quinta-feira, 10 de maio de 2012

Entre a grávida e o feto - Pe. Zezinho, scj


 Pe. Zezinho, scj


O tema "aborto" não é simples, nem fácil de enfrentar. Faz milhares de anos que deixou de ser brincadeira, se é que algum dia o foi. De um lado estão milhões de mulheres que não querem ser mães do feto concebido e que correm o risco de morrer se não o extraírem de maneira higiênica; do outro estão os fetos que fatalmente morrerão com o beneplácito da lei, a partir do momento que os políticos e seus partidos decidirem que interrompê-los não será mais crime!

Como se pode perceber está longe, muito longe de ser apenas assunto de saúde pública. Interromper um feto humano é mais do que questão de assepsia. É sociologia, filosofia, teologia e ascese. Uma vida que se tornou problema será eliminada antes da 10ª ou 14ª semana porque uma junta de estudiosos decretou que ainda não são humanos. Ignora-se o que outra junta de estudiosos e religiosos disse sobre o direito de nascer.

Um falacioso marketing decide carimbar como moderno quem apóia sua extração e ultrapassado e mezozóico quem defende seu direito de vir a ser pessoa. Defender a vida do feto tornou-se conservadorismo e defender a grávida que não o quer é modernidade... Só que tem que adjetivos e apupos não ajudam nem o feto nem a grávida. Nem ela é uma coitada, nem o feto é uma excrescência. Ela que pensa, deve ser ouvida e aconselhada, por menos conselho que aceite, e o feto, que não pensa nem pode pensar precisará de bons advogados. Passar uma lei do tipo "agora pode" não resolve a questão do ventre e da vida que ali se aninhou.

Não há como empurrar o assunto apenas para a esfera do religioso, nem apenas para a esfera do político. Será sempre um tema religioso e político porque se trata de interferir na saúde da grávida, na ascese e na decisão de sofrer por esta vida nova ou interrompê-la porque trouxe problemas.

Não importa qual a definição de vida, de vida humana ou de pessoa, o fato é que no ato do aborto o feto morre. Se for aborto espontâneo, morre por não ter concluído seu curso. Se aborto provocado, morre porque interromperam o seu curso.

Queiramos ou não, o ato de interromper um pequeníssimo ser humano em formação atinge não fica apenas na esfera da saúde: mexe com o sociológico, o filosófico, o teológico e o político. O sociológico porque terá repercussões na sociedade; o filosófico porque forçosamente entramos na conceituação de pessoa e coisa e de vida e morte; o teológico porque mexe com religiosos e ateus na discussão da pertença do feto; o político porque alguém vota e alguém assina que se pode eliminar uma vida e a partir de determinado momento extrair um feto humano não será mais visto como crime!

A grávida que pressiona pelo direito de não ser mãe do feto que gerou e quer fazê-lo sem risco de saúde pensa nos seus direitos políticos e vitais. O feto, que não pode falar e cuja trajetória alguém deseja abortar, tem nos religiosos e em alguns ateus filosoficamente a favor de toda e qualquer vida a caminho, seus grandes defensores. Da mesma forma que os governos oferecem defensoria pública para um pobre incapaz de se defender, deveria oferecer defesa a um futuro cidadão que agora só tem o tamanho de uma unha, mas que já está vivo. Ou um país só deve proteger suas crianças nascidas? Feto ainda não é cria? Se o governo não o faz e diz que não o fará, cabe aos grupos pró-feto e pró-vida do feto debater com os pró-grávida e por saúde da grávida as conseqüências deste ato.

Quem tem direito a esta vida? Quem tem o direito de interromper o seu curso? Pode-se destruir uma semente rara? Pode alguém decretar que, de agora em diante, não será mais crime destruir mudinhas ou sementes de peroba, de sequóia ou de ébano? Se há leis protegendo sementes e mudas afrouxa-se a lei que protege os fetos?

É cidadania pensar na saúde das grávidas. Será cidadania permitir a interrupção do feto? Que tipo de cidadania? Não estamos todos brigando pela preservação da água, das florestas e da vida? E ao mesmo tempo votamos uma lei que interrompe vidas humanas? Sob o argumento de que são apenas um feto? E que filosofia disse que feto ainda não é filho que a grávida de um feto ainda não é mãe?

Viu só como se pode ir longe na discussão? Avançado e progressista por que e no quê? Retrógrado e ultrapassado por que e no quê? Adjetivos não mudam a essência do ato. E o ato é um só: uma vida será interrompida! Feita a escolha o governo, a mulher ou o casal decidem quem morre e quem vive!

Deus? Pois é! Se ele existe ele tem algo a dizer sobre a morte deste feto. Se não existe, existe um fenômeno chamado tempo-futuro que acabará passando sua sentença. É que todo aborto é seguido de um depois! Não é nem nunca será o mesmo plantar e arrancar um pé de açucena!

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