domingo, 18 de dezembro de 2011

Não ter onde morar - Pe. Zezinho scj


 Pe. Zezinho scj

Morreu mais gente. Ruíram outros prédios. A enchente outra vez nos derrotou. Adoniran Barbosa há mais de cinqüenta anos atrás cantou o drama em "Saudosa Maloca". Cada tauba que caia doía no coração... Mais do que problema paulistano era o milenar problema, em todos os povos, de quem não tem um pedaço de chão, ou mora em lugar inadequado: terra sujeita a deslizamentos, alagados, enchentes e aluviões.

Outra vez e outra vez e ainda outra vez aconteceu no Brasil. As pessoas moram onde podem e não onde querem. Foram para o morro que escorrega. Ou sobrou-lhes um vale que as águas invadiam e podem voltar a invadir. Não tendo para ponde ir, arriscam, depois oram e choram. Não é sempre que Deus contém as águas e nem todo rio é o Mar Vermelho. Rios crescem e invadem quem invadiu o seu espaço. Também o mar! E é o que está acontecendo no mundo inteiro. Os homens foram morar onde não se deve morar. Nem gigantescos diques como os de Nova Orleães, nem o polders da Holanda são garantia. Um dia, as águas invadem quem as invadiu.

Sabem disso os engenheiros que nunca são ouvidos, sabem mais ainda os peritos em hidráulica, com tabelas de enchentes periódicas nas mãos. Sabem os políticos. Mas até os governos constroem em áreas alagáveis. Fica muito mais caro reparar os danos do que preveni-los.

Mas aí, entram os componentes da ganância imobiliária, a pressa do povo em achar o seu cantinho, a impopularidade de quem impede as invasões, a preocupação com os votos futuros e, ano após ano, sabendo todos que aquele lugar é alagadiço o fenômeno se repete. Não podem nem acusar o clima. Há estatísticas. Já aconteceu e não é possível sanar, porque o solo das grandes concentrações urbanas está impermeabilizado pelo asfalto. O governo cobra pesados impostos, mas não resolve. Uma cidade sem árvores e sem escoamento é área de catástrofe.

Acusar os pobres? Como? A maioria não tem dinheiro para morar em apartamentos, não tem nem o suficiente para o IPTU e mal paga o seu aluguel. Ir para onde se não há mais espaço nem terreno na cidade? Impotentes eles e os governos, estes às vezes incompetentes, o problema da moradia se agrava a cada novo ano, a cada tempestade e cada vez que o rio sobe.

De norte a sul do planeta e de norte a sul do Brasil as dores se repetem. Quase não há mais lágrimas. Eles já sabiam que dia menos dia as águas voltariam. Se não chove, oram por chuva, se chove oram por estiagem. Os pregadores nem mais fazem preces e procissões para que a chuva pare ou desça. Perceberam que o problema é humano, criado e sustentado por nós mesmos, com sofá, cadeiras carros pneus jogados nas ruas e nos córregos. Impedimos o curso dos rios e fomos morar no lugar das águas. Solução à vista? Engenheiros dizem que sim. Os políticos preferem o talvez...

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Referência: Diante do presépio - Pe. Zezinho

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