sexta-feira, 22 de agosto de 2014

O "Poder das chaves"


Roteiro Homilético
A proposta de reflexão sobre a liturgia do domingo é de autoria do Pe. Johan Konings SJ, produzida sob a responsabilidade direta do Pe. Jaldemir Vitório SJ, Reitor e Professor da FAJE.

Confira a íntegra do Roteiro Homilético.

O Papa detém o “poder das chaves”, dizemos. Mas que significa isso? A liturgia de hoje nos proporciona maior compreensão a respeito. Pela 1ª leitura aprendemos que “o poder das chaves” significa a administração da casa ou da cidade. O administrador do palácio do rei, Sobna, será substituído por Eliacim, o qual receberá “as chaves da casa de Davi”. No evangelho, Pedro, em nome dos doze apóstolos, proclama Jesus Messias e Filho de Deus. Jesus, em compensação, proclama Pedro fundamento da Igreja e confia-lhe “as chaves do reino dos Céus”. Dá-lhe também o poder de “ligar e desligar”, o que significa obrigar e deixar livre, ou seja, o poder de decisão na comunidade (em Mt 18,18, este poder é dado à Igreja como tal).
“As chaves do reino dos Céus” é uma figura que significa o ministério/serviço pastoral, portanto, uma realidade no nível da fé. Nesta expressão, “reino dos Céus” não é o céu como vida do além, mas o reino de Deus (os judeus chamavam a Deus de “os Céus”). Trata-se do reino de Deus entendido como comunidade, contraposta às “portas do inferno”, a cidade do Satanás, que não prevalecerá contra a comunidade da qual Pedro recebe as chaves. Trata-se, pois, de duas cidades que se enfrentam aqui na terra. Pedro é o prefeito da cidade de Deus aqui na terra.
Pedro, respondendo pelos Doze, administra as responsabilidades da fé e da evangelização. Na medida em que a Igreja realiza algo do reino de Deus neste mundo, Jesus pode dizer que Pedro tem “as chaves do reino dos Céus”, isto é, do domínio de Deus. Ele administra a comunidade de Deus no mundo. Quem exerce este serviço hoje é o papa, bispo de Roma e sucessor de Pedro.
Mas já os antigos romanos diziam: o prefeito não deve se meter nas mínimas coisas. Pedro e seus sucessores não exercem sua responsabilidade sozinhos. A responsabilidade ordinária está com os bispos como pastores das “igrejas particulares” (= dioceses). Pedro e seus sucessores devem cuidar especificamente dos problemas que dizem respeito atodas as igrejas particulares. O Papa é o “Servo da Unidade”.
Há quem não gosta de que se fale em “poder” na Igreja; muito menos, no poder papal. Mas quem já teve de coordenar um serviço sabe que precisa de autoridade, pois, senão, nada acontece. No desprezo da “administração pastoral” da Igreja pode haver um quê de antiautoritarismo juvenil. Aliás, os jovens de hoje, pelo menos de modo confuso, já estão cansados do antiautoritarismo e percebem a falta de autoridade. Sem cair no autoritarismo de épocas anteriores, convém ter uma compreensão adequada da autoridade como serviço na Igreja. O evangelho nos ensina que essa autoridade tem um laço íntimo com a fé. Pedro é responsável pelo governo porque “respondeu pela fé” dos Doze.
Por outro lado, se é verdade que Pedro e seus sucessores têm a última palavra na responsabilidade pastoral, eles devem também escutar as “penúltimas” palavras de muita gente. Devemos chegar a uma obediência adulta na Igreja: colaborar com os responsáveis num espírito de unidade, sabendo que se trata de uma causa comum, que não é nossa, mas de Deus. Nem mistificação da autoridade, nem anarquia.

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