de um ser humano. Ele não perguntou com quantos homens ela dormira. Para o Mestre dos Mestres, a pessoa que erra é mais importante do que seus próprios erros. Aquela mulher não era uma pecadora, mas um ser humano maravilhoso. Em segundo lugar, perguntou: “Onde estão os seus acusadores? Ninguém a acusou?” Ela respondeu: “Ninguém”. Ele reagiu: “Nem eu”. Talvez ele fosse a única pessoa que tivesse condições de julga-la, mas não o fez. O homem que mais defendeu as mulheres não a julgou, mas compreendeu, não a excluiu, mas a abraçou. As sociedades ocidentais são cristãs apenas no nome, pois desrespeitam os princípios fundamentais vividos por Jesus. Um deles é o respeito incondicional pelas mulheres!

O homem que mais defendeu as mulheres não parou por aí. Sua ultima frase indica o apogeu da sua humanidade, o patamar mais sublime da solidariedade. Ele disse para a mulher: “Vá e refaça seus caminhos”. Essa frase abala os alicerces da psiquiatria, da psicologia e da filosofia. Jesus tinha todos os motivos para dizer: “De hoje em diante, sua vida me pertence, você deve ser minha discípula”. Os políticos e autoridades usam seu poder para que as pessoas os aplaudam e gravitem em sua órbita. Mas Jesus, apesar do seu descomunal poder sobre a mulher, foi desprendido de qualquer interesse. “Vá e revise a sua historia, cuide-se. Mulher, você não me deve nada. Você é livre!”

Jesus a despediu, mas ela não foi embora. E por que? Porque o amou. E, por ama-lo, o seguiu para sempre, inclusive até os pés da cruz, quando ele agonizava. Talvez essa mulher tenha sido Maria Madalena. A base fundamental da liberdade é a capacidade de escolha, e a capacidade de escolha só é plena quando temos liberdade de escolher o que amamos. Todavia, estamos vivendo em uma sociedade em que não conseguimos sequer amar a nós mesmos. Estamos nos tornando mais um numero de cartão de crédito, mais um consumidor potencial. Isso é inaceitável.

(Texto adaptado do livro: A ditadura da Beleza e a revolução das mulheres.)