segunda-feira, 21 de maio de 2012

Sou tua filha


Oração de uma mulher muçulmana

Mãe, sou tua filha.
Escuta-me esta tarde.
Sinto imensa alegria de estar aqui e falar-te,
de vir aqui e abrir meu coração!
Vais me escutar, não é verdade?
Vais me ouvir sem cansar-te...
Sabes?

Sempre sonhei em ter uma mãe como tu!
Nossas mães africanas são boas, tu sabes...
Mas têm tantas preocupações e se cansam tanto com suas crianças!
Elas as carregam nos ombros e muitas vezes levam um grande cesto na cabeça.

Não podem respirar um minuto!
Tu, ao contrário, és toda para nós...
Talvez estejas mais com teus filhos da África que com todos os outros teus filhos do mundo.

Afinal, não foste refugiar-te no meio de nós quando foste expulsa de teu país?
Poderias ter-te dirigido para o norte, para o leste ou para o oeste...
Mas não, pegaste a estrada do sul e escolheste a África.

Quando preparavas a comida, estavas acocorada como nós, perto do fogo de lenha e de uma panela de barro.
Quando querias um pouco d'água, não tinhas uma bela torneira e tantos utensílios complicados.

Simplesmente ias à fonte e voltavas cantando, com a ânfora no ombro, caminhando como nós, sobre as pedras, com os pés descalços.
E quando José não tinha trabalho, talvez passaste fome como nós.
Por tudo isso, seguramente entendes quanta necessidade temos de ti.

Como os outros teus filhos, até mais do que os outros, temos necessidade de tua alegria, muito diferente do delírio desenfreado de nossas danças, que se prolongam pela noite toda.

Tua alegria vem do trabalho e do silêncio de ti mesma.
Virgem Maria, esta tarde meu coração está cheio de desejos.
Toma-os em tuas mãos de Mãe!
Obrigada!


Madia Kafumbe, Lourdes, outono de 1958,
in JGL, 109, 21, p.3, 1960.

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